terça-feira, maio 27, 2008

Finalmente, a moralidade

Há muito tempo que estou convicto que o maior problema do País é o da moralidade, que é como quem diz, da falta dela.

Vivo num país onde ir ao médico custa 32 euros; no entanto, a funconária desse médico ganha pelo menos 1600 euros; é a lei. Em Portugal, bem o sabemos todos, ir ao médico custa frequentemente muito mais do que 32 euros. Pior, as mais das vezes o médico é o mesmo que não tem vaga para nos atender nas próximas seis ou sete semanas, no hospital público onde vai adquirindo o seu direito à pensão de reforma, confortável, pelas manhãs que ali dispensa. No entanto, esse médico raramente paga mais do que o salário mínimo à sua funcionária, mesmo àquelas que para ele trabalham há dezenas de anos.

O espírito com que isto se permite, ou não, é precisamente o que eu chamo de moralidade, ou falta dela. É um problema gravíssimo, no nosso País, de que raramente se fala, a coberto de uma suposta liberdade económica que, de resto, não existe.

Em contrapartida, comunga-se da convicção que os políticos, coitados, ganham mal. Diz-se inclusive que é por isso que não há "melhores politicos"...

Finalmente, alguém que não eu falou disto. Foi o Dr. Medina Carreira, no seu tom cínico habitual, durante o Prós e Contras.

Pode ser que a moralidade passe a ser um assunto da nossa vida pública; pode ser que as pessoas deixem de falar do aumento da desigualdade apenas porque uma qualquer estatística foi publicada, e comecem a perceber a imoralidade que lhe está na origem. Pode ser que o cristianismo da democracia-cristã deixe de ser apenas um epíteto num nome de um partido e comece a ser outra vez uma razão para participar na política, um motivo para propor soluções às injustiças que nos rodeiam e que destróiem a coesão nacional. Pode ser.

É possível um Portugal melhor. Basta querer!

1 comentário:

  1. A propósito do que afirmou Medina Carreira, e que tem sido retomado por outros, quero acrescentar uma convicção - para quem estiver interessado.

    Não me importo que se venha a optar por um qualquer imposto especial para quem ganha "mais do que duas ou três vezes" o salário do Sr. Presidente.

    Mas não creio que a solução seja por aí, até porque sou em geral contra o aumento dos impostos.

    O que eu gostaria de ver era um recurso mais intenso a um princípio de "utilizador/pagador", aplicado em função das capacidades de cada um, e cumulado com uma baixa generalizada dos impostos.

    Sou a favor desta solução por duas razões fundamentais.

    Primeiro, quanto menos entregarmos ao Estado, menos discricionariedade terão os políticos de escolherem os destinos a dar aos impostos.

    Segunda, é muito mais transparente pagar por aquilo que efectivamente se usa, do que financiar serviços ineficientes ou inúteis. Obviamente, quem ganha mais deverá pagar mais; assim como quem ganha pouco, pouco ou nada deverá pagar.

    O essencial é que se reduza a carga fiscal, para assim se reduzir o poder de quem decide - e por consequência, a oportunidade de más decisões.

    ResponderEliminar