terça-feira, maio 08, 2012

Postal de Pequim (II série) 1


De novo em Pequim. E desta vez em pleno festival político de rumores sobre a suspensão de Bo Xilai e a evasão rocambolesca do dissidente cego Chen Guangcheng. “China Daily” e “Global Times”  abordam os temas só muito esporadicamente. Dissertam sobretudo sobre a deformação mal-sã da imprensa estrangeira e dos políticos e intelectuais europeus e americanos que se recusam a reconhecer o imenso progresso realizado pela direcção do partido no que se refere a direitos do homem e à democratização interna do sistema de funcionamento do partido.

Quando a CNN aborda um destes assuntos com análises ou entrevistas, há um black out no écran. Que diz o jovem  Xiao Qi, que encontrei numa livraria, sobre este festival de rumores e declarações contraditórias? Xiao Qi explica-me como o recurso à comunicação via internet põe em contacto milhões de jovens internautas que  procuram saber o que realmente se passa no país. A censura ainda não consegue bloquear a tempo rumores e informações lançadas via Weibo e Twitter. Mas os censores e propagandistas do partido já conseguiram infiltrar o sistema e manipular a informação, acrescenta.

O caso de Bo não passa de uma comédia encenada por dirigentes em luta pelo acesso ao grupo dos 9 dirigentes que detêem o verdadeiro poder na China. Que pensa Xiao Qi da campanha lançada por Bo, centrada no recurso a canções e slogans da revolução cultural?

Esta fase da história na China é totalmente desconhecida dos jovens. Censurada pelo Partido. Reconhece que nada sabe sobre o que se passou então. Apenas conhece as canções relançadas por Bo Xilai que esperava assim construir uma base de apoio de nostálgicos. Pura manipulação com o obectivo de avançar na escada do poder. E os amigos de Xiao Qi, que dizem eles de tudo isto? Confessa não ter a menor ideia. Nunca falam destes assuntos . Porquê? `Because we are scared`.

Desconhecer parte do nosso passado histórico, não nos é estranho. A guerra colonial nunca foi tema aprofundado em Portugal. Mas contestar, fazer perguntas e insistir quando não nos respondem, nunca nos foi proibido. Não o temos feito, é certo. Mas não porque `We are scared`!

Maria

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