No CDS, infelizmente, a fulanização produziu resultados dramáticos para o partido, que de terceira força política se foi paulatinamente convertendo na quarta e, há quem receie, corre mesmo o risco de vir a ser a quinta. A verdade, é que no CDS se assistiu sempre a um fenómeno de abandono dos líderes, normalmente acompanhados por um número significativo de militantes, de cada vez que os resultados não correspondiam ao que esses líderes esperavam. Também é certo que o partido perdeu muito com isso, sobretudo representação popular.
Não sei qual é o ovo e qual a galinha. Sei é que este estado de coisas representa uma falta de ambição dos democratas-cristãos que me incomoda. Julgo que a vontade de liderar um partido não deve prejudicar a vontade de que esse partido tenha implantação nacional. Podemos lutar entre nós para ver quem estará nas melhores condições para liderar o barco. Mas não podemos duvidar para que lado deve andar o barco.
E é por isto, precisamente por isto, que me incomodam os democratas-cristãos que só se mostram disponíveis para colaborar se, e quando, o líder for outro. Considero esta atitude de uma falta de ambição espantosa. Não me admira que essa falta de ambição se traduza em resultados eleitorais inferiores aos que o partido poderia, nessoutras condições, ambicionar.
Vem isto a propósito da importância que alguns destacados, e outros nem por isso, militantes do CDS têm dado à questão das alianças sócráticas.
É difícil, eu diria impossível, adivinhar neste momento qual será o cenário pós-eleitoral - nas legislativas. O ano que vivemos será um ano de más notícias, disso estou certo. As dificuldades porque passarão a nossa economia e muitos portugueses, trarão a nu as debilidades da democracia portuguesa. A salvação mírifica que nos habituamos a esperar das grandes obras públicas é hoje um eldorado esgotado. A falta de preparação dos portugueses, graças essencialmente à pobreza do nosso sistema de ensino, só irá agravar as consequências da crise; não só durante a crise, mas infelizmente sobretudo quando se tratar de sair da crise. A governabilidade do País está em causa, não só pelos vícios do centrão nos grandes negócios, como sobretudo pela sua - dos dois partidos centrais - incapacidade para promover reformas; a questão da avaliação dos professores aí está para o demonstrar. Os dois partidos do centrão criaram um monstro no Estado e à volta do Estado que agora nos esmaga a todos, transformaram as máquinas partidárias em agências de empregos privilegiados e gerem a coisa pública despudoradamente em favor de si próprios. E no entanto, voltamos a ter as obras públicas como únicas saídas para a crise. Perante tudo isto, creio que todos os cenários eleitorais são possíveis.
Não me admiraria se o povão do centrão viesse a preferir uma maioria de Sócrates do que maioria nenhuma. Também não ficaria surpreendido se o Povo, cansado da falta de soluções e capacidade governativa, viesse a alhear-se das eleições, produzindo um Parlamento disperso, dividido e sem maiorias claras.
Em qualquer destes cenários, não percebo porque é que será irrazoável que o CDS escolha não se pronunciar agora sobre o que fará quando se souber o resultado das eleições. Não só acho inteligente, como me parece a única coisa sensata a fazer.
Não vejo no actual PSD uma vontade de mudança que me inspire. Também não vejo no PS uma governação que me assuste, tirando as questões que agora se classificam de divisivas da sociedade - aborto, divórcio, casamentos gay; isto apesar de considerar quasi-criminoso o que se anda a fazer, ou a deixar de fazer, em matéria de obras públicas, especialmente na falta de uma moderna política de transportes. Mas vejo, em qualquer dos dois, uma grande vontade de chegar ao poder e de governar a distribuição das actuais verbas europeias, provavelmente as últimas a que teremos acesso a níveis desta ordem de grandeza.
Não ficaria surpreendido, por tudo isto, se viessemos a ter um governo do bloco central, caso o PS não chegue à maioria absoluta. Pela minha parte, até defenderia que o CDS forçasse isso, no que depender de si. Às vezes é preciso que as coisas piorem primeiro, para poderem melhorar depois. Mas também compreendo que o CDS não possa permitir que o PS fique refém da extrema esquerda.
Claro que está que o CDS não será governo com o PS, parece-me que o debate sobre estas matérias redunda em questões pessoais, a tal fulanização com que comecei. O que quiz aqui demonstrar é que isso implica um problema de falta de ambição.
É possível um Portugal melhor. Basta querer!
PS. A propósito, sempre afirmo aqui que tentarei defender, na anunciada assembleia geral de militantes de Lisboa, que o CDS vá sózinho ou então com o PS, nas eleições à câmara de Lisboa; temos um legado, da Dr.ª Maria José Nogueira Pinto, a defender, temos uma visão e uma tradição; devíamos ir sozinhos. Mas se não formos sozinhos, porque não ir com o PS, negociando previamente um rumo para a nossa capital?
Acho muito boa ideia, e muito coerente :), essa da aliança do CDS com o PS para a Câmara de Lisboa. Mas não acredito muito, porque o António Costa já disse na última Quadratura o que achava - e a pouca consideração que tinha - sobre o actual CDS. E para dançar tango sempre são precisos dois.
ResponderEliminarE concordo que existe o legado da Dra. Maria José Nogueira Pinto, mas temo que isso seja fulanizar demasiado a discussão...
Eu, para já, voto no Porto e por aqui a incerteza também é grande.
O pior de tudo é o estado do País, e não há sinais de esperança. Nem à esquerda e muito menos à direita.
Um abraço
JAC
Pois, não será fácil... mas também, encontrar um rumo para a capital nunca foi tarefa fácil; cada governo tem a sua opinião, cada direcção autárquica o seu projecto!
ResponderEliminarFelizmente, já não há dinheiro. Por isso mesmo é que, negociar por negociar, porque não com António Costa, que me parece muito mais credível do que Pedro Santana Lopes?