As imagens da última semana com milhares de pessoas a encher a "Avenida dos Aliados" são, sem sombra de dúvidas, impressionantes.
Impressionantes não só pelo número de pessoas presentes mas pela alegria que transbordavam. Outros tempos ali vivi com tanta ou mais gente como esta, mas os sons que então se faziam ouvir não eram gargalhas nem música, mas sim slogans políticos e estados de alma fervorosos em favor da liberdade.
Mas é também de liberdade que se pode falar ao sentir o que hoje se passa na cidade do Porto.
Tal como uma árvore não faz uma floresta, também um presidente de câmara não molda uma cidade. E, como tal, o Porto de hoje é assim fruto de um acumular de riquezas, de obras bem feitas, de obras mal feitas e de obras por fazer.
O Porto é hoje, sem sombra de dúvida, uma cidade que recuperou a sua alegria de viver e de nela viver. Que recuperou o seu orgulho próprio, que grita a pulmões desabridos a sua liberdade e a sua diferença positiva.
Não iria puxar o filme muito atrás, até porque mais vale falar do que "vivenciei" e de certa forma participei do que ir falar do que ouvi dizer.
Fico-me portanto pelos mandatos de Fernando Gomes, Rui Rio e claro agora de Rui Moreira. Todos eles personalidades com maneiras de ser diferentes, todos eles enquadrados em realidades e momentos especiais. E todos nós somos frutos dos momentos e das suas circunstâncias.
Os mandatos de Fernando Gomes ficam positivamente marcados pelo parque da cidade, pelo lançamento do metro, pelo lançamento da capital europeia da cultura. E pela defesa reivindicativa do porto enquanto pólo agregador de uma região. Ao seu lado negativo, e que na altura me encarreguei de politicamente o criticar, muito há a apontar e desde logo um excesso de cumplicidades. E como o Porto lhe serviu para outros voos, que de resto vieram a demonstrar serem errados, acabou por pagar bem caro esta "arrogância" com a sua derrota eleitoral.
Os mandatos de Rui Rio ficam inegavelmente marcados pela eficiência na reorganização dos serviços da câmara, pelas contas em dia ou "à moda do porto" fundamental para o futuro desta cidade. Pela solução de vários problemas nos bairros sociais, Aleixo infelizmente ficou a meio. E também pela melhoria da mobilidade na cidade com avanços fundamentais com o metro. Mas ficam igualmente positivamente marcados pela separação dos poderes autárquicos e futebolísticos. Com o que de bom isso representou mas também com o lado negativo que originou, pois ao criar um corte com um dos principais símbolos da cidade, o FCP, essa sua postura "contagiou" para o relacionamento com outras forças vivas da cidade. Nomeadamente a cultura e animação.
Mas o resultado é francamente positivo, sendo hoje Rui Rio um potencial candidato a PM ou a Presidente da República. E tal só está ao alcance de quem tenha granjeado respeito e reconhecimento de obra bem feita.
E chegamos a Rui Moreira e ao que eu baptizaria como o mandato da "reconciliação".
O porto de hoje é uma cidade una, fruto de várias partes. Aqui respiram os portuenses que aqui vivem, os que para aqui vêm trabalhar e os turistas que a visitam e que são cada vez mais.
Os portuenses, esses, pessoas ou instituições, "libertaram-se" de umas supostas "amarras". Há um sentimento de pertença a um movimento maior do que a cidade. De uma felicidade extrema.
Os teatros estão cheios, os restaurantes idem, abrem hostels como quem come sardinhas no s.joão, a economia sente-se mais vibrante.
É apenas o turismo e animação clamam logo as vozes do restelo. Mas não é só. Graças a um trabalho de todos (autarquias e governo) e de cada um de nós no seu papel, sentimos que temos feito um caminho duro mas reconfortante para sair da crise, seja ela económica ou de valores.
Gritamos pelas vitórias do Mourinho, do Miguel Oliveira, do Tiago Monteiro, da Telma Monteiro, dos surfistas que foram vice-campeões do mundo.....
Afinal não somos tão maus como pensávamos.....
E as gentes do Porto estavam a precisar de sentir essa "reconciliação" com o orgulho de ser tripeiro. E os portugueses já agora também. (saudades das bandeiras nas janelas).
O porto gosta de ver um presidente que joga matraquilhos, que dança na rua, que faz parte da sua cidade. Faz tudo bem? Quem o faz? E decidir é também propício a errar. E só erra quem decide.
O porto fica cansado com tanta actividade do seu vereador da cultura. Prémio merecido o atribuído pela sociedade portuguesa de autores e que o premiou como o melhor vereador da cultura.
Há também as formiguinhas que fazem o seu trabalho, é certo. No futebol chamam-se os carregadores de piano e que assim permitem que os artistas brilhem. E estes têm brilhado.
Para quem sempre defendeu e amou a sua cidade, e por ela se tem sempre batido, é bom sentir essa "reconciliação".
Haverá erros, mas como eu costumo dizer aos que comigo trabalham:
"vamos seguramente errar, mas pelo menos que sejam erros novos".
Era isto em rescaldo de s.joão.
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