quinta-feira, setembro 17, 2009

POBRE CLASSE MÉDIA

Em Espanha vai ser criado um novo imposto, ao que se diz extraordinário, que irá incidir sobre os rendimentos profissionais das pessoas singulares que ganhem mais de 50.000 euros por ano. Repare-se que não se está a falar aqui de tributar os “ricos”, mas contribuintes que ganham cerca de 4.000 euros brutos por mês.
Apesar de não se falar muito disto na campanha eleitoral, não tarda muito, sobretudo se Sócrates ganhar as eleições, que também em Portugal se crie um imposto extraordinário ou que sejam modificados os escalões do IRS, agravando-se ainda mais a já pesada carga fiscal dos profissionais.
A concretizar-se este passo, teremos mais uma agressão à classe média que, de resto, sempre foi muitíssimo maltratada pelo governo, que a despreza mas a quem tudo exige. Até quando é que a classe média, ou o que passa por isso em Portugal, vai aguentar as desconsiderações de que é vítima?
A classe média não goza de nenhuns subsídios (seja em numerário ou em espécie).
Não vê bem assegurado pelo Estado nenhum dos serviços públicos básicos em contrapartida dos seus impostos.
Na Educação, ou paga colégios privados, o que não é viável pois são naturalmente caros, ou sujeita-se a ver os seus filhos frequentarem escolas que, na sua esmagadora maioria, têm más instalações, professores incompetentes ou desmotivados, ensino orientado para a ausência de esforço e nivelado pelo menor denominador comum e, finalmente, avaliações mal feitas que visam apenas proporcionar boas estatísticas.
No que toca à Saúde, a coisa não vai melhor, porque o cidadão comum e as suas famílias têm de recorrer a consultas privadas e a clínicas para as necessidades comuns, sob pena de não terem acesso atempado a cuidados médicos de qualidade. Toda a gente foge, a não ser praticamente em caso de risco de vida, do caos que hoje são os hospitais públicos e as urgências, de onde se pode sair com doenças mais graves do que as de que se padecia originalmente.
Quanto à Segurança, estamos conversados. A situação é preocupante, por muito que as estatísticas digam o contrário (aliás, como sei em consequência de várias experiências, nas esquadras desaconselha-se a apresentação de queixa pelo facto de dela nada resultar). Não está longe o tempo em que a classe média vai ter, como sucede em vários países do terceiro mundo, de pagar do seu bolso segurança privada para defender os bens e a integridade física.
A classe média já nem sequer pode recorrer à Justiça, que está cada vez mais cara e lenta, porque o Governo tem, aparentemente, como única política para o sector a criação de obstáculos que desincentivem os cidadãos de utilizarem os tribunais.
Para além de tudo, a dita classe média ainda vê ridicularizadas as suas tradições, valores e forma de vida, que ninguém promove ou usa como bandeira política, dado que os partidos do regime, cada um deles considerando que tem como garantida uma quota da classe média, tentam seduzir sobretudo “nichos de mercado” eleitorais.
Como se pode pedir à classe média que desempenhe o seu papel como factor de coesão de uma sociedade, quando ninguém é solidário com ela que tudo sofre e tudo paga?
A classe média ou reage e vota em quem realmente a compreende ou desaparece.

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