1. Por estes dias, como bem demonstra este mesmo blog, voltou a falar-se de política. Isso é bom, embora tenha acontecido por péssimas razões. Espero bem que este renovado interesse, ou preocupação como preferirem, se traduza numa maior participação nas próximas eleições e, sobretudo, numa maior pressão sobre os partidos políticos para assumirem com maior responsabilidade os seus papéis.
2. O Bartomoleu apresentou aqui abaixo uns números que suscitaram inusitado número de comentários. Contudo, convém colocar esses números em perspectiva, sob pena de nos enganarmos.
Os "DC", 'developing countries' ou "países emergentes" como agora é moda chamar-lhes, têm de facto assumido fatias cada vez mais importantes do crescimento global, do comércio global, do investimento global, do consumo global, etc. Esta tendência deverá manter-se pelas próximas décadas e poderá até acelerar, sobretudo se a Indía começar a apresentar taxas de crescimento próximas das da China.
No entanto, importa perceber o que os números significam. O crescimento destes países tem sido construído muito à base de uma gestão das finanças públicas mais saudável, vide o Brasil, que foi provocada pelas crises da década de 80 e as subsequentes intervenções do FMI de que agora ninguém gosta...
A liberalização de parcelas dos mercados desses países, sobretudo na indústria mas também nas matérias primas e alimentares, permitiu o advento de uma nova classe média cuja maior propensão ao consumo muito contribuíu para o crescimento global da última década.
Mas assenta, como os números do Bartolomeu bem mostram, na indústria - e nos, ainda, baixos custos da mão de obra local. Embora o "modelo económico ocidental" tenha chegado ao limite, pelo menos na generosidade com que "redistribui" riqueza, a verdade é que ninguém pensa ou espera voltar a modelos anteriores. O desafio é encontrar novos pontos de equilíbrio. E este desafio é global, não é só ocidental.
Por exemplo, sem os espantosos avanços na logística e sua gestão - serviços, note-se bem, ainda centrados no Ocidente - o crescimento industrial de que a China beneficiou não teria acontecido, pura e simplesmente. As transferências de tecnologia que acompanharam o desenvolvimento industrial não corresponderam a transferências de know-how correspondentes, o que significa que esse know-how continua no Ocidente - e corresponde a empregos melhor remunerados e mais interessantes, capazes de criar mais valor acrescentado do que a mera acoplagem, montagem ou mesmo produção industrial...
3. Além disto, convém não esquecer os verdadeiros desafios globais que enfrentamos (vou apenas enumerar):
- Clima;
- Produção de energia (sobretudo sustentavelmente);
- Alimentação (produção e distribuição, esta última sobretudo tendo em conta o custo do carbono);
- Escassez de terra para agricultura e falta de inovação (dificuldades com manipulações genéticas incluídas);
- Água, gestão das suas reservas e disponibilização;
- Subida e escassez de matérias primas, especialmente o petróleo;
- Desagregação da motivação de integração europeia;
- Insustentabilidade do actual modelo económico americano;
- Dificuldade das economias ocidentais e do terceiro mundo criarem empregos, sustentavelmente.
Só considerando tudo isto se pode discutir, com seriedade, quaisquer alternativas ou desafios do tipo dos colocados pelo Bartolomeu. Incluindo a ponderação dos custos de sair do euro; seja temporária ou definitivamente; sozinho ou acompanhado.
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