quarta-feira, janeiro 09, 2013

Estado de negação

Sempre que somos confrontados com algo que é contrário ao que desejamos ou acreditamos, dizem os entendidos, que isso gera um comportamento que pode passar por 4 fases distintas. Normalmente a negação vem e primeiro lugar, seguida da raiva, depois o desanimo ou desilusão e só por fim a aceitação. Só depois da aceitação somos capazes de reagir de forma racional. Só nessa altura é que conseguimos começar a construir.

Pego nisto porque é assim que vejo Portugal nos dias de hoje. Um país que se vê confrontado com uma realidade de que não gosta, que se pudesse, evitava. Uma realidade, no entanto, que acontece de qualquer das formas. Uma realidade que se vai tornando mais difícil exactamente porque o país a evita num racional de que estamos a passar uma crise e que depois dela tudo voltará ao "normal".

Vejo assim o país que tem acesso aos media, com uma enorme dissonância entre o que deseja e a realidade com que se vê confrontado. Essa dissonância gera um comportamento colectivo que passa da negação à raiva e volta novamente à negação. Mas que poucas vezes vai ao desânimo e nunca à aceitação. Ora, só a partir da aceitação é que começamos a construir e a sermos donos do nosso próprio destino.

É o que vejo hoje com as reacções ao relatório do FMI. Um relatório feito por uma entidade que não vai a votos em Portugal e que nos apresenta uma série de propostas que devíamos pelo menos estudar e considerar. Não estou sequer a apoiar ou não estas propostas. O que me parece é que considerá-las, pensar nelas é aceitarmos a realidade e começarmos a construir.

Infelizmente, a esmagadora maioria das pessoas com acesso aos media partem da premissa que o que estamos a passar é uma crise. Por definição uma crise é algo conjuntural, algo que depois de passar (como uma tempestade) nos leva novamente à vida que tínhamos antes (vem a bonança). Na minha perspectiva, essa  premissa está errada. O que nos está a acontecer é estrutural. Enquanto não aceitarmos isto vamos andar entre a negação a raiva e o desanimo, num enorme estado de frustração sem qualquer capacidade de reacção e com muita dificuldade em construir.


5 comentários:

  1. O país da negação (PC's, PS, notáveis do PSD e CDS, Sindicatos, Media, Trib. Const. e Quejandos) e da semi-negação (PR e CDS), continuará sempre em negação.
    Mal alguma informação do dito relatório saltou para os media, logo um político (dos da negação) gritou na abertura das notícias das 13h da TSF que isto era feito por quem desconhecia em absoluto a realidade nacional.
    Curioso é que, quando li o que sobre ele já foi publicado, a palavra que me veio logo à mente foi apenas "touché"!
    FRF

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  2. Nuno Barradas6:11 da tarde

    Convinha perceber que a tal entidade que não vai a votos não tem obviamente nada a ganhar...por outro lado também não tem nada a perder...como se pode verificar com a sua recente confissão de que não tinha sabido estimar os efeitos recessivos das politicas de austeridade. Ora se eles não sabem estimar o que é suposto saberem estimar, salvo melhor opinião, o relatório deles é tão bom como o relatório de qualquer um de nós. A questão é que os senhores do FMI são completamente incompetentes no que toca a planos de ajustamento económico em países sob o espartilho de uma união monetária...e portanto temo que os palpites que mandaram dentro de um ou dois anos sejam desmentidos pela realidade...claro que isso a eles pouco afecta.

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  3. Estado de negação é o demonstrado por este (e anteriores) Governo e pelos seus apoiantes, directos ou envergonhados quanto à real situação económica e à sustentabilidade ou não da nossa economia, nomeadamente no que respeita ao cumprimento das obrigações do Estado.
    Não, não é absolutamente necessário cortar DESPESA!
    É sim fundamental criar RECEITA!
    Criar a receita necessária para garantir a cobertura da despesa necessária ao cumprimento das obrigações do Estado.
    Apenas a manifesta incompetência deste governo (e dos antecedentes)em criar a receita necessária, quer actuando diretamente na economia, quer criando as condições para um funcionamento eficaz dos agentes económicos privados, gerando assim indiretamente a necessária receita por via de impostos, leva a que se vejam obrigados a assumir a sua incapacidade e assim defender o indefensável, a redução da despeça pelo incumprimento das funções do Estado.
    A redução de despesa por optimização da gestão, por eliminação de redundâncias, de gastos sumptuários, ou pelo corte de outras "gorduras" é sempre necessário e bem vindo, haja défice ou superávit, chama-se boa gestão e, infelizmente não é o que está a ser feito, nem a ser proposto.
    O que está a ser feito e o que está a ser proposto é como cortar uma refeição à família, é como tirar um filho da escola, é como cortar nos medicamentos do avô.....
    É triste, é baixo, é reles!

    António Moreira

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  4. Concordo com o autor do post quando ele diz que o relatòrio do FMI deve ser analisado e discutido, embora fosse uma desgraça que ele sirva apenas como alibi para a desresponsabilização política de quem nos governa. Concordo ainda com uma outra afirmação escrita no post: a de que isto não é uma mera crise mas uma mudança de placas tectónicas. Umù abraço ao JMP.

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  5. Obviamente também concordo que este relatório deve ser analisado e discutido, muito analisado e muito discutido.
    Como deve ser analisada e discutida a forma como semelhante coisa é possível e quem paga semelhante falta de senso.
    Também deviam ser rapidamente analisadas e discutidas as circunstâncias que levam a que pessoas que valem muito mais do que isto, possam sequer considerar semelhante coisa normal e aceitável.
    O que é importante, muito mais importante analisar e discutir é como é possível e aceitável que se desista do futuro dos nossos filhos e netos,que se desista da civilização que se vem construindo há gerações, e tantos se disponham a aceitar de ânimo leve semelhante retrocesso.
    AM

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