terça-feira, março 10, 2009

Crise e certezas

Se há certeza que já todos adquirimos com a actual crise, é esta: os choques económicos que até agora se tentaram, não resultaram.

O que nos leva a suspeitar a certeza seguinte: os próximos choques também não vão resultar.

Não creio que isto seja um drama, conquanto não se ultrapassem níveis comportáveis de crise social. Não sei se isso já está garantido, mas espero que sim.

O que sei, é que a saída da crise vai ser mais penosa em países como Portugal, onde a qualificação das pessoas ainda é muito baixa, do que noutros que estão já em patamares mais avançados de qualificação dos seus trabalhadores. E porquê? Por uma razão simples: o Mundo não vai andar para trás, por muito que dê essa sensação. As soluções económicas de amanhã, serão baseadas nos avanços a que assistimos nos últimos anos, provavelmente depurados de muitos dos exageros que entretanto permitimos.

Ora, no caso português, isto significa duas coisas principais. Primeiro, a competitividade que a nossa economia precisa depende muito mais da melhoria da gestão das nossas empresas do que da formação dos nossos trabalhadores.

Esta última é, sem dúvida, essencial. É ela que permite a cada um encontrar soluções pessoais e familiares melhores do que as que assistiram aos seus pais e avós. Mas não chega.

Quem como eu assistiu à produtividade que atingem os nossos trabalhadores portugueses noutros países, sabe que o problema principal se situa na falta de qualidade da gestão nacional.

Não é para admirar. Durante décadas, as nossas elites, as responsáveis pela gestão, pensaram que se podiam bastar com o mínimo, culpar a falta de qualificação dos trabalhadores, e remunerar-se acima da média e do aceitável. Esse tempo acabou (felizmente). Agora, ou se modernizam ou perdem eles próprios o seu ganha pão.

Segundo. Essa competitividade derivada de uma melhor gestão, implica inevitavelmente muito melhor qualidade nas decisões políticas. O espírito perdulário e auto-cêntrico em que se governou o centrão, não é compatível com os desafios que se aproximam, a velocidade acelerada.

Isso implica que se debatam e questionem as escolhas públicas com muito mais seriedade do que tem acontecido ultimamente. Não basta afirmar que certas obras públicas são caras; é preciso afirmar o que se faria com o dinheiro libertado pela não realização de qualquer delas. É preciso discutir as bases e as fundamentações das obras que, ainda assim, se considere dever levar a cabo. É preciso garantir que quaisquer obras aceites, obedecem a um qualquer objectivo maximizante da competitividade nacional, e não apenas que serve um qualquer plano que alguém algum dia pensou que poderia levar a cabo por insuficiência de debate; quer dizer, apenas porque escapava ao escrutínio da Nação.

Isso implica que se ponderem devidamente as consequências mais amplas de todas as opções. E que se pondere o seu impacto no "acréscimo de competitividade nacional" exigível. Este deve ser o padrão de toda e qualquer decisão. Este devia ser o padrão da organização do País. Que necessita, igual e urgentemente, de se modernizar - sob pena de prejudicar seriamente as hipóteses de recuperação do País, a longo prazo.

E, por tudo isto, deixo aqui um primeiro alerta: a Terceira Travessia do Tejo, tal como está pensada, NÃO SE JUSTIFICA. O País não pode desperdiçar mais recursos. Muito menos recursos que insistem num modelo de desenvolvimento (Lisboa a puxar pelo País) que é altamente prejudicial à afirmação da competitividade nacional, sobretudo no Mundo do pós Grande Depressão do Século XXI.

O que o País precisa de começar a construir, desde já e aceleradamente, é uma nova rede de transporte ferroviário de mercadorias, em bitola europeia, que aproxime as nossas melhores empresas dos seus mercados naturais, a custos e velocidades razoáveis.

É possível um Portugal melhor. Basta querer!

2 comentários:

  1. http://justicaparaoboavista.blogs.sapo.pt/

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  2. Não é falta de qualidade na gestão! É gestão vocacionada para criar nababos e sangrar empresas não investindo nelas e depauperando a economia nacional mas enriquecendo a minoria que gere desta forma.Uns enriquecem para empobrecer o país no seu todo! o efeito eucalipto adentro da esfera economicofinanceira!

    Dantes havia o colchão! Agora há os offshores que é um colchão de dimensão fantástica!

    É aí que mora o cerne da questão!

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