Todas
as ditaduras procuram sempre ter alguma base de apoio popular, a quem por vezes
vão dando algumas benesses que sobram dos seus fartos pratos. Uma que assim foi
dada a boa parte da população citadina de Lisboa e do Porto foi a dum
congelamento de rendas que as protegesse de uma certa inflação. Mas ao fazê-lo,
o poder político intervinha directa e abusivamente no mercado de arrendamento, naturalmente
deturpando-o.
Após
a queda do regime, o novo poder político que se instalou, e cujos atropelos
logo fizeram disparar a inflação, ao invés de corrigir esta anomalia decretou a
sua extensão a todo o país. Com esta grosseria matava por completo o mercado de
arrendamento e confiscava também para si todos os prédios então existentes no
mercado (além de matar muitos complementos de reforma, na altura magra, dos que
nesse mercado haviam investido a poupança de uma vida de trabalho, e não só).
Mas
este confisco, comparado com o feito a empresas, banca e seguros, tinha algo de
mais perverso. É que era subtilmente encapotado, pois que deixava aos
confiscados o título de propriedade, título este que depois o poder usava para
lhes enviar umas facturas de obras, assustadoramente empoladas por efeitos da
super inflação (que em 1984 atingiu 29,5%).
Muitos
dos beneficiários deste confisco, não satisfeitos com tamanha benesse, ainda
aproveitaram para a dilatar, seja comprando ao preço da chuva o título de
propriedade da casa confiscada para depois o revender num mercado imobiliário
entretanto em alta, seja cobrando caro ao confiscado a libertação do confisco
que o beneficiava.
O
resultado da destruição deste mercado pelo poder político foi a todos os níveis
desastroso. Os prédios eram deixados ao abandono, a confiança para investir em
novos arrendamentos perdeu-se e encontrar casa para arrendar passou a ser
mais difícil que agulha em palheiro.
Para
satisfazer as necessidades de habitação, uma vez mais ao invés de corrigir os
erros e de repor o funcionamento normal do mercado, o poder passou então a usar
em seu favor os bancos também confiscados para vender ao pessoal hipotecas com
juros à roda dos 25%. Ao corrigir erros com novo erro fez ainda com que a
economia se endividasse desmedida e desnecessariamente, tanto internamente as famílias
e as empresas, como externamente os seus próprios bancos. Com a gradual reversão
da inflação pós 1984 a compra de casa própria ainda foi mais incentivada e, com
a chegada do euro e do juro barato, foi um ver se te avias.
Foi
necessário aguardar anos e anos até que chegasse uma troika e nos gritasse:
Parem com essa loucura e reponham o mercado de arrendamento a funcionar!
Também
aqui a economia foi apenas o que a política quis ou permitiu ser!
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