segunda-feira, fevereiro 07, 2011

A Escola, o Primeiro-ministro (e a ministra da Educação)

Desta vez, parece ter-se chegado ao cúmulo da incoerência. A maioria descrente, parece que já nem sente revolta quando o Primeiro-ministro fala ou decide. O que eu sinto é pior: é como se visse alguém cuspir na cara do pobre.

Agora é com a Escola; em especial com os cortes nos Contratos de Associação. Mas já foi assim com os cortes nos salários e nos abonos de família: isso não atinge os grandes senhores das empresas públicas ou das fundações do Estado, pois que com esses há muita compreensão!

Agora é de novo a Escola. E os tais cortes têm dois efeitos. Gravíssimos. O primeiro é tirar aos pobres a possibilidade e o direito de escolher. O segundo é pôr no desemprego um número indefinido de professores.

Os ricos, como o senhor Primeiro-ministro, podem rir-se e escolher para os seus filhos a escola privada “pura e dura” como é o Colégio Moderno. Os pobres são obrigados a ir para a pública. O ridículo chegou a tal ponto que o Estado tem vindo a construir escolas nos locais onde já havia escola privada, acusando esta, depois, de estar a fazer concorrência! E portanto deve acabar. Foi a mais recente declaração da Senhora ministra. Ela atropela o peão na passadeira gritando que ele tinha a obrigação de lá não estar…

Que estratégia é esta? Contra toda a inteligência e direitos humanos, negando o que a história já demonstrou, este governo continua a defender a ideologia “socialista” de um Estado educador e patrão do ensino dos jovens. Não vão os pais deformá-los com ideias antiquadas! Claro, por enquanto, aceitam-se excepções para os ricos.

Este marxismo saloio e ultrapassado tem justificado andar por aí a construir edifícios e melhoramentos escolares suspeitos: as tais escolas-concorrência ou as inutilidades pedagógicas dos mega agrupamentos. Por outro lado dizem que a população escolar diminui e fazem turmas com um número de alunos acima do razoável. Toda essa tarefa de cimento é entregue à Empresa público-privada “Parque Escolar” financiada pelos Bancos (BES) que assim se está a tornar “a rica proprietária” dessas escolas que, depois, todos vamos pagar. Terá o governo decidido privatizar a escola?

Os gastos do Ministério, mais essa subtil e contraditória “privatizaçãozinha”, são continuamente, disfarçadamente, negados ou alterados, no sonso discurso da actual ministra da Educação, qual velho altifalante cheio de ruídos, tentando ampliar “a voz do dono”. Não há dinheiro para campos de golf nem piscinas! Como se não fosse bom que todos pudessem ter essas oportunidades e, sobretudo, como se alguma vez o dinheiro dos Contratos de Associação fossem para isso. A senhora ministra sabe-o. Mas quem não tem argumentos nem humildade, disparata. Sabíamos que escrevia histórias para crianças, mas não que tinha comportamentos tão infantis.

Mesmo que a Escola pública fosse melhor, não pode ser obrigatória. Ao contrário do que se faz pensar, ela é que é complementar e subsidiária, quando a sociedade civil não responde. E os pais, incluindo os mais pobres, é que têm o direito de escolher o ensino que entenderem como melhor. E isso deve-lhes ser reconhecido.

Mohammad Yunus, criador do microcrédito e origem de uma grande transformação social começando pelos mais pobres, escreveu: “É a nossa arrogância que nos faz procurar soluções complexas para problemas simples”.

Vasco Pinto de Magalhães

2 comentários:

  1. Que grande artigo! Vale a pena pensar nisto!

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  2. E, sobretudo, não inventar onde já existem soluções.

    Ainda por cima, segundo rezam as crónicas, mais baratas e com melhores resultados.

    E se se fizesse um estudo custo/benefício, que resultados daria?

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