Fomos um mar de gente a desfilar pelas ruas de Lisboa em defesa da vida hoje! Fomos milhares, sem entrar no delírio sindical de contagem de cabeças em cada manife ou greve. A imprensa escolheu outros assuntos bem mais candentes do que a vida humana e tentou apagar esta impressionante revolução pacifica. É o mundo em que vivemos. As não-noticias sobrepõe-se à realidade.
Por gentileza e generosidade da organização, fui convidado a falar a esta multidão. Deixo-vos as palavras que lhes disse.
Quando me desafiaram a dirigir-vos estas palavras, pensei em
dizer-vos: Nós temos um sonho!
Dada a estatura, a vida, de quem proferiu esta frase
originalmente, não me sinto à altura de o fazer. Mas, olhando para nós,
pensando no que fazemos aqui hoje, não hesito em comparar-nos a cada um dos que
marchou ao lado de Martin Luther King contra o preconceito, contra a injustiça
e a favor dos direitos humanos. Na altura, mulheres, homens e crianças como
nós, tinham menos direitos por causa da cor da sua pele. Hoje, o bebé na
barriga da mãe, o ser humano em formação, a vida já gerada, tem o seu direito a
existir limitado porque não tem voz. É preciso que sejamos nós, todos nós a sua
voz!
Fazemo-lo pacificamente, fazemo-lo com enorme convicção,
fazemo-lo com a alegria que só o dom da vida inspira!
Fazemo-lo porque não entendemos, não é possível entender,
que o mesmo Estado que enfrenta o drama do inverno demográfico, seja o mesmo
Estado que usa o dinheiro dos contribuintes numa política de aborto sem
critério nem controlo.
Fazemo-lo porque não é possível continuar a equiparar o
aborto à maternidade. O aborto é a negação, a interdição da maternidade. Não
faz sentido que esta prática que vai contra os mais elementares direitos, e
atenta contra o interesse geral da sociedade, seja contemplada com direitos e
regalias que só fazem sentido na maternidade.
Fazemo-lo porque não ignoramos a elevadíssima taxa de
reincidência de aborto nas mulheres que recorrem a esta prática. O que prova a
banalização que prevíamos, o que sublinha a realidade de mulheres abandonadas à
sua sorte, a negarem a sua natureza, a acumularem episódios de vida
traumáticos, a destruírem a sua saúde, a porem em risco a sua própria vida.
Fazemo-lo porque sempre acreditamos, e hoje a ciência
prova-o, há em cada aborto uma vida humana que é negada. Que se perde no livre
arbítrio de um adulto, que na maior parte das vezes está condicionado pelas
circunstâncias no seu discernimento sobre o acto irreversível que pratica.
Fazemo-lo porque queremos mais medidas de apoio à família,
queremos apoio eficaz às mães e pais em dificuldade. Queremos que a grávida sob
pressão, em dificuldades, encontre na sociedade e no Estado acolhimento,
respostas e enquadramento que a possam ajudar a construir o seu projecto de
vida. Passa por aqui, exigir que o chamado consentimento informado o seja de
facto. Que a mãe, o pai, os intervenientes do processo tenham conhecimento de
todos os riscos e consequências do grave acto a que se propõem, riscos para
eles pelo terminar da vida do filho que abrigam e que uma ecografia pode
facilmente mostrar.
A nossa marcha é uma marcha de paz. É sinal visível de uma
revolução tranquila.
Somos portugueses.
Fomos pioneiros na abolição da escravatura, quando tantos
diziam: “Mantenha-se! Os estados fortes todos a mantêm!”
Fomos pioneiros na abolição da pena de morte, quando tantos
diziam: “É essencial! Os estados modernos precisam de ordem, a pena de morte
garante-o!”
O aborto é um sinal, um mau sinal, de um tempo passado. É um
excesso de uma revolução que dizia querer libertar a mulher e paradoxalmente
lhe garantiu esta via que só conduz à dor, ao sofrimento, ao abandono. É um
sinal de um tempo em que a ignorância da ciência de então, permitiu fazer da
moral e da ética tábua rasa em nome de princípios de uma revolução que ao
contrário da tranquilidade da nossa, se pautou pelo excesso, pela amargura,
pela desconstrução social. É um sinal que hoje, em tantos e tantos casos, é uma
forma de chantagem, de pressão, de clara violência sobre as mulheres.
A nossa revolução, a revolução de que vos falo, é a da
conquista do futuro! Se a sustentabilidade é palavra de ordem, a família é o
pilar de toda a sustentabilidade.
Se a ecologia é palavra de ordem, toda a vida deve ser
preservada!
Se a ciência deve ser tida em conta, ela mostra-nos hoje
claramente o ser humano que somos desde o início!
Se a paz é um imperativo social e ético, todas as formas de
violência sobre o ser humano devem ser evitadas, sobre os filhos que ainda não
nasceram e sobre as mães desesperadas!
Se o mundo se empenha em melhorar, só com a consciência
profunda do valor da vida, o fará!
Abandonemos os dogmas velhos e redutores do passado!
Nós estamos aqui pelo futuro!
O futuro só valerá a pena enquanto celebração da vida!
Viva a vida!
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