terça-feira, outubro 06, 2009

O sobreiro

Óleo de D.Carlos de Bragança "O sobreiro"

Há uns tempos, conversando com um companheiro do "Nortadas", dizia-me ele que o aumento do apoio ao Bloco de Esquerda era apenas uma moda que, aliás, não tinha base ideológica sólida. Não tenho dados que me permitam concordar ou discordar.

Mas certas notícias e o que leio em certos blogues, para já nem falar no que vários comentam nas caixas do Nortadas, dão-me a impressão de que se há uma moda por aí à solta, nomeadamente em determinados extractos da direita social e política, é este monarquismo sebastianista que entretem alguns jovens e emociona certas pessoas.

Compreende-se, até certo ponto e à luz do que tem acontecido no nosso xadrez político, que alguns confundam a sua perplexidade face a um regime semi-presidencialista que parece esgotado com o anseio de um sistema parlamentar puro que transforme o nosso Presidente numa Rainha de Inglaterra. Outros prefeririam sair pelo outro lado da ponte, ou seja, vêm com simpatia uma mudança de regime que copiasse o modelo francês de um presidencialismo forte que subalternizasse o primeiro-ministro.

Ora, desconfio que pelo menos uma parte daqueles "monárquicos" são afinal defensores de um parlamentarismo tipo inglês, embora deixem escapar com a água do banho a República e achem portanto natural que haja um monarca que assegure a estabilidade do Estado. Do meu ponto de vista, o erro é deles mas a opinião é democraticamente respeitável.

Outra música é a dos que misturam o assassinato de D. Carlos, acto vil e cobarde, com a implantação da República enquanto sistema político, ou que julgam esta pelos crimes de certos protagonistas ou de determinados períodos. Trata-se afinal de uma forma 'miguelista' de raciocinar e de argumentar, tanto mais que se tal servisse para julgar um sistema seria então necessário passar igualmente em revista os numerosos crimes perpetrados por vários monarcas lusitanos.

Em boa verdade, considero todo este debate não apenas uma moda espúria mas um sintoma da gripe que atacou uma certa direita (a esquerda é suficientemente esperta para não escorregar nessa casca de banana) e que julga assim encontrar um estandarte que mascare a sua impotência ou incompetência. É por isso que penso que o debate não vale um caracol e é uma mera distracção. E é por isso que (por enquanto) apenas sorrio quando me falam na necessidade de organizar um referendo sobre o assunto.

14 comentários:

  1. Meu caro Douro,

    Tens razão, uma vez mais: a monarquia implica necessariamente um regime parlamentarista. Será que é isso que se quer?

    Mas tudo isto vem a propósito da intrigante celebração dos 100 anos da República. O que há ao certo para festejar?

    Um abraço do

    JAC

    ResponderEliminar
  2. Muito bem. Apoio a 100%. Um abraço. Ernesto

    ResponderEliminar
  3. Caro Douro,
    Se este seu “post” era (também) uma resposta ao meu comentário errou redondamente no alvo.
    Concordo com quase tudo o que escreveu, tirando as piadas de mau gosto sobre o posicionamento ou aderência a modas por parte de outros, o que é elucidativo de um certo tipo de “pensadores iluminados” cheios de preconceitos sociais.
    É pena tinha o Douro em melhor conta. Nem todos conseguem fugir ao "pé de chinelo".

    NESTE MOMENTO a questão de regime não se coloca, principalmente porque não há quem personifique com credibilidade suficiente a chefia de estado num regime monárquico.
    Por maioria de razão, NESTE MOMENTO sou contra um referendo. O país tem mais em que pensar, tem outros problemas para resolver.
    Quanto ao resto... só se deve falar do que se sabe.

    Abr

    José Mexia

    ResponderEliminar
  4. Não percebo por que razão o assunto não pode - segundo a constituição - ser referendado, ou, sequer, discutido.
    Não sou monárquico, nem republicano, no sentido estrito de cada uma das expressões. Por isso acho absurdo que a constituição não me permita viver, consoante queira (eu e os meus concidadãos) numa república (em que vivemos nos últimos 100 anos) ou uma monarquia (regime em que vivemos nos anteriores 900)...
    Será esta a ética republicana? - votos sim, mas apenas quando convém...???

