A união de homossexuais e o Presidente da Republica
O título mais exacto do comentário que se segue seria “A pirueta da triste figura”.
Senti um arrepio, quase vómito, quando acabei de ouvir o Prof. Cavaco Silva. Que vergonha, senti. Por ele, claro. E pelo país. Assim ficou para a história como o padrinho (the best man) dos homossexuais, por incoerência da sua decisão, quando poderia ter passado à História como alguém que sem disfarce piedoso e paternalista segue as suas convicções, independente de votos e oportunismos. Seria bem preferível que, sem mais, tivesse promulgado o tal “casamento”, porque sim, porque assim o achava. Mas vir dizer a todo um país que ele pensou bem e não está de acordo e deu provas disso, que há outros modos e figuras jurídicas para o caso que são seguidas nos países que ninguém se atreve a chamar de atrasados; mais, que só uma minoria na Europa assumiu esta forma e, depois, num salto mortal, conclui ao contrário e promulga! O dito por não dito. Claro, arranjou duas “razões”. Falsas. E uma delas é ofensiva da dignidade e inteligência de um povo: estamos tão em crise e tão miseráveis que não nos podemos distrair com este tipo de debates! Ora, estes temas humanos é que são sérios, até porque a verdadeira crise é de valores. O Senhor Presidente pode ter a certeza de que o povo, “na sua menoridade” o que vai discutir é sobre futebol em África e o campeonato do Mundo. A outra razão também é “enorme”! A Assembleia vai aprovar outra vez e já não será possível vetá-lo. Pois não seria, se não houvesse outras coisas a fazer. Até dissolver a Assembleia seria possível. Aliás ninguém pode garantir em absoluto que uma lei passe (ou não) e que não haja mudanças de opinião, sobretudo quando a maioria não está assim tão garantida! De facto, usar tal argumento e agir assim com tal pirueta é como se alguém dissesse “vou-me suicidar porque é certo que dentro de algum tempo morrerei”.
Eis aqui um exemplo de um mau discernimento, do que é deixar-se levar pelas aparências de bem, do que é não clarificar nem assumir as verdadeiras motivações e arranjar “boas” razões, saídas airosas para proteger as próprias conveniências.
Enfim, não se podem julgar as pessoas, mas as piruetas, sim.
Não sendo " gay", nem sequer simpatizante, e considerando a familia heterosexual como a base de qualquer sociedade, não consigo contudo compreender como é que o "same sex marriage" prejudica o casamento.
ResponderEliminarComeçando os gays casarem-se, será que os heterosexuais vão começar a abter-se de o fazer?Ou será que a " crise" do matrimónio não terá outras razões que nada têm a ver com os homosexuais ? Gostava de saber a opinião de V. Ex.ª.
O matrimónio não está em crise pelo menos para quem acredita nele. O matrimónio para esses, é um sacramento. ,
ResponderEliminarO casamento entre pessoas do mesmo sexo não pode prejudicar o matrimónio exactamente porque não é matrimónio.
No entanto, como se vê pelo seu comentário a tentativa de baralhação parece estar a fazer efeitos. Há que desmontar isso clarificando conceitos.
A crise do matrimónio poderá ter muitas razões, terá certamente, mas existe. E a não ser que se pretendam disfarçar os números dessa crise, não se vê uma única razão válida para "alargar" o casamento aos homossexuais. A não ser, claro, o espúrio argumento da não-discriminação!
ResponderEliminarDiscrimina-se quando se faz diferença entre coisas iguais. Nem mais nem menos.
Por conseguinte, uma coisa é reconhecer que hoje em dia há, cada vez mais, casais do mesmo sexo que querem e exigem, correctamente, que o Estado regule as suas relações. Não sei se concordo, mas compreendo e parece-me válido.
Percebo até que se utilize o casamento como modelo a partir do qual se cria o novo regime.
Mas convém não misturar as duas coisas. Nem os homens são mulheres, nem estas são homens. Portanto, os regimes não podem, melhor dito, não devem ser iguais.
Podem e devem não discriminar onde as situações sejam iguais: o regime de bens, o regime fiscal, etc, etc.
Mas devem manter a diferença onde ela existe e é natural: por exemplo, em matéria de filiação. Se se compreende o dever da fidelidade entre seres que unidos, podem procriar, já seria discutível se esse dever deveria ser parte integrante de uma união sexual; pela minha parte, não me chocaria que essa parte do regime ficasse ao arbítrio dos nubentes...
Ainda nesta mesma área:a a adopção por homossexuais. Pessoalmente, sou a favor. Mas a favor da adopção por indíviduos, sejam ele/as homossexuais ou não. Consequentemente, um homossexual assumido sabe que não pode ter filhos das suas relações sexuais; logo, a adopção é o caminho que lhe resta.
Mas isto levanta problemas muito sérios que deviam ser debatidos em sede de discussão do regime das uniões a aplicar aos homossexuais; se duas pessoas unidas por um "casamento" homssexual, conviverem certo tempo com as crianças adoptadas, não deve o "outro" adquirir alguns direitos de relacionamento com as crianças? Penso que sim; estaria até disposto a aceitar a "herança" de uma adopção pelo outro membro do casal.
O que não compreendo é que se fuja a debater estas questões sérias, simplificando tudo como se fosse tudo igual, por preguiça intelectual ou moral, e metendo alhos e bugalhos num mesmo cesto.
E é esta, infelizmente, a forma como se faz política em Portugal. Fugindo às questões.
Por isso é que as "crises" nos rebentam nas mãos. Quando as podíamos ter prevenido, preferimos ir de férias, ao Rock in Rio e a outras coisas mais divertidas...
disse Aura Miguel, em "Opinião", na RR:?
ResponderEliminarO Papa bem nos avisou: “Precisamos de verdadeiras testemunhas de Cristo e não de pessoas falsas; sobretudo onde o silêncio da fé é mais amplo e profundo, como por exemplo na política.
Porque em tais âmbitos - disse o Papa em Portugal - não faltam crentes envergonhados que dão as mãos ao secularismo e constroem barreiras à inspiração cristã.” Pois, aqui está uma boa definição de Cavaco Silva.
Que pena, Sr. Presidente. Se o Sr. tivesse assumido a sua posição antes de Bento XVI vir ao nosso país, teria sido mais honesto para com o Papa e para com os portugueses...
Mas não. O Sr. tomou a típica opção que desprestigia a política: encheu-nos de palavreado e lindos discursos de sabor cristão, para afinal fazer o contrário do que insinuou durante os quatro dias que andou com o Papa. Para quê Sr. Presidente? Para ganhar mais votos?
O Sr. sentou-se lá à frente na missa e ouviu certamente o que o Papa disse: ”o acontecimento de Cristo é a força da nossa fé e varre qualquer medo e indecisão, qualquer dúvida e cálculo humano (...) mas é preciso que esta fé se torne vida em cada um de nós".
O Presidente da República fez exactamente o contrário disto, dois dias depois de se despedir do Papa.
Ó ventanias, a tua formação e a tua posição exigiam uma declaração menos "slithering".
ResponderEliminar"slithering" é muito bom, muito bom mesmo!
ResponderEliminar