Porquê
então? O que a impede?
Será
a globalização? Será o euro? Será o custo energético? Será a dívida e o crónico
défice? Será a UE ou a Sr.ª Merkel? Será, na palavra da moda, a crise? Será
tudo junto e algo mais?
Cuido
que, embora circunstâncias destas possam sempre afectar mercados, logo a
economia, mais não são que problemas ou situações conjunturais. A economia é um
processo dinâmico. Uma economia saudável sempre reage e se adapta às evoluções
conjunturais, encontrando o caminho da continuidade, do progresso tecnológico e
do crescimento.
O
problema é que a nossa economia não é saudável. Nem nunca o será enquanto não
se conseguir libertar das garras das elites partidárias que lhe sugam o sangue.
É,
pois, condição base que estas elites deixem de concentrar o poder político,
permitindo a sua real descentralização e que deixem de interferir abusiva e directamente
na economia, permitindo o seu normal desenvolvimento. Ao Estado o que é do
Estado e à Economia o que é da Economia. Que as instituições económicas passem
a estar ao serviço da economia e não dos interesses das mesmas elites. Que o
estado cumpra a sua missão de a regular e de lhe prestar serviços de qualidade.
Em resumo, que a democracia seja efectivamente transportada do papel para a
vida e os partidos postos apenas ao seu serviço, garantindo-lhe o imprescindível
pluralismo.
Como
tal poderá acontecer é pois a questão central. Há quem argumente que apenas por
via duma revisão constitucional. Ou tão só pela revisão do sistema eleitoral.
Ou ainda por mais limitações de mandatos. Ou mesmo por uma maior regulação de
interesses conflituantes.
Tenho
para mim que nestas coisas não há respostas, mas tão só percursos. A democracia
também é um processo dinâmico e em permanente evolução. Uma democracia evoluída
é a que consegue criar e consolidar formas de contrariar e de limitar os abusos
do poder. Alguns remendos legislativos poderão ajudar, mas tudo terá de porvir
em primeiro lugar da pressão social sobre as elites políticas.
Neste
particular, sentem-se positivos indícios no ar. Desde logo o pessoal já começou
a tomar consciência que a presente crise tem origem nos desmandos das elites
políticas que nos têm desgovernado e a perceber que a factura da “obra feita”, com
que lhe compravam os votinhos, a final lhe foi cair nos bolsos. Voltando a
sentir que o voto já poderá alterar algo, vai saltando da abstenção para branco/nulo
ou para pequenos partidos de protesto.
Mas
a crise trouxe ainda a vantagem de estreitar os percursos possíveis, assim limitando
as guloseimas às mesmas elites partidárias. Um claro sintoma disto é-nos dado pelos
chamados barões, baronesas ou baronetes das elites partidárias, que
publicamente vemos hoje de mãos dadas a vociferar contra tudo o que lhes faz
recear pela não recuperação das benesses e influências do passado. Quem há 3
anos poderia imaginar Marques Mendes e João Semedo, Soares e Jerónimo de Sousa,
Bagão Félix e António Seguro, Ferreira Leite e Sócrates, Marcelo e Louçã, António
Costa e Pacheco Pereira, todos em uníssono contra a actual governação?
Outro
sintoma está ainda patente na presente luta de galos no PS em que as suas velhas
elites, percebendo que o bolo está a ficar reduzido, tentam desesperadamente
garantir fatias para si, aliciando para tanto as suas bases de apoio com a perigosa
ilusão que, com eles, a distribuição de benesses do estado poderá ser continuada
e o inerente endividamento poderá ser facilitado, tanto pela renegociação como
pela europeização da dívida.
O
mesmo faz P. Portas quando anuncia a saída da troika como o novo 1º de Dezembro.
Claro que, num país em que mais de metade da população come à mesa do orçamento
do estado, tudo isto é ainda um risco. Mas, como esta crise também afecta o
euro, igualmente este risco, para além dos limites das reformas internas já
produzidas, começa ainda a ficar balizado pelas recentes reformas europeias, tanto
no controlo do sistema financeiro como o tratado orçamental.
O
caminho a percorrer será duro e lento, pois mesmo que a democracia evolua, a
economia tem ainda de ultrapassar os desmandos do passado, nomeadamente o peso
das dívidas que as elites partidárias sobre ela fizeram recair e a sua pequena
dimensão, resultante do empobrecimento a que a foram sistematicamente condenando.
Mas
se a política assim o permitir, a economia acontecerá!
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