sexta-feira, abril 03, 2009

O mundo às avessas


Onde digo norte-sul, podia dizer esquerda-direita, acima-abaixo, leste-oeste e por aí fora. No fundo, atrapalham mais do que ajudam.

Há uns tempos, vi uns mapas representando o planeta Terra que não correspondiam ao clássico esquema de colocar a Austrália na ponta direita e a América e mais um pedaço do Pacífico na parte esquerda do planisfério, estando a Europa e a África, mais o Atlântico, na parte central. Os tais mapas eram diferentes porque colocavam a Austrália no centro (aliás, é na Austrália que tais mapas são comercializados).

Visto isto, a questão imediata que se coloca é a de saber porque razão colocamos a parte a que chamamos o "hemisfério norte" na metade superior da folha e o dito "hemisfério sul" na metade inferior. Por outras palavras (e subindo mais um degrau), porque carga de água é que imaginamos sempre o próprio sistema solar como um alinhamento de planetas à volta do Sol em que todos os pólos "norte" estão para cima? Se representasse o mesmo sistema ao contrário, ou seja com todos os pólos "sul" para cima estaria a cometer um erro? Claro que não!

O resultado, todavia, seria que eu veria invertido o movimento de translação dos planetas em volta do sol, isto é, eu já não poderia dizer que a Terra circunda o sol no sentido inverso ao dos ponteiros do relógio mas, enquanto observador fixo e externo, eu constataria que afinal os planetas do sistema solar têm um movimento de translação no sentido dos ponteiros do relógio. O mesmo se diga em relação ao movimento de rotação, na perspectiva de um observador externo.

Em que é que tudo isto me adianta? Nada!

Mas ajuda a perceber que temos a nossa cabecinha muito condicionada por esquemas mentais pré-estabelecidos, por uma linguagem formatada com noções que não prestam para grande coisa quando nos mexemos noutras esferas.

Se há um domínio em que há mais mitos mentais é o do conhecimento do Universo, a propósito do qual, aliás, nos ensinaram verdadeiros disparates: não, o Sol e todas as estrelas não são corpos fixos pois têm um movimento de translação relativamente ao centro das suas galáxias; no Espaço cósmico, a velocidade é sempre uma medida relativa porque tudo está em movimento; no Universo, as medidas espaço e tempo são a mesma coisa e a única ferramenta de medição que temos é a da velocidade da luz e mesmo esta precisa de dois pontos imaginários.

2 comentários:

  1. ok, percebo a intenção.
    mas o que se passa é que, com o objectivo de tornar o conhecimento das coisas o mais público e compreensível possível, se opta pela utilização de convenções.
    então, convencionou-se que o pólo norte seria virado para cima. nada mais.
    esta convenção baseia-se, naturalmente, no pólo magnético, tendo-se determinado que o norte ficaria para cima sem dúvida porque a "civilização" aí se encontrava.
    quanto aos outros planetas, bom, não sei se o que está para cima é o norte ou não, ou se esse norte corresponde à polaridade do nosso sul. o que parece certo, é a existência de um eixo em cada um deles, paralelo ao eixo do centro do sistema em que se encontra.
    o facto de o movimento de rotação ou de translacção se verificarem no sentido directo ou retrógado, tem, uma vez mais, a ver com outra convenção, a da direcção do movimento. não tem necessariamente a ver com o relógio, terá mais a ver com o movimento do sol "em torno da terra".
    o resto, como disse, são convenções, redundâncias de comunicação, símbolos e índices e o diabo a quatro. é preciso dar sentido às coisas e a falta destas convenções tornaria as coisas mais divertidas, sim, mas mais complicadas. prova disso é a surpresa sentida ao ver a austrália no meio do mapa.
    um dia que isto expluda, não há norte que nos salve. nem o porto.

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  2. Apenas duas observações: creio que o norte magnético da Terra está no pólo sul; outra: um dos planetas do sistema solar tem o seu eixo de rotação na horizontal, ou seja, roda sobre o seu "equador"(creio ser Neptuno ou então é Urano). Ele há coisas, verdad?
    Obrigado pelo seu comentário.

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