Tinha pensado em escrever hoje sobre o circuito da Boavista
mas a carta aberta do Nuno Nogueira Santos no facebook "Salvar o Circuito da Boavista" fez-me redobrar “as vontades” de o fazer.
Faço desde já uma nota prévia: fiz a assessoria mediática do
circuito da Boavista no ano passado o que muito me honrou. Vivi por dentro uma
organização intensa e dedicada. Percebi como uma cidade inteira se animava e se
envolvia. Duas ou três pessoas mais revoltadas e que ano após ano aproveitavam
para aparecer nos jornais. Nada de mais. Possuo informação sobre os valores do
retorno mediático que tanto se fala, mas como isso acontece fruto da relação
cliente-fornecedor não o vou revelar. E sim sou um amante da manutenção do
circuito.
Voltemos então ao circuito da Boavista na ótica de portuense mas também na de quem olha o dia-a-dia pelo prisma da comunicação. Vou fazê-lo por pontos para ser mais fácil a exposição.
Os custos e as receitas deste circuito
Desde a primeira hora que assumi a defesa
do circuito, mesmo que ele acarretasse custos para a autarquia. Não vale a pena
tentar enganarmo-nos. Há eventos que se devem realizar mesmo que representem um
custo. São investimento. E o circuito da Boavista encaixa perfeitamente nesse
perfil. Era importante do ponto de vista de projeção da cidade no exterior, do
assumir de uma marca, de fomentar o turismo e a dinamização do comércio local. E
hoje ainda faz parte de toda uma imagem que foi sendo construída ao longo dos
últimos anos. Ou o Porto virou destino turístico apenas porque as pessoas
acordaram todas injetadas por uma mosca?
Para a imagem positiva do porto contribuíram
os “popós” do Rio, mas também os aviões da red-bull, como contribuíram as obras
no aeroporto ou a construção da casa da música ou a Porto 2001 do Fernando
Gomes. É feita de um somatório de eventos, de ícones arquitetónicos, de
gastronomia, de cultura, de transmissão de afetos e de despertares de paixões. O
porto hoje é um somatório de públicos. Com pés mais descalços ou mais bem calçados.
Todos sabemos que existem custos e receitas
no circuito da Boavista. E em ambas as rubricas encontramos itens mais ou menos
mensuráveis. Se nos concentramos nos mensuráveis diria que o circuito apresenta
custos de organização na casa dos 500 mil euros em compras a fornecedores (valores
que me foram indicados e não sendo eu sabedor por via da relação cliente-fornecedor)
mais todos os que acabam por ser responsabilidade da autarquia pelo
envolvimento dos recursos humanos e físicos da mesma que rondariam os 600 mil
euros. O WTCC representa um custo de 700 mil euros, transmissão inclusive.
Teríamos assim custos globais de 1 milhão e 800 mil euros. Arrendondemos para
cima e ficamos nos 2 milhões.
Ao nível de receitas o circuito gerou cerca
de 600 mil euros por via de patrocínios e bilheteira. Mais os 700 mil euros que
o turismo dava e que pagava diretamente ao WTCC. Sublinhe-se que o Turismo de
Portugal dava e dá outras verbas à cidade e que não se esgotam nestes 700 mil
euros.
Assim teríamos um défice dos 600/700 mil
euros valores que em parte são assumidos “internamente” pela autarquia, sendo
que muitos destes trabalhos acabam por ser benefícios na via pública, custo de
horas de trabalhadores que terão que ser sempre pagos e de imobilizado que
agora ficará arrumado num armazém da câmara sem utilização. Ao menos que os
cedam a Vila Real.
Se fossemos agora olhar para os custos e
receitas não mensuráveis diria que estas são bem maiores do que os custos.
Existem transtornos para os moradores? Sim existem. Mas não existem outros tantos
com o Primavera Sound? Ou com a queima das fitas? Ou com as maratonas? Ou com o
S. João. Sim existem. Não há belas sem senão.
E do lado das receitas não mensuráveis? A
tal mediatização além-fronteiras com a transmissão da eurosport? Imagens fantásticas
que passaram no mundo inteiro. E repetições em muitos e muitos outros canais. Era
só ver a lista de credenciais passadas a jornalistas estrangeiros. Apenas
interessa olhar para elas quando nos convém ou vamos descobrir que existem as “boas
e as más”?
E as receitas indiretas? Quantos estrangeiros
aqui chegavam para ver as corridas? Mais ou menos do que traz o Primavera
Sound? Admitamos que menos. Mas com mais ou menor poder de compra? Aqui claramente
com mais, pois basta olhar para o cartaz do Primavera Sound e visitar o recinto
para perceber que são muitos os que aqui chegam mas pouco o que aqui vão deixar.
