segunda-feira, junho 02, 2014

Por que a economia não cresce? IV - Um exemplo no mercado (arrendamento)


Todas as ditaduras procuram sempre ter alguma base de apoio popular, a quem por vezes vão dando algumas benesses que sobram dos seus fartos pratos. Uma que assim foi dada a boa parte da população citadina de Lisboa e do Porto foi a dum congelamento de rendas que as protegesse de uma certa inflação. Mas ao fazê-lo, o poder político intervinha directa e abusivamente no mercado de arrendamento, naturalmente deturpando-o.
 
Após a queda do regime, o novo poder político que se instalou, e cujos atropelos logo fizeram disparar a inflação, ao invés de corrigir esta anomalia decretou a sua extensão a todo o país. Com esta grosseria matava por completo o mercado de arrendamento e confiscava também para si todos os prédios então existentes no mercado (além de matar muitos complementos de reforma, na altura magra, dos que nesse mercado haviam investido a poupança de uma vida de trabalho, e não só).
 
Mas este confisco, comparado com o feito a empresas, banca e seguros, tinha algo de mais perverso. É que era subtilmente encapotado, pois que deixava aos confiscados o título de propriedade, título este que depois o poder usava para lhes enviar umas facturas de obras, assustadoramente empoladas por efeitos da super inflação (que em 1984 atingiu 29,5%).
 
Muitos dos beneficiários deste confisco, não satisfeitos com tamanha benesse, ainda aproveitaram para a dilatar, seja comprando ao preço da chuva o título de propriedade da casa confiscada para depois o revender num mercado imobiliário entretanto em alta, seja cobrando caro ao confiscado a libertação do confisco que o beneficiava.
 
O resultado da destruição deste mercado pelo poder político foi a todos os níveis desastroso. Os prédios eram deixados ao abandono, a confiança para investir em novos arrendamentos perdeu-se e encontrar casa para arrendar passou a ser mais difícil que agulha em palheiro.
 
Para satisfazer as necessidades de habitação, uma vez mais ao invés de corrigir os erros e de repor o funcionamento normal do mercado, o poder passou então a usar em seu favor os bancos também confiscados para vender ao pessoal hipotecas com juros à roda dos 25%. Ao corrigir erros com novo erro fez ainda com que a economia se endividasse desmedida e desnecessariamente, tanto internamente as famílias e as empresas, como externamente os seus próprios bancos. Com a gradual reversão da inflação pós 1984 a compra de casa própria ainda foi mais incentivada e, com a chegada do euro e do juro barato, foi um ver se te avias.
 
Foi necessário aguardar anos e anos até que chegasse uma troika e nos gritasse: Parem com essa loucura e reponham o mercado de arrendamento a funcionar!
 
Também aqui a economia foi apenas o que a política quis ou permitiu ser!

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