De novo em Pequim. E desta vez em pleno
festival político de rumores sobre a suspensão de Bo Xilai e a evasão
rocambolesca do dissidente cego Chen Guangcheng. “China Daily” e “Global
Times” abordam os temas só muito
esporadicamente. Dissertam sobretudo sobre a deformação mal-sã da imprensa
estrangeira e dos políticos e intelectuais europeus e americanos que se recusam
a reconhecer o imenso progresso realizado pela direcção do partido no que se
refere a direitos do homem e à democratização interna do sistema de
funcionamento do partido.
Quando a CNN aborda um destes assuntos com
análises ou entrevistas, há um black out no écran. Que diz o jovem Xiao Qi, que encontrei numa livraria, sobre
este festival de rumores e declarações contraditórias? Xiao Qi explica-me como
o recurso à comunicação via internet põe em contacto milhões de jovens
internautas que procuram saber o que
realmente se passa no país. A censura ainda não consegue bloquear a tempo
rumores e informações lançadas via Weibo e Twitter. Mas os censores e
propagandistas do partido já conseguiram infiltrar o sistema e manipular a
informação, acrescenta.
O caso de Bo não passa de uma comédia encenada
por dirigentes em luta pelo acesso ao grupo dos 9 dirigentes que detêem o
verdadeiro poder na China. Que pensa Xiao Qi da campanha lançada por Bo,
centrada no recurso a canções e slogans da revolução cultural?
Esta fase da história na China é totalmente
desconhecida dos jovens. Censurada pelo Partido. Reconhece que nada sabe sobre
o que se passou então. Apenas conhece as canções relançadas por Bo Xilai que
esperava assim construir uma base de apoio de nostálgicos. Pura manipulação com
o obectivo de avançar na escada do poder. E os amigos de Xiao Qi, que dizem
eles de tudo isto? Confessa não ter a menor ideia. Nunca falam destes assuntos
. Porquê? `Because we are scared`.
Desconhecer parte do nosso passado histórico,
não nos é estranho. A guerra colonial nunca foi tema aprofundado em Portugal.
Mas contestar, fazer perguntas e insistir quando não nos respondem, nunca nos
foi proibido. Não o temos feito, é certo. Mas não porque `We are scared`!
Maria
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