    ResponderEliminar
  5. Caro José Mexia, honra-me saber que me tinha nalguma consideração mas receio ser impossível que o José veja nos meus sapatos outra coisa que chinelos. Tentei separar as águas e não fazer generalizações fáceis pois acredito que haja boas intenções e sentimentos genuínos em parte (não sei se maioritária ou minoritária) dos modernos "monárquicos". O José chama a isto "preconceitos sociais"; eu chamo erro político grave, pois acho que as prioridades da direita no momento presente não passam por ressuscitar um passado que passou.

    ResponderEliminar
  6. Caro Zé Mexia

    Um rei não se escolhe.

    Um abraço

    JAC

    ResponderEliminar
  7. Caro Douro,

    Tinha, e continuo a ter consideração por si. Não se trata da pessoa mas das ideias.

    O que me parece é que o Douro tentou não fazer generalizações fáceis, mas foi precisamente isso que fez. Da forma que o fez deu ideia que todos os monárquicos são uns Miguelistas provincianos (embora não tenha nada contra os Miguelistas) agarrados a ideias pacóvias e desejosos de um Portugal de outrora.
    É o mesmo que no exagero da minha resposta, para que se percebesse, eu tenha chamado jacobinos a todos os que de uma forma básica, desculpe-me o termo, acham que os monárquicos querem é fados e guitarradas, touradas e dar vivas a D´El Rey.

    A “causa monárquica” tem um longo caminho a percorrer para rectificar a imagem elitista e marialva que por culpa própria é alimentada pelos monárquicos que são monárquicos porque sim.

    Uma última coisa. O ideal monárquico não tem nada a ver com prioridades da direita ou esquerda. Até por isso é que eu sou monárquico.

    Cumprimentos

    José Mexia

    ResponderEliminar
  8. Caro Douro,

    Tinha, e continuo a ter consideração por si. Não se trata da pessoa mas das ideias.

    O que me parece é que o Douro tentou não fazer generalizações fáceis, mas foi precisamente isso que fez. Da forma que o fez deu ideia que todos os monárquicos são uns Miguelistas provincianos (embora não tenha nada contra os Miguelistas) agarrados a ideias pacóvias e desejosos de um Portugal de outrora.
    É o mesmo que no exagero da minha resposta, para que se percebesse, eu tenha chamado jacobinos a todos os que de uma forma básica, desculpe-me o termo, acham que os monárquicos querem é fados e guitarradas, touradas e dar vivas a D´El Rey.

    A “causa monárquica” tem um longo caminho a percorrer para rectificar a imagem elitista e marialva que por culpa própria é alimentada pelos monárquicos que são monárquicos porque sim.

    Uma última coisa. O ideal monárquico não tem nada a ver com prioridades da direita ou esquerda. Até por isso é que eu sou monárquico.

    Cumprimentos

    José Mexia

    ResponderEliminar
  9. Caro Zé,

    Então e "fados e guitarradas, touradas e dar vivas a el'rei" tem algum mal!? Para mim, precisamente, uma das grandes vantagens da monarquia é o folclore - batizados, casamentos, divórcios e até funerais... sempre são melhores assuntos do que quaisquer "escutas"...

    Eu concordo com os argumentos do douro. Aliás, também concordo contigo quando dizes que a questão do regime não é urgente.

    O que não concordo é que o referendo dependa do "rei" ser melhor ou pior. É o que "Deus" quis!

    Caro douro, não vejo porque razão não se há-de discutir o parlamentarismo ou o presidencialismo, ainda que a questão possa ser levantada de forma enviesada como a que aponta... Do que não gosto é destes sistemas híbridos, que não são nem cão nem gato e que é suposto reunirem o melhor de dois mundos, quando na realidade nem sequer disfarçam as insuficiências culturais do País: os Presidentes portam-se como reis-eleitos, fingem representar todos quando foram eleitos por alguns, criam conflitos institucionais sem nunca - ou muito raramente - controlarem as demais instituições e, apesar de algum esforço, demasiado esparsamente são promotores de elevação intemporal, contra os desvarios dominantes do tempo presente. O Povo espera deles que sejam reis ao mesmo tempo que anseiam porque resolva problemas. Convenhamos que nada disto é sério.

