Eu sou a favor das touradas e dos touros de morte. E passo a explicar.
Não duvido, aliás tenho a certeza, que o touro sofre. Se não sofresse, porém, também não investiria contra as fontes do seu desconforto. Por outro lado, para quem já viu uma disputa entre dois touros em liberdade, quando à "meninas" por perto, o que lhes acontece durante uma tourada, é uma brincadeira de crianças. Por isso, para mim, a verdadeira questão é saber se o touro sofre insuportavelmente e injustificadamente.
Quanto ao primeiro aspecto, e na falta de certezas centíficas claras, creio que não sofre insuportavelmente; basta ver o que os animais se "divertem", por alturas de os retirar da arena.
Quanto ao segundo aspecto, chegamos ao que me interessa. É uma tradição, nossa. É violenta, sem dúvida, mas tem regras. E aqui é que está a questão. Essas regras servem para percebermos os limites da própria violência, para a compreendermos e respeitarmos, para apreciarmos e aplaudirmos a coragem de quem enfrenta o animal, e arte de quem o sabe fazer bem. É importante, creio, que se compreenda que a violência tem custos, não é uma opção que se faça sem consequências. E tourada mostra-o bem; sobretudo na versão da corrida espanhola.
Por conseguinte, não creio que seja violência gratuita. Acresce que a mim não me choca o uso da força; choca-me, isso sim, o abuso da força. E disso não faltam exemplos, nas nossas sociedades modernas e politicamente correctas, de que ninguém fala.
Em conclusão, preservem lá as tradições, deixem lá os animais em paz, e vejam se se concentram nas verdadeiras violências modernas e estupidificantes, sem sentido, apenas pelo espetáculo, como por exemplo o "american wrestling".
Enfim, não se pode agradar a gregos e a troianos. Mas podemos respeitá-los a todos.
Penso que terá consciência de que esta argumentação é intelectualmente desonesta.
ResponderEliminarPrimeiro porque como é evidente o touro não tem escolha. Isso de a violência ter "regras", aplicado a um animal que não tem as capacidades intelectuais do homem, dá muito jeito...
Segundo, quem é que define o que é "uso" e "abuso" da força? Não é certamente o touro.
Terceiro, porque pressupõe que o homem é o "dono" do mundo, que actua como Deus face aos restantes animais, todos eles menos poderosos como o homem. Que decide, como neste caso, maltratá-los apenas para seu gozo, sem que isso corresponda a uma necessidade como a alimentação. Que é ele que impõe os "limites".
Quarto, porque o facto de haver muitas outras coisas mal no mundo não legitima esta.
Quinto, porque a comparação com actividades que envolvem apenas humanos, como é o wrestling, não tem sentido nenhum. Quem pratica ou vê wrestling fá-lo voluntariamente. O touro não está na tourada por sua iniciativa nem muito menos em igualdade de circunstâncias com o toureiro.
Não me choca nada a arte dos forcados, por exemplo. Limitam-se a aborrecer o touro sem o magoar. Nada de grave nem de irreversível. Esses sim demonstram coragem e colocam-se, tanto quanto possível, em igualdade de circunstâncias com o touro.
Os outros, que espetam ferros, e os espectadores, são apenas vândalos. Noutra escala, estão como os romanos no Coliseu, a observar a "arte" dos gladiadores, também eles sem escolha, tal como o touro.
caro TAF,
ResponderEliminaros forcados só actuam depois dos indivíduos dos ferros. O touro não estará com certeza na posse das suas melhores faculdades. Coragem seria enfrentá-lo fresquinho e sem apêndices amputados. E mesmo assim não vejo que 'arte' possa existir em chatear um animal.
"Arte" é ver gajos a chatearem-se por causa de touros e tiouradas e estarem-se nas tintas para o sofrimento de quem não tem que comer, e sofre a fome quando outros fartos de se servirem do bolo nacional e darem aos companheiros as sobras e ainda terem a desfaçatez de dizerem alto e bom som que não viram fome, nem a sentiram.
ResponderEliminarOlha a Vossa " Arte"!!!
Ricos artistas...
E que rico conceito alargado de sofrimento animal: animais!...
Quanto à "vontade do touro", vale o que vale, mas o meu argumento é exactamente o do que fazem os touros em liberdade, uns aos outros.
