quarta-feira, julho 08, 2009

O Homem do Leme


Homem do Leme, escultura de Américo Gomes, 1934

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»

De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»


Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»

3 comentários:

  1. Muito brinquei ao pé dessa estátua quando era pequeno! Ainda ontem lá passei à noite! Bom! :)

    ResponderEliminar
  2. Estou admirado: o JAC afinal gosta de F.Pessoa.

    ResponderEliminar
  3. Douro, sempre atento!

    Eu é mais a diferença entre o artista e a sua obra. O Fernando, como pessoa, não devia ser um tipo muito animado. É uma ideia que eu cá tenho...

    Da poesia gosto muito!

    Um abraço do

    JAC

    ResponderEliminar