terça-feira, novembro 24, 2009

Desentendimentos

Esta malta não percebe mesmo o que está em causa. (Ou então, percebe até demais...)

Alguns, mais atentos, terão reparado que os Ministros das Obras Públicas ibéricos se juntaram em Lisboa. Anunciaram duas coisas.

Que a linha Porto-Vigo está atrasada dois anos, do lado espanhol (onde apenas se constróiem 25 dos 125 km), por causa da "orografia difícil". O que terá implicações para o traçado do lado português.

A outra coisa é que é a séria. Os dois terão concordado em criar uma comissão para estudar a possibilidade da linha ser apenas de passageiros, em lugar de mista como estava previsto até aqui.

O problema é simples: os espanhóis estão incrédulos desta vontade nacional de lhes entregar o transporte de mercadorias.
Quer dizer, o valor acrescentado que possa existir no transporte ferroviário de mercadorias.
Que é como quem diz, a área em que crescerá o transporte ferroviário, nas próximas décadas, na Europa.
O que significa, a maior parte do potencial de crescimento da actividade dos nossos portos atlânticos.
O que implica, muito provavelmente, uma parte significativa da competitividade das nossas empresas exportadoras. Nano-micro-pequenas e médias incluídas. Para já não falar das implicações energéticas e ambientais.

E tudo porquê?

Porque os artistas que tem tratado deste assunto, neste jardim à beira mar abandonado, estão convencidos que conseguem criar valor processando mercadorias a 50km dos portos, para as enviar por autovia para lá da fronteira, e mais importante, para lá dos Pirinéus. Nada de mais. Nem muito menos considerando os custos por contentor que implica cada ruptura de carga, cada movimento em gruas, etc. Nada disso é relevante. Por isso mesmo é que o transporte de mercadorias não lhes parece importante, podemos deixá-lo para os "lorpas" dos espanhóis. Pois.

Ah, quase me esquecia. E porque os mesmos artistas continuam convencidos que o futuro da ferrovia é por os passageiros a andar depressa. Pois. E dar-lhes um grande aeroporto intercontinental, ligado à ferrovia, para poderem vir de todo o sul da Terra experimentar os nossos comboios ultra-rápidos. Claro. "É já a seguir", diziam uns tipos que também percebiam do assunto...

É preciso um Portugal melhor. Mesmo.

2 comentários:

  1. E que dizer do abandono da ligação em bitola europeia entre Aveiro/Salamanca/Medina del Campo, que garantiria o esoamento das nossas mercadorias para Espanha e Europa via Irun e Barcelona? Tal como o denunciou o Rui Moreira ontem no "Pùblico", o troço espanhol não consta do plano deles até 2020, mas do lado português é o silêncio e a conivência.

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