ResponderEliminarDepois, para mim é evidente que o homem é o "dono" do mundo, precisamente por ser o animal mais completo, mais poderoso, o topo da piramide.
O ponto, para mim, é precisamente o de saber o que se faz com esse poder. E sem querer misturar alhos com bugalhos, acho que os homens falham em coisas muito mais sérias do que na forma como tratam os touros. Além de que, continuo a achar que os homens, sobretudo os machos, tem necessidade de compreender os limites da violência de que são capazes; é dessas regras, que estão presentes nas touradas, de que falei.
De resto, o poder dos homens em relação aos animais começa desde logo na selecção artificial que é feita na ggestão da reprodução; sem isso, não haveria cães, quanto mais touros.
Por último, meu caro TAF, ninguém o obriga a gostar. Fique lá com a violência voluntária dos humanos e deixe-nos com as touradas.
Caro ventanias, escrevi noutro lado sobre este assunto:
ResponderEliminarTemos de facto uma visão completamente diferente do mundo. Em minha opinião nada legitima essa nossa "apropriação" da Natureza. Somos (humanos) apenas muito mais inteligentes, muito mais poderosos, e por isso responsáveis pelo uso que fazemos da Terra. Não somos "equivalentes a Deus".
Não terá certamente contestação a afirmação de que, numa tourada, o touro está a ser maltratado, colocado em sofrimento. Perante isto, há duas posições:
1. esses maus-tratos justificam-se atendendo à "tradição", à "cultura", à "arte";
2. esses maus-tratos não se justificam.
Tão simples quanto isto.
Acabei de colocar aqui um sumário de alguns argumentos.
ResponderEliminarAs touradas são corridas com toiros bravos, criados em herdades.
ResponderEliminarPara quem não percebe nada de toiradas, isto seria uma afirmaçao banal.
Para quem sabe o que são toiros de corridas entende que os toiros bravos só são criados para as corridas!
Esta é a grande diferença. Se não houvesse corridas de toiros, não haveria criação de toiro bravo. Este toiro não é carne de consumo, não é vendido, comercializado. logicamente que os toiros são abatidos após as corridas, mas só por isso.
Portanto não há nada que discutir.
na cabeça de alguns 'toireiros', se criarmos seres humanos propositadamente para serem escravos fica justificada a escravatura. é verdade que isso aconteceu antigamente em quase todo o mundo e em alguns locais ainda acontecerá. mas foi uma 'tradição' que felizmente foi abolida pela maioria da humanidade. as touradas terão que ser as próxima.
ResponderEliminarO seu argumento, meu caro António Alves, é falacioso. Por muito que queira acabar com uma tradição, ou mesmo sublinhar a sua violência, comparar seres humanos com animais não é legítimo.
ResponderEliminarOs animais são seres que sofrem, ssem dúvida. Aliás não neguei que os touros sofressem. Mas também tenho muitas dúvidas de que seja possível um mundo sem sofrimento, mesmo que seja desejável, ainda que todos os dias lute por isso.
A questão, volto a repetir, é saber se se trata de um sofrimento injustificado e excessivo; se sim, trata-se de abuso da força. Nesse caso, seria contra. Mas não o creio, pelos argumentos que já expus. Para mim, trata-se de uso da força. Com animais, certo, mas também com limites, com regras e com emoção. Eu valorizo estes aspectos. Creio que são muito úteis à formação dos seres humanos e que as sociedades humanas necessitam de válvulas de escape dos nossos sentimentos mais primários.
A tourada, creio, insere-se neste quadro. Com uma beleza e honestidade que a mim me agrada. Como me agradam os touros de morte. Apenas não aprecio os picadores. Assim como não gosto das bolandas nos cornos do animal, mas aceito que se protejam os cavalos dessa forma.
Enfim, pontos de vista...
Caro TAF,
ResponderEliminarMuito haveria para dizer sobre o seu argumento. Fico-me por isto; efectivamente o que está em causa é saber se essa violência se justifica. Creio que sim.
Assim como acredito que o Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus; nessa medida, o mundo existe para o uso do Homem. O que não quer dizer que exista para o seu abuso... e aí está o busilis.
Constacto que tiramos aqui conclusões diferentes. E respeito as suas. Espero que respeite também as minhas.
