sexta-feira, junho 06, 2008

O problema

Só com muito má vontade se poderá pretender ignorar o significado de uma manifestação de 200 mil pessoas. Sejam lá quais forem as motivações dos seus organizadores, a sua capacidade de mobilização, os meios ao seu dispôr, o que releva é o mero e simples facto de duas centenas de milhar de pessoas tomarem a decisão de alterar as suas rotinas diárias para darem o corpo ao manifesto, manifestando-se.

E manifestaram-se descontentes. Interessa perceber o porquê.

Creio que a origem deste descontentamento é simples. Num País em que se consensualizou a confiança absoluta na capacidade do poder central para resolver os problemas dos cidadãos, em que toda a gente fala como se a solução dos problemas viesse sempre "deles", de quem tem o poder, num País destes, a origem do descontentamento é só uma, sejam quais forem as palavras de ordem: é a insatisfação com as respostas que esse poder central dá.

Todos sabemos que o Governo não tem nem poder, nem capacidade para resolver todos, ou mesmo a maioria, dos problemas do País e dos Portugueses. E estes também o sabem. Por conseguinte, se e quando se vem manifestar o que eles estão a afirmar é que já não aceitam as respostas do costume.

Já ninguém acredita que será o TGV ou o próximo troço de autoestrada, scut ou não, que irá resolver a situação de cada um. Espero, convictamente, que as pessoas também já não estão dispostas a que o Estado continue a pactuar com a solução dos problemas de alguns, sobretudo dos mais favorecidos, em detrimento das soluções para os problemas comuns da maioria. Espero sinceramente que tenhamos atingido o limite da nossa passividade.

Num cenário destes, ganham os que propõe as soluções falaciosas que apelam ao desespero. A esquerda irá ganhar porque irá propor que há soluções que podem ser ditadas pelo centro, desde que o centro seja outro. Isto é, segundo eles, o que o País precisa é de votar neles, porque eles quando lá chegarem, irão adoptar "outras políticas", que naturalmente irão resolver os problemas da maioria.

Pela direita do centro, as convicções parecem ser semelhantes. Eles, resolveriam os problemas da maioria, porque são mais credíveis e estão, agora, preocupados com as questões sociais. A solução será votar neles, porque eles irão ser mais solidários e menos arrogantes, não deixando de ser credíveis, pelo que naturalmente resolverão os problemas da maioria. Não creio que seja por aí que possam assustar o Governo; este também tem créditos e argumentos nessas mesmas áreas. Porventura melhores, o Povo o dirá.

Eu há muito que já não acredito em quaisquer soluções vindas do centro.

Para mim, o início de quaiquer verdadeiras soluções é a redução do peso e da importância do centro. Por todos os meios ao nosso alcance. Regionalizando, descentralizando, encerrando, limitando, reduzindo, liberalizando. Pouco importa. O que importa é devolver às pessoas o poder de resolver os seus próprios problemas. E dar-lhes os meios, que é como quem diz distribuí-los pelas sedes de poder mais próximas possíveis, dando-lhes a liberdade de procurarem as respostas que entenderem. Sabendo que vão errar antes de aprenderem, e dando-lhes o direito de aprenderem errando. Como um pai faz, ou deve fazer, a um filho já criado. Sem paternalismo.

Nestas circunstâncias, surge uma claríssima oportunidade para os democratas-cristãos. Como eu. Como nós, aqui no Nortadas (maioritariamente). Como muitos de nós por esse País fora.

Há que elevar o tom do discurso, promovendo mais soluções de redução de impostos, mais oportunidades de concorrência, exigindo mais fiscalização do funcionamento dos mercados. Sugerir, propor e defender soluções mais focalizadas para proteger os mais pobres, os mais defavorecidos e os que vivem com dificuldades; que custem menos e sejam mais eficazes para os destinatários. Apresentando alternativas que devolvam às pessoas a responsabilidade pelos seus problemas e libertando-as finalmente desta crença cega e patética na bondade do centro.

Para o fazer, é essencial que os intérpretes desse discurso sejam credíveis. Não porque já estiveram no poder, mas precisamente porque ainda não passaram por lá, nem dependem de lá chegar.

O desafio, meu caro Paulo Portas, é exemplificar a ruptura. Assumir que a actual equipa do CDS não tem credibilidade para propor seriamente novas e diferentes políticas, verdadeiramente alternativas. Isso implica abrir o partido à mudança. Renovar as suas caras e mudar as suas vozes. Buscar entre os que estão dispostos a sacrificar-se, outros intérpretes para renovadas mensagens. Por exemplo, preparando desde já e com tempo, um grande congresso de transformação, de ruptura, que possibilite e promova uma maior e melhor abertura a novos sectores da sociedade, disponíveis para defender essas outras soluções. Começando perto de casa.

Só assim, e ainda assim não será fácil, poderemos capitalizar das fraquezas dos outros, que se adivinham, e ressuscitar dos erros, próprios e de que fomos vítimas. Só assim colheremos frutos dessa indiscutível capacidade de pensar diferente e transmitir mensagens, em que tanto acreditamos, pelo menos em tempos. Só assim, fará sentido o esforço da moção de censura.

Porque,

É possível um Portugal melhor (e portanto um CDS melhor). Basta querer!!!

2 comentários:

  1. Resolução do Conselho de Ministros n.º 78/2008
    Aprova os objectivos e as principais linhas de orientação da requalificação e reabilitação da frente ribeirinha de Lisboa inscritos no documento estratégico Frente Tejo
    Considerando as acções previstas, resulta inequívoco o interesse público que as mesmas revestem não só para a cidade de Lisboa mas também para o País
    B A S T A !!!!!
    QUE INTERESSE PÚBLICO TÊM AS OBRAS DE LISBOA PARA ÉVORA, E VILA REAL, E MONÇÃO, E ALBUFEIRA, E E E E ??????
    VAMOS CONTINUAR A PAGAR PARA LISBOA TER O SEU PEDACINHO ARRANJADO?????

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  2. As únicas frentes ribeirinhas reabilitadas são o TERREIRO do PAÇO e A Zona da Torre de Belém, embora o génio do Marquês tivesse no primeiro caso conseguido melhor efeito, do que Duarte Pacheco...
    No Terreiro do Paço desce-se e entrava-se até ao rio e tomava-se o barco para a outra margem ( pese a falta do Cais das Colunas...).
    Em Belém há ainda o barco mas a uma ponta e há um hotel na Marina de Manuel Salgado ( o arquitecto que deixou o tejo a milhas e escondido do Parque das Nações), e há uma linha de comboios que deveria mergulhar em túnel frente ao Centro Cultural de Belém e ermergir só em Pedrouços...
    O país não tinha que pagar nada, pois Lisboa é -ou poderia ser ainda mais - a capital do turismo e a imagem de um todo nacional.
    Quanto ao tema do "post" há que reconhecer validade ao proposto.
    Mas também anda por aí muita gente que deixou Sócrates crescer demasiado antes que tivesse tomates para dizer que o rei ia nu...

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