Tenho estado ausente deste espaço. Não por falta de vontade de intervenção, não por preguiça, não por desinteresse, mas por absoluta falta de tempo. Penitencio-me.
Neste momento, contudo, em que o recomeço depois das férias é sempre infernal, não consigo deixar de partilhar algumas reflexões que esta rentrée suscitou.
No fim de uma "silly season" que foi mais silly do que season, fomos surpreendidos por uma bomba: Paulo Portas escondeu de tudo e de todos, durante um ano, a demissão do único Vice-Presidente que lhe restava, o seu amigo de sempre Luís Nobre Guedes.
Duas questões me assaltam: porque se demitiu Nobre Guedes? porque escondeu Paulo Portas esse facto?
Luís Nobre Guedes esteve sempre ao lado de Portas e sempre foi um dos seus ideólogos. Em Maio de 2007, apesar de não ter participado activamente no assalto ao Partido protagonizado por Portas, sufragou a sua presidência, aceitando a vice-presidência do Partido. Em Setembro mudou de ideias. Porquê?
Parece-me que realmente só a amizade de muitos anos que o unia a Portas lhe permitiu ficar ao seu lado naquelas condições, depois dos episódios vergonhosos de Óbidos e da despudorada exibição de fome de poder que Portas mostrou. Entre Maio e Setembro, Luís Nobre Guedes deixou de acreditar, ao confirmar a falta de projecto político de Portas para o Partido e apenas a presença de um projecto pessoal de poder, parece que apenas norteado pela apetecida imunidade.
E só mesmo a amizade privou os restantes membros da Direcção e da Comissão Política Nacional da intimidade de uma carta.
E Portas, porque escondeu de todos a atitude de Nobre Guedes, o amigo dos amigos, o que sempre estivera com ele no santo dos santos?
Talvez precisamente por isso, para não mostrar publicamente que já nem o mais próximo, aquele que sempre estivera em todas as guerras, em todos os combates, acreditava que ele, Portas, ainda tinha um projecto político para Portugal. Para não mostrar que ele, Portas, mascarara de projecto político nacional uma ambição pessoal, à míngua de universidades privadas que aí grassa.
E talvez, também, porque ter de partilhar esse tipo de questões "comezinhas" com os outros membros da Direcção e da Comissão Política Nacional é uma chatice, não vá o Diabo tecê-las, haver uma indiscrição e o CDS aperceber-se da fraude em que está mergulhado.
Enfim, novamente o PP (Paulo Portas) no seu melhor.
Mas, perante a "caixa" jornalística do Público, uma coisa correu mal: a demissão de Manuel Sampaio Pimentel, vereador da Câmara do Porto e membro da Comissão Política Nacional do CDS, que, numa atitude vertical, entendeu que não podia fazer de conta e que o comportamento do Presidente do Partido punha em causa o próprio orgão a que pertencia.
Se Paulo Portas esconde um facto desta importância, a demissão do nº 2 do Partido, da sua própria Comissão Política, isto é, dos seus pares, daqueles que foram escolhidos para com ele dirigirem o Partido, o seu orgão colegial máximo, o que é que lá estão a fazer os seus membros? Que mais lhes será escondido? E que confiança podem ter no seu Presidente?
Parece-me que estas questões deveriam ser ponderadas e respondidas pelos restantes membros da CPN, sobretudo por aqueles que mais responsabilidades têem na condução dos orgãos locais do Partido, pela sua proximidade aos militantes de base, que têem o direito de esperar a mesma verticalidade e coerência que Sampaio Pimentel, um apoiante de sempre de Paulo Portas, demonstrou.
Mas isso é outra conversa, e fica para outra vez. No entretanto, e à espera, sentemo-nos!
Esclarecedor. Subscrevo sem reservas.
ResponderEliminarBem visto. Há silêncios ensurdecedores...
ResponderEliminar" No entretanto, e à espera, sentemo-nos"
ResponderEliminaruma tese da qual não partilho´de todo... e mais não digo