Caro ventanias, o facto de respeitar a sua opinião não me impede de continuar a achar que as touradas deviam ser proibidas, e de lutar por isso. Ou seja, a conclusão não é: "como há quem ache bem as touradas, então que elas sejam legais". Do mesmo modo que acho bem que se proibam as lutas de cães, etc. Pelos vistos partilho algumas das suas convicções, mas eu sou mais da linha de S. Francisco de Assis: para este efeito considero que de facto os animais são iguais aos homens. :-)
ResponderEliminarOs animais iguais aos homens, só que não o vi com tamanho empenho a defender os homens, mulheres e crianças que sofrem...
ResponderEliminarE acabar com as touradas gerava mais abandono dos campos, da criação de gado, no fundo como referia alguém atrás seria anunciar a sua morte e quiçá vê-los a morrer à fome por esses campos sem que ninguém lhes valesse, porque o TAF não sabe disso pelos vistos...
Só sabe o que vê na TV e é esse o seu mundo...
E pode crer que detesto imenso a violência. Estou a responder-lhe por essa mesma razão: violência do espírito e da inteligência humana!
"comparar seres humanos com animais não é legítimo"
ResponderEliminaraqui está uma inultrapassável diferença filosófica entre nós. para mim, comparar seres humanos com animais é totalmente legítimo.
falacioso é recorrer a este argumento da 'ilegitimidade' para não encarar o verdadeiro cerne desta questão: há tradições, que à luz da moral e da ética, são ilegítimas.
e já agora mais um argumento 'falacioso' da minha parte:
"trata-se de uso da força. Com animais, certo, mas também com limites, com regras e com emoção. Eu valorizo estes aspectos."
eu chamaria a isto tortura. e pela argumentação 'legitimamente' aplicada também aos homens - com regras, obviamente :->
um abraço :-)
Meu caro ventanias,
ResponderEliminarTAF já disse tudo sobre o assunto.
Basicamente os seus argumentos reduzem-se a dois:
1- O Touro não sofre injustifcadamente;
2- A tourada é uma tradição.
Quanto ao primeiro, que não sofre injustificadamente é uma afirmação sua, assente numa declaração unilateral não fundamentada. Eu acho que sofre injustificadamente. Porque é que a sua afirmação é melhor do que a minha.
Quanto ao segundo argumento, ele serve para justificar tudo. Inclusive, que os homes continuem a dar porrada nas mulheres. É outra tradicção nacional.
Talve haja argumentos para defender a tourada e os touros de morte. Os seus não convencem.
Interessante o tópico e o debate, sem dúvidas!
ResponderEliminarEspera-se mais no que respeita a textos escritos sem erros ortográficos por parte de Ventanias. Obrigado.
Já não contava voltar aqui, mas lá veio o memorioso funes provocar-me...
ResponderEliminarPeço perdão mas eu disse claramente porque é que achava que o touro não sofria injustificadamente, quer no post, quer em comentários supra. Admito que não concorde com os meus argumentos, mas também não os reduza a uma mera declaração unilateral não fundamentada.
Depois, reparará que eu não reduzi o que chama de segundo argumento ao facto de se tratar de uma tradição. E repare que escrevo facto. Bem sei que muitos dos defensores das touradas argumentam com a tradição, como se isso justificasse tudo. Eu não o creio. Considero que o facto de se tratar de uma tradição, nossa, explica muita coisa; mas não justifica nada. O que para mim justifica o uso da força, neste caso, é a existência de regras, que a limitam, a condicionam e a regulam. Creio que é daí que advém as vantagens que eu vejo: a de a tourada nos proporcionar uma ocasião para dar vazas à nossa agressividade, ao mesmo tempo demonstrando-nos os limites dessa própria violência, quer em relação ao animal, quer em relação aos demais intervenientes.
Por último, afirmo aqui que acho completamente abusivo comparar a violência, com regras sublinho, com animais à violência entre humanos, sobretudo nos casos que V. Exas invocam, quais sejam os do abuso da força contra mais fracos - como é o caso dessoutra tradição invocada de "dar porrada nas mulheres". Penso que nesse aspecto também deixei clara a diferença que faço entre uso e abuso da força.
Enfim, é a minha opinião. Só isso.
PS. Agrada-me esta polémica descontraída...