Ou mesmo muito pouco. Mas o circuito é importante como importante é o Primavera
Sound ou o S. João. Uma vez mais o somatório de públicos é que farão do Porto
uma cidade a visitar. Uma cidade cosmopolita. Quantos mais chegarem melhor. A
economia e a iniciativa privada encarregar-se-á de dar resposta e criar mais
camas. Ou alguém acha que é ao contrário?
Mas e o circuito sem WTCC?
A outra grande questão é porque não manter o circuito da
Boavista mesmo sem a realização do WTCC? Se não há dinheiro do turismo não há WTCC.
Certo e ninguém discutia o assunto.
Mas o 1º fim de semana e parte do 2º podiam perfeitamente ser
realizados. Ou não?
Eu sou defensor da prova em dois fins de semana de forma a
maximizar o investimento feito. E atenção que a presença do WTCC implica um
caderno de encargos mais exigente e que a sua não realização poderia assim
permitir algumas poupanças.
Voltemos então aos custos e às receitas. Admitamos por bom
que haja um ligeiro baixar de custos, mesmo que insignificante pois o grosso
tem que se manter. Eu arriscaria a dizer que as receitas pouco baixariam pois
os patrocínios eram todos de marcas portuguesas e poucas com “vocação de
internacionalização” e como tal não era a Eurosport que lhe interessava, e a
bilheteira não acredito que tenha tido um peso muito grande, pois infelizmente
os portugueses estão sempre à espera de uma borla. E assim iria acontecer no
futuro.
Como ficaria agora o deve e o haver? Bem mais equilibrado.
Como consegue Vila Real suportar estes custos
Tal como Nuno Nogueira Santos também eu me questionei sobre
a capacidade financeira da câmara de Vila Real para suportar o WTCC. Terá
conseguido reduzir os custos? Conseguiu reunir apoios privados? Resolveu
apostar na dinamização da cidade através de uma aposta de alto risco? Envolveu
concelhos vizinhos?
Pelas notícias que têm vindo a público o WTCC tem colocado
algumas condições contratuais e de logística, nomeadamente ao nível do número
de camas disponíveis para o “circo” que o compõem. 500 camas é o que se fala.
Vila Real não tem. Terá que ser num raio alargado de cidades. O Porto será
seguramente uma delas a beneficiar. Como toda a região duriense.
Será que o circuito da Boavista não representava também um
ganho para Matosinhos e Vila Nova de Gaia? Se houve conversas não sabemos. Se ninguém
se tinha lembrado aqui fica a dica, que mais vale tarde do que nunca.
Conclusão
Como referi sou um defensor do circuito da
Boavista. Tenho muito pena que ele tenha sido interrompido. Sim, interrompido, porque
nada na vida é definitivo para além da morte.
A decisão tomada foi política/financeira e
a autarquia está no seu perfeito direito de a tomar. Se considerou que não era
estratégico para a cidade apenas podemos discordar mas nunca questionar a sua
legitimidade. Mas a autarquia deve assumi-lo com frontalidade e não arranjar
como bode expiatório os 700 mil euros que o turismo e o governo central deixaram
de dar. Pois a verba que o turismo disponibiliza até aumentou mas, em acordo
com a autarquia, foi redirecionada para outros apoios diretos e o melhor
exemplo disso mesmo é a subvenção à base da Easy Jet.
Pode voltar a haver vontade política de fazer
renascer o Circuito da Boavista e voltarmos a ter os carros a roncar na Av. da
Boavista.
Perceber que se errou e emendar é sinal de
inteligência e grandeza humana. E eu considero o atual presidente um homem
inteligente. Tenhamos por isso esperança.
Esquece isso pá e topa-me esta cena: Todo o apoio à petição pública em curso:
ResponderEliminarPetição para que Jorge Sampaio se recandidate e Indulte José Sócrates
Jorge Sampaio enquanto Presidente da República indultou Otelo Saraiva de Carvalho; pode muito bem indultar Sócrates. Coragem não falta ao velho leão. Vamos apoiar a ideia lançada por António Costa da recandidatura de Jorge Sampaio.
Tal como a carta aberta do Sr. Nuno Nogueira Santos, o seu texto elucida bem os mecanismos que estão por detrás de um evento desta envergadura (Circuito da Boavista). Estou em crer que todos faremos, cada um de nós à sua escala, de tudo para que as corridas regressem à Cidade do Porto em força, com ou sem WTCC.
ResponderEliminarNAO BAIXAREMOS OS BRAÇOS
ResponderEliminarComecei a lêr interessado. Mas tanta concordância com o falfadado acordo ortográfico, tirou-me a vontade de prosseguir. Fico por aqui.
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