segunda-feira, janeiro 28, 2013

Porta-vozes caseiros


Sergueï Magnitski era um jovem advogado russo de 36 anos que descobriu e denunciou, em 2008, uma fraude fiscal de 130 milhões de euros envolvendo a polícia e as próprias autoridades fiscais da Rússia. Foi imediatamente preso preventivamente pelas autoridades que denunciara e durante oito meses penou numa prisão moscovita onde foi repetidamente humilhado e sovado, perdendo 20 kilos. Finalmente, foi lançado de mãos e pés atados no chão de cimento de uma célula fria para aí ser pontapeado até à morte. O relatório oficial diz que morreu “por negligência”.

Hoje, inicia-se nos tribunais de Moscovo um processo post-mortem, em que ele é acusado de ... fraude fiscal (!). Na semana passada, um jornalista mais afoito perguntou ao Putin júnior, um tal Medvedev que foi a Davos botar discurso, se achava normal processar um morto e se não seria mais curial investigar como é que Magnitski morrera na prisão, ao que o dito júnior respondeu que o caso não interessa a ninguém.

Eu não tenho categoria para ser convidado para Davos e tampouco tenho cartão de imprensa que me dê acesso a essas conferências, mas lembrei-me que aqui perto temos um funcionário do Sr. Putin sénior que conhece bem os hábitos russos e os corredores moscovitas e que é, nem mais nem menos, o Cônsul da Rússia aqui no Porto.

Por isso aqui vai.

Ó Sr. Eng° Couto dos Santos, digno deputado da nação, insigne militante do PSD e porta-voz do candidato de Gaia à Câmara do Porto: V. Exa. é capaz de nos explicar porque é que uma pessoa em prisão preventiva na Rússia é espancada até à morte e depois ainda lhe movem um processo penal? V. Exa. consegue explicar-nos porque razão não houve um inquérito ao acontecido a Magnitski na prisão? V. Exa. sente-se confortável em acumular com as suas respeitáveis funções nacionais e locais o papel de porta-voz dos interesses de um regime de corruptos e mafiosos como é o regime russo de Putin?

Muito agradecido.

2 comentários:

  1. Sem comentários mesmo, caro Francisco

    Abraço
    AM

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  2. Excelente post, de que citei parte lá no meu boteco.

    Lembra-me isto "uma pessoa em prisão preventiva na Rússia é espancada até à morte e depois ainda lhe movem um processo penal" a famosa frase de De Custine no seu La Russie en 1839: aquele tipo de silêncio russo, «silence superflu por assurer le nécessaire».

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