segunda-feira, maio 04, 2009

35 anos

Infelizmente, os mentores e os seguidores de Abril (leia-se 25 de Abril de 1974) ainda não aprenderam a lidar com as novas gerações. Não que me considere da nova geração, mas tinha 10 anos em 1974, o que me faz ter algum (feliz) distanciamento com o regime do Estado Novo e uma integração quase total com a nossa vida dita democrática. Todos os anos vemos e lemos as mesmas histórias: os capitães de Abril, onde aparecem sempre os mesmos protagonistas que, na maior parte dos casos, alinhavam com o Partido Comunista, na tentativa de criar um regime totalitário, tipo “democracia cubana”. Ainda não houve a preocupação de tentar analisar friamente o que mudou. Para melhor e para pior. Se é que mudou muita coisa. O que parece ser consensual é que vivemos melhor (materialmente falando), embora com dívidas, por vezes, impossíveis de liquidar; e que temos liberdade de expressão. Embora também neste último caso, muitas vezes é uma liberdade condicionada. Primeiro, porque nem todos têm acesso aos órgãos de informação para manifestarem a sua opinião sobre assuntos sérios (a não ser que queriam forçar-me a aceitar que aqueles programas da manhã e sobre o futebol são exemplos de liberdade de expressão). Mas o principal problema é mesmo o “pensamento único” nacional, europeu e quiçá global. “Pensamento único” é a suposta corrente natural que os media fazem alastrar, sobre certos temas, que é dada como adquirida e em que é quase impossível ser-se contra, sob pena de sermos “condenados” ao isolamento ou até insultados. Exemplos: que ninguém ouse defender George W. Bush; que ninguém ouse contrariar a aceitação dos casamentos gay; que ninguém ouse dizer que Fidel Castro é um Ditador, pelo menos igual aos seus “pares” no continente americano e, porventura, bem pior que Salazar; que ninguém seja contra o Aborto nos moldes actuais, etc, etc, etc. Enfim, apenas alguns exemplos em que a liberdade de expressão é, no mínimo, ignorada. Essa dita corrente “obriga-nos” a aceitar que existem órgãos de informação de excelência, nos quais devemos acreditar piamente. Regra geral, jornais tradicionalmente alinhados à esquerda que, em determinado momento da história, foram um exemplo, mas que hoje são um produto como qualquer outro e, quiçá, sem viabilidade financeira, nem intelectual. Tipo Portugal e os portugueses que ainda vivem a reboque do Infante D. Henrique, numa onda de glória e de coragem que ninguém nos reconhece. E bem! Assim, voltemos ao início: o que mudou? Quase que me apetece ironizar e reconhecer a capacidade realizadora dos revolucionários que, em pouco tempo, “construíram” pontes, estádios, praças, estradas, escolas, etc…Sim…estou a ironizar com a onda de novos baptismos de algumas obras realizadas durante o Estado Novo. Para mim, é um atentado à nossa história e uma mediocridade intelectual mudar todas as referências ao antigo regime. Um dia, vamos ter, por exemplo, o Bloco de Esquerda, a querer apagar a memória de um ou outro Rei. A ver vamos. Um povo que não entende o seu passado, não está preparado para o futuro. Mas o grande problema é mesmo a educação. O acesso livre e obrigatório ao ensino acabou por provocar uma invasão de novos alunos, sem que existissem professores em quantidade e sobretudo em qualidade. Não é só em recursos naturais que somos pobres. Assim, em poucos anos as escolas encheram-se de alunos que foram forçados à escolaridade obrigatória, mas sem professores que soubesse educá-los e prepará-los para a vida. O resultado está à vista! Antes tínhamos respeito pelos nossos professores, hoje é uma das profissões mais espezinhadas. Do reinado do Professor passamos para o reinado do aluno. Tal como as forças de segurança. Antes eram respeitadas, hoje são ridicularizadas e atacadas sempre que nos querem proteger. Ou alguém acredita que, regra geral, os polícias disparem ou batam porque lhes apetece sobre pessoas que têm sempre uma infância ou uma adolescência problemática? Em resumo, tudo o que exercia autoridade neste país foi desacreditado. Por último, os Pais. Com a procura ou necessidade de aumentar o nosso bem-estar e, em muitos casos, por mera sobrevivência, fomos todos à procura de mais e melhores empregos. Com esta realidade, sobra pouco tempo e, por vezes, paciência, para exercer a autoridade necessária sobre os nossos filhos e dar-lhes o básico que qualquer ser humano deve ter: educação. Somos hoje um povo mal formado. Em todos os aspectos. E as excepções ou fogem do país ou são “absorvidas” pela mediocridade reinante. Mesmo na economia, os “patrões” do antigo regime são quase os mesmos de agora. As empresas públicas foram inviabilizadas em 2 anos (1975 e 1976), com a entrada de milhares de trabalhadores desnecessários e novos. Ainda hoje pagamos essa aventura. Por tudo isto, o melhor do 25 de Abril de 1974, foi mesmo a eleição do Obama. Agora a sério: o melhor é que continuamos a viver num país provinciano e pacato e isso, em muitos aspectos, tem piada, é pacífico e ninguém nos chateia muito. Porreiro pá!

Nuno Ortigão

NB. O meu mais rasgado elogio a quem se lembrou de colocar aquela bandeira nacional no cais de Gaia. Cada vez que a vejo sinto orgulho em ser português. Um exemplo a repetir, pelo menos, em todos os edifícios públicos.


Nuno Ortigão
(por perda da password via interposta pessoa)

3 comentários:

  1. Dizer mal de Abril está na moda. Este Ortigão só diz disparates. Se não fosse Abril ele nada disto poderia dizer. Abril liberdades mil!!!
    Portugal sem Abril seria como um rio sem água, um mar sem sal, um corpo sem alma!

    Dizer mal de Abril é pecado, é blasfémia, é trágicomédia!

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  2. Ó Nuno, um dia destes ainda temos que descobrir de onde vem essa sua mania pelas bandeiras! Ernesto Serna

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  3. Estou de acordo com a sua frase "Somos hoje um povo mal formado. Em todos os aspectos", mas estaria ainda mais de acordo se tivesse retirado o advérbio circunstancial de tempo... ou então escrever "sempre fomos... e ainda não nos curámos"
    E o comentário do "rouxinol" demonstra-o!
    Esta sua posta daria pano para mangas... para uma bela tardada de discussão aberta e construtiva em torno do "antes e depois".
    Tinha 18 anos no 25 barra 4. E o "rouxinol" deveria andar pelos vinte três! Ambos partilhamos(pelo descrito) algumas ideias sobre "l'Avril au Portugal", mas usamos, certamente diferentes meios para as divulgar e para as discutir...
    enfim, é como a da farinha maizena!

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