Quase não há inocentes na crise aguda que atravessamos. De todos os estratos económicos e sociais emanaram comportamentos desadequados, induzidos ou não, que acabaram por nos trazer a este estado depressivo.
Importa apurar responsabilidades políticas e públicas, importa analisar comportamentos, importa identificar seriamente causas. Mais importante, importa fazer tudo isto para podermos estruturadamente planear o futuro sem repetir os erros do passado.
As medidas de emergência passarão sempre por um corte sério na despesa pública e sacrificarão numa fase inicial o rearranque da economia por via do aumento da carga fiscal. Pede-se, espera-se e é necessária muita imaginação e rasgo político para ir além desta receita classica e quase inevitavelmente recessiva. No mundo ocidental, ainda não surgiu a tal ideia luminosa; segue-se a receita classica no intuito de evitar o pior.
Assim, são pedidos sacrfícios a todos. É justo.
O que não é justo é uma desproporção real na distribuição dos sacrifícios. O que não pode ser ignorado é que há uma larga franja da nossa sociedade que já não tem margem para mais sacrifícios, que encoberta ou disfarçada, está à beira da ruptura.
Entretanto, há, felizmente, sectores da sociedade com margem de absorção destes sacrifícios, sem que isso implique mudanças significativas na sua qualidade de vida. Os que estão no topo da pirâmide económica são os que têm melhor capacidade de resposta nestes periodos de emergência. A equidade será distribuir os sacrifícios, o mais possível, de acordo com a capacidade de "encaixe" de cada um.
Foi isto, de forma clara e incisiva, que Warren Buffett disse a Obama no passado dia 14. Foi isto, de forma clara e sem precedentes, que dezzasseis multimilionários franceses hoje disseram a Sarkozy.
A cruzada de Buffett na defesa do capitalismo com ética é antiga e bem conhecida. A posição dos dezasseis franceses é uma novidade e a prova que nos piores momentos se revelam os melhores de entre os melhores. A inteligência e visão para perceber que será necessário dar hoje para assegurar a sustentabilidade que se deseja para o futuro não está, infelizmente, ao alcance de todos. O passo dado por estes super-poderosos justifica em muito o seu estatuto, dá sentido às diferentes obras que edificaram, às fortunas que acumularam. Buffett, Oudéa, Schweitzer e outros dão sentido ao capitalismo em que continuo a acreditar, contribuem de forma determinante para o futuro mundo ocidental livre e novamente próspero.
Por outro lado, não pude deixar de pensar no nosso pequenino Portugal, que entre rolheiros que despedem preventivamente e merceeiros cheios de si, não hesitaria em expulsar de qualquer associação patronal quem ousasse a heresia de Buffett. A pequenez atávica de muitos dos novíssimos-ricos da nossa praça fica cruamente exposta perante a nobreza de quem sabe ser depositário de fortuna. Não percebem, não vêem mais longe, não atingem que é a própria paz que está em causa.
Como diz o meu querido Amigo Frei Bernardo Domingues, a Paz é a tranquilidade na ordem justa.
Eu acho tudo muito bem, mas o que foi prometido foi que os impostos não subiriam. Já foi quebrada a promessa e parece que vai continuar a ser.
ResponderEliminarAcho que só há um remédio: o estado não pode ter mais para gastar. Se se aumentar os impostos o Estado vai gastar mais.
Entre impostos directos e indirectos a classe média paga cerca de 70% de impostos. Deve ter sido deste calibre a carga fiscal na Idade Média, dos senhores feudais sobre os servos da gleba.
Posto isto, acho bem que se peça um esforço adicional e transitório sobre os que têm mais rendimentos.
Um abraço
JAC
Raul, amigo, o Seguro já está contigo!
ResponderEliminarMas até ver (e para crer) eu continuo com o JAC...
Um e-abraço,
FRF