quinta-feira, junho 05, 2014

Por que a economia não cresce? V - Um exemplo social (educação)


A educação é um suporte vital ao desenvolvimento tecnológico e ao crescimento da economia. No tempo da outra senhora, o nível de analfabetismo era demasiado elevado, a escolaridade obrigatória limitava-se a 4 anos de instrução primária, o liceu já só era acessível a alguns e as universidades a muito poucos. Em alternativa ao liceu havia ainda escolas técnicas que preparavam profissionais para determinadas operações, mas cuja base teórica era fraca o que dificultava a posterior evolução das competências que o progresso da tecnologia exigiam.
 
O novo poder saído da revolta militar tudo logo quis mudar. Mas ao invés de incentivar um forte crescimento gradual no acesso ao ensino e de melhorar o ensino profissional, adaptando-o às necessidades duma economia moderna e aos anseios de muitos jovens, acabou simplesmente com este por complexos classicistas e decretou que só o liceu era igualitário e que este assim passava a ser obrigatório e à borla para todos. E, uma vez mais, JÁ!
 
O que tudo foi fácil riscar num papel. Só quando no dia seguinte os pais começaram a perguntar como e onde é que repararam que não havia escolas, nem materiais e, muito menos, professores para tanta gente que de repente ficava abrangida por tão dilatada obrigatoriedade.
 
À boa maneira portuguesa tudo se resolveu em meia bola e força. Arranjaram-se barracões e contentores, alguns materiais básicos e contrataram-se desempregados, ou com emprego modesto na economia, que nisto viam a oportunidade de um emprego seguro no estado, para fazerem de professores.
 
Em resultado desta repentina massificação do ensino secundário, que de um dia para o outro passava do 8 para o 80 e perdia a opção do ensino profissional, o nível de qualidade do liceu baixou assustadoramente. Como o liceu ficou assim impossibilitado de cumprir a missão de preparar alunos universitários, as universidades tiveram de descer vários degraus para poder acolher os que, vindos dele, lhe batiam à porta, além de ter sido forçada a limitar-lhes o acesso por falta dimensão capaz. O que tudo provocou igualmente uma enorme baixa no nível de qualidade do sequente ensino universitário.
 
Tudo isto conduziu ainda a uma parola convicção de que o papelinho de curso dava agora aos novos diplomados um estatuto social incompatível com o emprego que a pobre economia então dispunha, ao mesmo tempo que esta se queixava da sua falta de qualificação para apoiar o seu desenvolvimento e crescimento.
 
Como quase todos tinham filhos, quase todos alegavam saber da poda. Todos os anos havia acalorada discussão e todos os anos eram introduzidos remendos, muito também ao sabor dos políticos em cada ano no poder, o que gerava ainda mais confusão no sistema e em nada ajudava a pobre economia. Felizmente que a coisa tem vindo a melhorar em termos de saber, posto que no tocante a saber-fazer ainda deixe muito a desejar.
 
Também aqui o suporte à economia foi apenas o que a política quis ou permitiu ser!

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