terça-feira, novembro 24, 2009

Recuperação económica ou reanimação?

Consta que o CDS vai apresentar um plano de reanimação económica. Ainda bem. O País bem precisa que apareçam por aí alternativas aos planos únicos do governo, baseados nas mega-obra-públicas, muito bem alavancadas em parcerias estratégicas que hipotecam o nosso futuro e arruinam as nossas finanças.

Convém termos presente que o País tem um problema de competitividade gravissímo. E ao contrário do que para aí corre, a falta de competitividade não está no trabalho. Está no capital.

De facto, grande parte dos nossos investimentos tem pouca rentabilidade. Por uma razão simples. Alimentam modelos de gestão que não são competitivos e que só sobrevivem pelo isolamento da nossa economia, em muitas das suas áreas. Nomeadamente, e até sobretudo, nos chamados sectores dos bens e serviços não transaccionáveis.

E esse é o principal problema dos planos do governo.

Porém, por outro lado, o País precisa urgentemente de um novo plano que lhe renove a capacidade de ser competitivo. Isto é, precisamos de investir para podermos aumentar o nosso potencial de crescimento, a amplitude dos nossos retornos, para poder sonhar em pagar as dívidas que nos tolhem. Não basta reduzir impostos e melhorar as condições gerais da contratação. As nossas empresas estão tolhidas, sobretudo, pela ineficiência do sistema judicial e pela falta de condições de custos competitivas.

E é aí que a ferrovia pode, e deve, assumir um papel de destaque. Oxalá o CDS o tenha percebido e o saiba incluir no seu plano.

O potencial de apoio às empresas exportadoras nacionais que reveste a ligação da rede ferroviária nacional às redes europeias, através da nova rede espanhola, é, provavelmente, a nossa melhor oportunidade para quebrarmos o ciclo vicioso e entramos noutro virtuoso.

Por causa da dependência do petróleo.
Por causa da ineficiência do transporte rodoviário.
Por causa do potencial, ainda inexplorado, dos nossos portos oceânicos.
Por causa dos baixos custos do transporte ferroviário de mercadorias.
Por causa do potencial de crescimento do transporte ferroviário de mercadorias, na Euriopa.
Por causa de implicarem grandes investimentos das empresas de obras-públicas.
Por causa de isso ser bom para o emprego, no curto prazo.
Por causa de permitir a oferta de transporte de massas, para passageiros.
Por causa da nossa necessidade de exportar mais, a melhores custos de transporte.
Por causa de oferecer retornos mais garantidos.

O que falta?

A coragem de encontrar modelos de financiamento alternativos, que permitam ultrapassar a falta de capacidade do Estado para investir. A coragem de abandonar fantasias aeroportuárias, terceiras travessias, terceiras auto-estradas e novas linhas ferroviárias em bitolas incompatíveis com o resto da Europa (precisamente a linha Sines-Madrid).

Parece que os espanhóis estão interessados nisso. E nós, será que acordamos a tempo?

1 comentário:

  1. Muito bem visto!
    Já ouço falar do famoso troço Sines-Madrid desde os velhos tempos da faculdade, numa altura em que se discutiam os modelos económicos mais adaptados à "revolução".
    Estratégia de tranportes (especialmente nas alternativas ao rodoviário) e da intermodalidade dos mesmos foi coisa de que se falou durante imensos anos. Infelizmente pouco ou nada se concretizou!
    Acho que os gestores públicos continuam a preferir organizar uns jantares de despedida à custa do contribuinte do que queimar as pestanas a avaliar as alternativas de investimento e a apresentar propostas credíveis para o sector!

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