O cabeça de lista do CDS às eleições europeias têm uma posição sobre a candidatura da Turquia à Europa. Está numa entrevista dada ao Público de ontem. Tem reservas.
A imagem é da Wikipedia, em inglês, na entrada sobre a Europa.Segundo ali afirma, por razões territoriais (só uma pequena parte da Turquia é na Europa), demográficas (a Turquia seria transformada no maior país da União Europeia) e identitárias ( a Europa é judaico-cristã e a Turquia profundamente muçulmana). E depois, acrescenta, há uma questão estratégica (acha que não faz sentido a Europa ter uma fronteira com o mundo árabe).
Discordo de todas as razões invocadas.
É verdade que só uma pequena parte da Turquia é no continente Europa, apenas se se quiser aceitar que a península da Anatólia pertence ao continente asiático. Isso não é claro; geograficamente é até discutível, pelo menos na medida em que a Europa seja considerada um continente diferente da Ásia. Se sim, pode-se perfeitamente discutir a qual dos continentes pertence a Anatólia. Se não, então a Anatólia pertence à mesma massa continental que a Ásia e a Europa também. Basta olhar para o mapa acima e perceber a artificialidade de considerar o Cáucaso na Europa e excluir a Anatólia; para já não falar da discricionariedade de separar a Europa e a Ásia nos Urais...
O argumento demográfico não o compreendo, nem comento. Fazê-lo seria admitir coisas que não me digno a considerar.
A razão identitária é para mim a principal razão a favor da adesão da Turquia. A tradição judaico-cristã, de que a Turquia, aliás, também comunga, evoluíu no sentido da separação entre o Estado e a Religião, no sentido do secularismo do Estado; a Turquia, partilhando também da tradição muçulmana, é profundamente secularista. Mais, a tradição judaico-cristã partilha muitos valores e princípios com a tradição muçulmana. Não é o facto de haver correntes radicais no Islamismo actual que alteram essa comunhão. Como o Santo Padre, muito bem, tem sublinhado.
Mas sobretudo, discordo da questão estratégica. A Europa já tem uma enorme fronteira com o "mundo árabe"; é marítima, mas está lá. Mais, as questões estratégicas não se esgotam na delimitação de um fronteira, bem pelo contrário. E, a esse nível, há fortíssimas razões para ser a favor de um, futura, adesão da Turquia. Sobretudo no plano interno turco. Se a Europa pretende fronteiras estáveis com o universo muçulmano, então mais ainda precisa de uma sociedade muçulmana estável, secular e democrática. Para alcançar esse desiderato, a Europa tem fartas e boas razões para promover a necessária transformação da Turquia num País que se assemelhe a um Estado-membro da União. Se e quando isso acontecer, não haverá qualquer razão para a Turquia não aderir.
Finalmente, mas não de somenos, as reservas do candidato do CDS não são a opinião do Partido. Este, nunca se pronunciou sobre esta matéria. E é bom que não o faça, para não ter de vir a desdizer-se um dia que volte (para quem ainda acredita - como eu) a estar no poder.
É possível uma Europa melhor. Basta querer. (E um CDS e um Portugal melhor; basta ouvir e entender, nestas matérias, o que significa o que afirma o Prof. Adriano Moreira; por exemplo, na passada segunda feira no Prós e contras - eu sei que o Prof. também tem reservas, mas eu estou a falar do que significam os argumentos a que recorre, para Portugal e no longo prazo).
Bem dito!
ResponderEliminarEstou inteiramente de acordo com o Ventanias e poderia mesmo acrescentar muitas outras razões pelas quais partilho o seu ponto de vista.
Respeito as opiniões contràrias mas acho intoleràveis as posições de meias-tintas que pretendem prosseguir as negociações "com boa fé" ao mesmo tempo que preparam um caldinho para mais tarde lhes fechar a porta na cara, chamem-lhe 'plano B' ou outra coisa qualquer. E por favor, evitem falar em 'cooperações reforçadas' pois essa expressão jà tem patente registada no actual Tratado e sò é aplicàvel a Estados-Membros. Jà chega de mistelas conceptuais e dispensam-se barafundas de vocabulàrio.
Desde que a gripe não ande de lá para cá...
ResponderEliminarJon Stewart – A gripe suína e a pandemia do medoCNN: Notícia de última hora. Há uma nova estirpe altamente contagiosa da gripe e, neste momento, o número de mortos está a aumentar. Vamos a caminho de uma pandemia?
Jon Stewart: Me… para isto! Uma pandemia? A sério? Uma pandemia também. [Jon vira-se para Deus] É obra Sua? Uma pandemia? Não acha que já é demais? Elegemos Obama, o muçulmano cristão. Que mais quer Ele de nós? Agora, devia tirar o pé do acelerador! Mas há cerca de duas horas que não vejo as notícias, portanto, vamos ver em que ponto estamos.
