quarta-feira, dezembro 09, 2009

MINARETES

Evidentemente que o assunto dos minaretes suíços coloca questões muito sérias em termos de tolerância, xenofobia, racismo, medo, preconceito, liberdade religiosa e reciprocidade - (é claro, Douro, que a questão da reciprocidade não é nem pode ser a pedra angular do tema, mas seja como for não vejo mal nenhum que se lembre que nos países islâmicos também não é fácil construir torres com cruzes). Tudo isto é verdade e deve sobressaltar-nos, mas quem rasga as vestes insurgindo-se contra a decisão da maioria dos suíços também deveria incomodar-se em tentar perceber as razões que levaram a que eles tenham votado no sentido em que votaram. Não me parece suficiente que a questão se resolva acusando os suíços de serem trogloditas medievais de extrema direita influenciados pela campanha do medo. É fundamental que se perceba porque é que muitas pessoas perfeitamente civilizadas e cultural e politicamente evoluídas votaram contra os minaretes. Se não se entender que isto é o nó do problema e não se tentar encontrar soluções a coisa tenderá a piorar por mais iluminados que sejamos todos.

6 comentários:

  1. Bernardo, ajuda-me a perceber "porque é que muitas pessoas perfeitamente civilizadas e cultural e politicamente evoluídas votaram contra os minaretes"; é que, segundo me disseram, outras pessoas igualmente civilizadas e evoluídas encolheram os ombros na Alemanha nazi assim como encolhem os ombros face à expulsão dos palestinianos de Jerusalém oriental. A não ser que invertamos a ordem das coisas e achemos que o "criminoso" é que é a vítima do sistema, se não me explicarem esse porquê, eu terei de concluir que afinal essas pessoas não são tão evoluídas nem civilizadas como se pensa.
    Um abraço

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  2. É fácil perceber porque é que os suíços votaram como votaram: como diz um amigo meu, jornalista no Expresso, "nem todos os árabes são terroristas, mas todos os terroristas são árabes". Abraços. Ernesto

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  3. Caro Douro, repara que eu não os desculpo, simplesmente acho que o problema deles (sejam ou não verdadeiramente evoluídos e civilizados e tratando-se de suiços tenho as minhas dúvidas mas isto sou eu a ser xenófobo) será o nosso (como ilustras bem com os exemplos que nos dás), se apenas os condenarmos e não entendermos os sinais. Não haverá nada a fazer senão diminuí-los ou desprezá-los? Será que as preocupações que eles revelam não poderão ser por nós encaradas doutra forma? Acho que a explicação que o Ernesto nos dá também é simplista, pois representará eventualmente parte do problema. Mas só porque temos razão isso não nos deve dar a ilusão de que a nossa razão é evidente e que resolve tudo. Para que a questão não se agrave é fundamental que não se finja que isto é tudo uma questão de extrema direita, porque não é, é simplesmente cavalgada por ela e tanto mais força lhe daremos se não mudarmos a forma como reagimos.
    BLX

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  4. Acho que compreendo o sentido do que o Ernesto quer dizer. Apenas um afinamento sem importância, mas que pede voz: a maioria dos tais terrotistas nem sequer árabes são, embora sejam islamistas ou se reivindiquem como tal.

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  5. Inteiramente de acordo Bernardo. Aliás eu não adjectivo os suiços. Tentei simplesmente chamar a atenção de que há uma islamofobia, justificada ou não (na maior parte das vezes não o será), que pode servir para um mecanismo identitário de afirmação de uma comunidade ( por exemplo, os cristãos, a dita Europa cristã) em contraposição a uma outra cultura ou religião. Ora, eu receio que um tal mecanismo seja muito perigoso porque subreptício, e é por isso que antes de lhe perceber as causas profundas me parece prioritário criticar desde logo as suas manisfestações. Mas de acordo que isto não é uma mera questão de extrema-direita nem de longe se reduz a isso.

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  6. a proposito do problema do minarete suiço ocorre-me contar um historia passada numa troca de correspondencia de Camilo Castelo Branco, e nessa correspondencia um amigo de Camilo pergunta-lhe a opiniao sobre a arte do "minarete", ao que o Camilo, homem de bom gosto, nao hesitou em recomendar ao amigo tamanho piteu...na carta seguinto o amigo dirige-se a Camilo e escreve tao so e apenas: lavei, provei e nao gostei...e de imediato aquele responde-lhe: lavas-te estragas-te!
    o mesmo se passa com a questao em apreço, resolveram perguntar aos suiços a opiniao e pelos vistos a maioria nao aprecia minaretes...nada mais normal e democrático. Nao deixa é de ser espantoso que se a maioria tivesse dito sim, ninguém fazia a celeuma que está a fazer. Se fosse em Portugal fariam tantos referendos quantos os necessarios até que ganhasse o sim.
    as regras do jogo têm de ser aceites para o bem e para o mal...
    e extrapolar deste não aos minaretes o que se pretende extrapolar parece-me excessivo...eu tb nao gostava de ter o meu Pais polvilhado por minaretes tal como nao gosto de ver predios junto ao mar ou nas aldeias mas nao tenho nada contra o povo nem a religião islamica

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