quinta-feira, junho 04, 2009

Off-side


Apareceram recentemente uns apelos ao voto fundamentados na "magna" questão de se saber se se reconduz Barroso na Comissão Europeia ou não.

Não me parece que esta fulanização, sem programa, do voto de Domingo traga bons resultados, desde logo porque, aprecie-se ou não a personagem, Barroso é dos políticos mais impopulares não só em Portugal como também na Europa. Na verdade, está off-side.

Não é aliás por acaso que na lista do PS surgem umas vozes, em aparente discordância com o "engenheiro", a distanciarem-se de Durão. Eles sabem que com isso ganham votos. E não é também por acaso que as listas que o dizem apoiar, titubeiam uns motivos parecidos com aqueles com que nos pediam que votássemos na cançoneta nacional ao concurso da Eurovisão.

Numa conferência de imprensa de há uns tempos, perguntaram ao Barroso porque razão, se era assim tão ambientalista, tinha um todo-o-terreno Volkwagen Touareg de alta potência, cuja emissão de poluentes é muito alta. A sua resposta foi esclarecedora: "Esse carro não é meu, é da minha mulher".

É certo que quando aparecem pessoas como o Schroeder ou o Soares a pedirem que se substitua o presidente da Comissão, apetece logo sair em defesa do homem. Mas há também discursos a seu favor que provocam o efeito contrário, de tão bajuladores ou ignorantes. Um tipo lê o "Jornal de Notícias" e fica com náuseas e torna-se muito difícil não pegar logo na fisga e num calhau.

O que verdadeiramente importa é o balanço da sua Comissão. Se é certo que alguns comissários mostraram serviço, sou dos que consideram que o projecto europeu, tal como foi imaginado pelos seus fundadores, sofreu muito nos últimos anos. A forma como esta Comissão geriu o fiasco da Constituição, o falhanço de uma verdadeira política de energia, o desnorte em matéria de concorrência, o nevoeiro sobre as regras relativas aos deficits orçamentais, a consolidação de uma gestão por um directório de Estados, a tardia e trapalhona intervenção na crise económico-financeira, o 'flop' em que se traduz esse slogan "Better regulation", enfim, a inexistência de um rumo claro ou de uma ideia, são um fardo pesado que nenhuma hagiografia poderá esconder.

Com esta agravante: em vez de se assumir as responsabilidades e corrigir o tiro, vem sempre a mesma resposta – "o carro é da minha mulher".


2 comentários:

  1. Subscrevo, no essencial.

    Venho apenas acrescentar uma "facada": 'a consolidação de uma gestão por um directório de estados' era inevitável desde que se decidiu duplicar o número de estados membros.

    Daí a insensatez de quem prefere afirmar-se "anti-federalistas". Não perceberam ou, pior, não querem perceber, que a única forma de combater essa inevitabilidade (a não ser que alguém invente outra) é precisamente a de conceder força ao centro, nas matérias que são comuns, e assegurar uma representação mínima a todos (isso os tratados vão fazendo); nas federações, em regra, essa representação mínima vai sendo feita de forma paritária numa das câmaras legislativas. Na Europa, restou a Comissão (paridade entre o número de comissários). O que nem assegura representação paritárias aos Estados, nem contribui para reforçar o peso da Comissão.

    Misérias dos tempos modernos...

    ResponderEliminar
  2. Meu caro Ventanias
    Temos uma divergência já antiga nestas matérias, embora constate que há pontos comuns. Se calhar são questões de semântica as que nos separam, mas qualquer construção que dilua a voz dos pequenos e médios Estados-Membros nos orgãos deliberativos merece a minha desconfiança. Há estados federais em que os estados federados estão mais protegidos do que nós na União, exactamente porque há esse "senado" que igualiza os membros, mas não é para isso que a União caminha e o Tratado de Lisboa mais não faz que reforçar a tendência contrária que é perversa. Quanto a ser federalista ou anti-federalista, para mim tanto me faz, na certeza porém de que não mais ocorram reuniões de directórios em que participa o presidente da Comissão a dar-lhes cobertura e uma falsa legitimidade.
    Saudações amigas

    ResponderEliminar