Mas afinal para onde é que vai o Rangel?

Contam-se pelos dedos das mãos - ou se calhar pelos de uma - os parlamentares que, em mais de 30 anos de democracia, merecem constar da história daquela casa. São raros os parlamentares que conseguem escapar da mediania quando usam da palavra e não raros os que caem na desgraça da mediocridade. O que não é mau, uma vez que o Parlamento deve ser o espelho e não o inverso do país. Paulo Rangel é claramente um parlamentar que está a construir o seu lugar no conjunto desse pequeno grupo de excepção. Desde que, há meia dúzia de meses, subiu à condição de líder parlamentar do PSD, as coisas mudaram muito naquela casa. O governo passou a contar com uma oposição esclarecida em termos técnicos, clara em termos linguísticos e aguerrida em termos políticos. O primeiro-ministro deixou de poder passear a sua soberba descuidada nas barbas dos parlamentares e a sair incólume de todos os disparates, omissões, incongruências e mesmo mentiras que ia proferindo do alto do seu lugar na bancada. Rangel, sem nunca perder um milímetro de compostura, encostou Sócrates às cordas sempre que isso lhe apeteceu - e sempre que o primeiro-ministro mereceu. Paulo Rangel fez mais pelo PSD nos últimos meses que todos os discursos de Manuela Ferreira Leite juntos. Nesse quadro, a pergunta é: mas porque é que o PSD se lembrou de mandar o único tribuno de excepção que arranjou nos últimos oito anos para a Europa? O que é que leva o maior partido da opisição a retirar do Parlamento o seu mais brilhante parlamentar? A explicação só pode ser uma: Manuela Ferreira Leite acha que vai ganhar as legislativas e por isso não precisa de um líder da oposição com aquela qualidade. Deve ser isso.