sexta-feira, dezembro 04, 2009

Francisco Sá Carneiro

Francisco Sá Carneiro morreu a 4 de Dezembro, há 29 anos. Vinha a caminho do Porto.

Apesar da diferença de idades, conversei várias vezes com ele, ainda antes do 25 de Abril. Os seus pais eram muito amigos dos meus e ele próprio assessorava juridicamente o meu pai em empresas do sector da produção e distribuição de electricidade e noutras iniciativas. Era essa circunstância que me dava um acesso atrevido ao Dr. Sá Carneiro (nunca o tratei por Francisco, apesar da sua insistência).

Lembro-me de o ter visitado no seu escritório para o convidar para dar uma conferência sobre o problema colonial no Colégio Universitário Pio XII, e isso apesar da resistência do Director de então do Colégio, situacionista dos 4 costados que via em Sá Carneiro uma subversão incómoda.

Nas últimas eleições marcelistas para a então Assembleia Nacional, altura em que ele já batera com a porta e se desiludira com a “primavera marcelista”, tendo-me eu envolvido, na minha militância oposicionista ao regime, numa barafunda com GNRs e certos bufos no decurso de uma acção de agitação e propaganda em terras do Minho, Sá Carneiro aceitou sem hesitação ou reservas ajudar-me caso as polícias do regime me viessem a perseguir ou procurar.

A última vez que estive a sós com ele foi ao fim da tarde do próprio dia 25 de Abril de 1974, uma vez mais no seu escritório do Porto, para onde me fixara reunião para concluirmos um assunto da minha famìlia, na sequência da morte do meu pai no ano anterior. Fomos interrompidos uma série de vezes por telefonemas e recados e era já um fervilhar político que o entusiasmava. Sabendo-me estudante de Direito em Lisboa, questionou-me sobre a extrema-esquerda, adivinhando a minha simpatia juvenil pelo MRPP.

Francisco Sá Carneiro era um senhor e um verdadeiro líder.

Nada a ver com a traineira em que se vem transformando um certo PSD, que se senta sobre o seu nome e a sua memória para navegar e pescar em águas turvas.


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