quinta-feira, maio 29, 2014

Por que a economia não cresce? III - Roma e Pavia não se fizeram num dia


No pós-guerra a perdedora Alemanha ficou impedida de ter forças armadas. Quando mais tarde as voltou a ter perguntava-se como piada: qual o modo mais barato de obter um F16? Dizia a resposta que era comprar 100 m2 de terreno na Alemanha e esperar que ele caísse. É que no entretanto a tecnologia guerreira tinha evoluído imenso, evolução que naturalmente não havia sido acompanhada pelos pilotos alemães.
 
A economia também não muda de um dia para o outro, antes terá de evoluir sob pena de ficar condenada ao destino dos F16 alemães. Mas para evoluir necessita de prévias condições políticas básicas. O que era suposto que um novo regime por cá logo começasse a criar. Todavia:
 
A revolta do vinte-e-cinco-barra-quatro teve enorme e imediato apoio popular. Todos queriam pôr termo à ditadura, à exploração e à guerra.
 
O dia foi de união e de festa.
 
No dia seguinte todos queriam também a liberdade de decidir o futuro. Mas todos tinham uma visão diferente para este futuro e até as revoltosas forças armadas insistiam em ter algumas. Pior, todos achavam que só a sua é que era a boa. Pior ainda, como não havia experiência nem tradição democráticas, todos queriam impor a sua.
 
O 2º dia já foi de desunião e de lutas internas.
 
O pessoal decidiu então que não queria saber da necessária evolução e exigiu o futuro de imediato. JÁ! como então se dizia. A confusão foi total. Fez-se uma descolonização atabalhoada e as instituições políticas e económicas foram tomadas de assalto. Mercados, empresas, terras, casas e jornais também. Empregos e salários foram artificialmente inflacionados. Como resultado a pobre economia definhou assustadoramente. Culpando esta, os assaltantes do poder confiscaram-lhe uma enorme e importante fatia para si próprios.
 
No meio da confusão ainda foi feita uma nova Constituição, posto que impregnada dum forte cariz ideológico que garantia ao novo poder a manutenção do confisco da economia em seu favor. De facto, e entre outros, assim rezava esta Constituição de 1976:

ARTIGO 83.º
(Nacionalizações efectuadas depois de 25 de Abril de 1974)
1. Todas as nacionalizações efectuadas depois de 25 de Abril de 1974 são conquistas irreversíveis das classes trabalhadoras.
2. As pequenas e médias empresas indirectamente nacionalizadas, fora dos sectores básicos da economia, poderão, a título excepcional, ser integradas no sector privado, desde que os trabalhadores não optem pelo regime de autogestão ou de cooperativa.

(felizmente que a palavra irreversível tem para os nossos políticos um sentido antagónico, como nos ensina P. Portas)

Mais, com este confisco os preços deixaram de ser fixados pelo mercado e passaram a sê-lo politicamente. Mais ainda, esta moda dos preços políticos foi também imposta a uma grande parte das tais pequenas e médias empresas que o poder fez o favor de deixar na economia, ao mesmo tempo que lhes impunha uma factura laboral bem pesada e que neles só parcialmente podia ser repercutida, assim as condenando à morte.

Com tudo isto o novo poder político de então não só desferia um rude e duro golpe sobre uma pobre economia que já quase não o era, como desincentivava o investimento, a criatividade e, por conseguinte, o seu crescimento. A única coisa que neste período registou algum crescimento foi um certo turismo de mochila às costas e boina à Che Guevara.

Uma vez mais a economia foi apenas o que a política quis ou permitiu ser!

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