CNN: A gripe suína pode matar dezenas de milhões de pessoas, se não for travada.
Jon Stewart: É a me… mais assustadora que ouvi em toda a semana. Conseguiram. Estou em pânico. Mais alguma coisa que queiram acrescentar?
Flashes noticiosos: Não quero entrar em pânico… Não queremos causar pânico… Não queremos causar o pânico com esta notícia, mas é uma notícia importante.
Jon Stewart: Nem sequer vêem as vossas próprias estações de televisão? Vocês são a única razão para estarmos em pânico! Já que vamos morrer todos, acho que é justo perguntar: O que é a gripe suína?
Especialista: Tem componentes genéticos de uma série de fontes, incluindo humanas, suínas e aviarias.
Jon Stewart: É uma mistura de fontes humanas, suínas e aviarias. Só há duas formas de isso acontecer: uma mutação genética que atravessa as três espécies ou um idiota que f… uma sanduíche de peru e bacon.
Vídeo legendado em português
Somente a elite é secular. O resto da população é muçulmana. Não é de confiança, como se tem visto em vários episódios (veja-se os cartoons de Maomé). Além disso, a Turquia nunca renunciou ao seu passado imperial.
ResponderEliminarGP
Com o devido respeito, desta vez discordo do Ventanias...
ResponderEliminarBasta ouvir alguns comentários do Zé povinho turco: «não quero pertencer a um clube cristão», «não precisamos da Europa ela é que precisa de nós», «eles não respeitam Maomé»...
Há uma idiossincrasia fundamentalista profundamente entranhada no povo (ainda que o secularismo eventual do Estado possa atenuar isso...).
No actual contexto, em que o desemprego atinge tantos jovens, quando os fenómenos de agitação urbana são um cocktail explosivo (englobando banditismo puro e duro, pretextos fundamentalistas ou separatistas, dentre outros...) a admissão deste país, no estado em que estamos, é, salvo melhor opinião, contraproducente.
Compreende-se que os americanos forcem, compreende-se que em termos geoestratégicos possa ser útil (em parte...), mas os prejuízos e os perigos desestabilizadores são maiores...
Há que ser muito prudente nesta melindrosa matéria. O populismo paga-se caro, muitas vezes não muito mais tarde...
Caro rouxinol, antes de mais quero concordar consigo. "No actual contexto", de facto, seria prematuro pensar a adesão turca.
ResponderEliminarCaro rouxinol e caro GP,
Acontece que a Turquia que se espera que um dia venha a aderir, necessariamente, será diferente da actual.
A questão, portanto, é saber se a queremos incentivar a percorrer esse caminho que a aproximará da Europa, ou se preferimos continuar a enviar-lhe sinais de dúvida, sobretudo sobre a sua "competência", capacidade, para o percorrer...
Pela minha parte, não vejo que o facto da população ser muçulmana seja um grande problema. Agrada-me o facto de ser jovem. Problema é garantir as instituições e, sobretudo, o desenvolvimento económico que leva as pessoas a quererem consumir e ocupar-se de coisas mais comezinhas do que serem mártires de qualquer religião ou ideologia.
O que quero dizer, é que o essencial nesta história é o de se apoiar a Turquia no seu progresso até uma economia e uma sociedade do tipo das europeias. Tal como estamos a fazer com alguns dos países do Leste da Europa, como a Bulgária e a Roménia, e como queremos fazer com os países dos Balcãs.
Sinceramente, como democrata-cristão, europeu e português, não me agrada sequer ponderar que pelo mero facto das pessoas acreditarem em Álá, em vez de Deus ou Javé, as transforme em cidadãos de segunda; também penso o mesmo em relação a diferenças étnicas ou nacionais e mesmo raciais.
Isto no que respeita aos interesses civilizacionais europeus. Depois há os estratégicos e políticos. Esses creio que são menos controversos. Ainda assim, sempre lhe diria que não são apenas americanos, são também europeus.
Finalmente deixaria uma provocação: quando olhamos para o Irão, que em tempos competia com a Turquia para ver quem era a sociedade muçulmana mais desenvolvida, e comparamos o sucedido nas últimas três décadas, na Turquia e no Irão, não lhe parece que a Europa tem um sério, muito sério, interesse em ancorar a Turquia aos modelos ocidentais? Que diria de uma Turquia caída num fundamentalismo de tipo iraniano, ali, tão pertinho da Europa, dotada do seu exército, da sua juventude, etc, etc?
Obrigado pelo seu comentário. Como a todos os demais, aliás.