    Mais valia clarificar. Pela minha parte, seria a favor do parlamentarismo. Que é como quem diz, da monarquia. Ainda que não seja urgente. Ainda que a questão do regime nunca tenha servido para melhorar nada, pelo menos em Portugal.

    Cumprimentos

    ResponderEliminar
  10. Caro Zé,

    Então e "fados e guitarradas, touradas e dar vivas a el'rei" tem algum mal!? Para mim, precisamente, uma das grandes vantagens da monarquia é o folclore - batizados, casamentos, divórcios e até funerais... sempre são melhores assuntos do que quaisquer "escutas"...

    Eu concordo com os argumentos do douro. Aliás, também concordo contigo quando dizes que a questão do regime não é urgente.

    O que não concordo é que o referendo dependa do "rei" ser melhor ou pior. É o que "Deus" quis!

    Caro douro, não vejo porque razão não se há-de discutir o parlamentarismo ou o presidencialismo, ainda que a questão possa ser levantada de forma enviesada como a que aponta... Do que não gosto é destes sistemas híbridos, que não são nem cão nem gato e que é suposto reunirem o melhor de dois mundos, quando na realidade nem sequer disfarçam as insuficiências culturais do País: os Presidentes portam-se como reis-eleitos, fingem representar todos quando foram eleitos por alguns, criam conflitos institucionais sem nunca - ou muito raramente - controlarem as demais instituições e, apesar de algum esforço, demasiado esparsamente são promotores de elevação intemporal, contra os desvarios dominantes do tempo presente. O Povo espera deles que sejam reis ao mesmo tempo que anseiam porque resolva problemas. Convenhamos que nada disto é sério.

    Mais valia clarificar. Pela minha parte, seria a favor do parlamentarismo. Que é como quem diz, da monarquia. Ainda que não seja urgente. Ainda que a questão do regime nunca tenha servido para melhorar nada, pelo menos em Portugal.

    Cumprimentos

    ResponderEliminar
  11. Caro Zé,

    Então e "fados e guitarradas, touradas e dar vivas a el'rei" tem algum mal!? Para mim, precisamente, uma das grandes vantagens da monarquia é o folclore - batizados, casamentos, divórcios e até funerais... sempre são melhores assuntos do que quaisquer "escutas"...

    Eu concordo com os argumentos do douro. Aliás, também concordo contigo quando dizes que a questão do regime não é urgente.

    O que não concordo é que o referendo dependa do "rei" ser melhor ou pior. É o que "Deus" quis!

    Caro douro, não vejo porque razão não se há-de discutir o parlamentarismo ou o presidencialismo, ainda que a questão possa ser levantada de forma enviesada como a que aponta... Do que não gosto é destes sistemas híbridos, que não são nem cão nem gato e que é suposto reunirem o melhor de dois mundos, quando na realidade nem sequer disfarçam as insuficiências culturais do País: os Presidentes portam-se como reis-eleitos, fingem representar todos quando foram eleitos por alguns, criam conflitos institucionais sem nunca - ou muito raramente - controlarem as demais instituições e, apesar de algum esforço, demasiado esparsamente são promotores de elevação intemporal, contra os desvarios dominantes do tempo presente. O Povo espera deles que sejam reis ao mesmo tempo que anseiam porque resolva problemas. Convenhamos que nada disto é sério.

    Mais valia clarificar. Pela minha parte, seria a favor do parlamentarismo. Que é como quem diz, da monarquia. Ainda que não seja urgente. Ainda que a questão do regime nunca tenha servido para melhorar nada, pelo menos em Portugal.

    Cumprimentos

    ResponderEliminar
  12. Peço desculpa pelo comentário aparecer 3 vezes. Devo ter sido alvo de phishing...

    ResponderEliminar
  13. "os Presidentes portam-se como reis-eleitos, fingem representar todos quando foram eleitos por alguns,..."
    vão-me desculpar mas ainda prefiro um presidente eleito por alguns do que um "rei" eleito por ninguém a não ser a via umbilical!
    mas admito que seja uma questão de gostos!!!!

    ResponderEliminar
  14. E gostos não se discutem!!!

    O ponto, porém, era outro: verdadeiros presidentes, na minha humilde opinião, são os que encabeçam os executivos...

    ResponderEliminar