sexta-feira, janeiro 11, 2013

Mais um pouco de estado de negação

Separemos os problemas, embora eles estejam interligados:

1. A economia não cresce há mais de 10 anos. É complexo isolar razões, mas a que me parece mais forte é a falta de competitividade da nossa economia. Essa competitividade está relacionada com a produtividade, eficiência e inovação da economia (há, no entanto, excelentes exemplos do contrário, são é poucos). Será mais polémico também dizer que nos últimos 10 anos vivemos para nós, aproveitando o crédito barato e a ilusão de uma vida que nos custava mais do que podíamos pagar.

2. A economia é estruturalmente desequilibrada. O que produzimos é menos do que o que consumimos. Isso levou-nos importar o que nos falta. Essas importações não foram compensadas por exportações o que nos levou (empresas e particulares) a contrair uma enorme divida ao exterior (via bancos). Essa divida limita a nossa capacidade de investimento. É por isso que vemos hoje estrangeiros a comprar empresas e imóveis em Portugal.

3. O Estado gasta mais do que os impostos que cobra, o conhecido deficit, e tem-no feito nos últimos 40 anos com especial relevo para o últimos 6. Isto produziu uma divida que nos levou à troika, já que quem nos empresta deixou de o fazer porque tem muitas duvidas que consigamos pagar o que devemos. Essas duvidas decorrem exactamente do facto de o Estado continuar a gastar mais do que o que cobra em impostos.

O relatório do FMI apenas se centra sobre o ponto 3. E muito especificamente na componente dos gastos do Estado. Três perguntas para nos simplificar a análise:

Pergunta 1: Queremos baixar os gastos do estado? 
Pergunta 2: Para os que respondem não, a pergunta seguinte é que impostos queremos subir?
Pergunta 3: Para os que respondem sim, a pergunta será que gastos do estado vamos cortar?

O relatório do FMI centra-se na ajuda à resposta a esta 3ª pergunta, assumindo que não queremos subir mais os impostos (até os quereremos descer no futuro). 

Ainda sem emitir qualquer opinião sobre o que vem no relatório, insisto que vale a pena levá-lo a sério. Estão lá muitas propostas. Mais propostas do que a necessidade de cortes no estado, exactamente para que possamos avaliar e decidir. Podemos escolher o que fazer. Podemos escolher fazer outros cortes que não estejam no relatório.

Por isso, destacar uma proposta isolada do FMI sem enquadramento é colocar emoção na discussão. O que, neste caso, significa inviabilizar a discussão. Os jornais não têm feito outra coisa senão colocar em titulo as propostas mais "radicais".

Ainda, ficar zangado e verbalmente agressivo pelo simples facto de se discutir as propostas que estão no documento é uma atitude que também é contrária à busca de soluções. A esquerda não tem feito outra coisa. A extrema esquerda na sua lógica "norte-coreana" indigna-se pelo simples facto de alguém considerar qualquer das propostas. Se pudessem proibiam que fossem discutidas, numa interpretação muito própria da liberdade de expressão.

Temos de acabar com esta ideia que há soluções sem dor. Havia há 10 anos se tivéssemos feito o nosso trabalho de casa. Hoje não há. Só há soluções dolorosas e há soluções que, ainda assim, doem menos hoje do que irão doer amanhã. Por isso temos de fazer, medir impactos, pensar nas pessoas afectadas. Mas temos mesmo de fazer. O estado de negação em que nos encontramos tem de ser contrariado. Se nada fizermos vai ser ainda pior.


9 comentários:

  1. Lucidez e clarividência. Parabéns.

    Alexandra Mª Resende

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  2. Admiro a capacidade do autor em arrumar tudo com clareza e num esforço sincero de ser o mais objectivo possìvel. Chapeau!

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  3. Nem vale a pena tentar argumentar com os defensores deste governo/políticas, que já demonstraram o que valiam em devido tempo no Chile de Pinochet.

    A similaridade mais próxima que encontro é com a forma como os fanáticos benfiquistas defendiam Vale e Azevedo quando este era o "seu" presidente.

    Como ocorreu com estes apenas aceitarão a realidade quando esta lhes cair encima.

    Patético.
    AM

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    1. O tema é politico e não futebolistico, pelo que o V.A. e os Benfiquistas não fazem aqui falta.
      Mas se quiser peixeirada, eu tenho muito a dizer do vosso corrupto assumido!!!!!!!!

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  4. Totalmente de acordo com o teor do tema.

    O problema deste País é termos um Estado muito gordo e bem pago.
    Os ordendos dos funcionários Públicos é bem maior que os privados...e são os privados com os seus impostos que pagam TODOS os funcionários Públicos e a despesa pública

    Os funcionários engordam o funcionalismo publico à media que entram noos governos a desgovernarem-nos. Todos os coladores de cartazes e jotinhas anseiam por um poleiro bem pago e...PARA TODA A VIDA.
    Muita coisa há a mudar.
    Tantos o Passos como os Seguros que lhe vão suceder, se concorresem a um lugar de chefe de secção de uma qualquer Multinacional reprovariam e no entanto...governam-nos!!!

    Nos ultimos 18 anos, fomos durante 15 anos governandos pelos XUXILIASTAS, que muito bem sabem governar-se com o dinheiro alheio.

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  5. Obrigado ao Viriato por ajudar a demonstrar o meu ponto de vista.

    Para quem souber ler:

    "Quem semeia ventos..."

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  6. O País real (ainda ilusionado pela Esquerda politicamente correcta) não quer sair nem que ninguém saia do Estado de negação. Discutir com realismo, identificando a situação actual, comparando com países semelhantes, e identificando caminhos não faz parte do racional da esquerda.

    Enfim, os melhores jovens já desistiram do País e mandam cumprimentos

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  7. um pouco simplista demais, mas passa por aqui... eis algo escrito de forma tangivel para entendimento comum, tarefa q por vezes parece nao interessar fazer a quem tem obrigacoes neste capitulo. bom trabalho. CGA

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  8. eu, pelo meu lado, não nego nada do que dizes.

    Um abraço

    JAC

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