segunda-feira, fevereiro 20, 2012

Resistir ao naufrágio

Fui almoçar ao restaurante chinês aqui do bairro. Tem um menu de 10 €, um preço muito económico para os padrões bruxelenses. Levei o jornal e ocupei uma mesa ao lado de uma outra onde se sentavam três mulheres nos seus oitentas.

No meio do artigo sobre as armas russas com que o regime sírio massacra os cidadãos de Homs e enquanto manobrava com os pauzinhos a segunda dose das “nouilles au poulet”, começaram a ouvir-se umas vozes estridentes vindas da mesa das velhas. “Detesto essas pessoas” – gritava a que estava de costas para mim. Reparei então que as outras duas tentavam convencê-la a ir para um lar, coisa que a horrorizava. Não consegui mais ir além da frase que afirmava que só em Novembro o regime de Damasco pagara 550 milhões de dólares a Moscovo por uns aviões ligeiros de ataque Yak-130.
Mudei de página e ataquei eu em voo rasante a secção desportiva onde se previa um fim complicado para o Villas-Boas no Chelsea, na esperança que o patrão russo não o despeça já. Nada feito: “Sou tua irmã e devias dar-me mais atenção” – seringava a dos cabelos pintados para a mana mais velha que pelos vistos continuava a resistir à pressão das outras para se exilar no “Arco-Íris”.

Às tantas, esta levantou-se, vestiu um casaco e vejo-lhe então a cara enrugada e uns olhos que querem chorar. “Tu comprends rien!” e saiu porta fora, provavelmente sem pagar a sua parte.

1 comentário:

  1. Eusebio de Antioquia3:55 da tarde

    As "delícias" dos lares-arquivos mortos, esta Senhora entende-o muito bem...

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