segunda-feira, janeiro 14, 2008

Alcochete, o BCP e o PS

Vou especular. Pura e simplesmente especular. Apetece-me fazê-lo porque me intrigam as razões que possam ter levado o PS a querer trocar a CGD pelo BCP. É que esta decisão é muito séria, pois levou José Sócrates a reverter uma decisão que manifestamente tinha tomado no início da sua governação. O Primeiro-ministro tinha decidido terminar com esse acordo não escrito de partilha de lugares entre os dois partidos do centrão, independentemente de qual estava no poder ou na oposição, no seio das grandes instituições e empresas próximas do Estado.

Defendi essa política, porque entendi que ela permitiria, no futuro, um maior e melhor escrutínio das actividades do outro partido. Não havendo partilha, haveria certamente crítica e debate. Isso parecia-me bom.

No entanto, José Sócrates aceitou abdicar dessa política, para poder trocar o controlo do BCP pelo da CGD, ofererecendo esta ao PSD. O PSD, como se viu, ficou contente.

O que ainda ninguém percebeu, foi o porquê destas mudanças. Eu também não sei, mas nas minhas reflexões para tentar perceber, surgiu uma explicação possível que me parece plausível.

O Governo vai precisar de um parceiro "privado" para desenvolver o projecto de Alcochete. Como sabemos, não há muitas empresas em Portugal com essa capacidade financeira. No entanto, se por acaso encontrássemos um grupo, porventura das obras públicas como a Teixeira Duarte, com ligações especiais ao maior banco privado (o BCP, obviamente), por acaso agora gerido por gente ligada ao PS, de repente tudo ficaria mais simples, não é verdade...!?!?

É especulação. Mas em breve deixará de ser, quer para confirmar quer para infirmar.

Alguma razão forte tem de haver para explicar porque é que accionistas privados da maior instituição financeira privada, preferem aceitar soluções de manifesta interferência política a outras de igual capacidade e maior independência. Mesmo num país onde este tipo de promiscuidade é habitual...

PS. Aceito outras explicações especulativas, se alguém as quiser avançar.

4 comentários:

  1. Dos Covardes e Calculistas do ‘novo’ BCP ao Conjunto Vazio de Ideias:

    Apesar de em 16 de Outubro passado ter escrito no Público um forte e zangado comentário sobre erros administrativos e financeiros no BCP em que muitos (incluindo o 'estado' através do BP e da CMVM) estiveram envolvidos (quer directa/, quer por calarem e portanto consentirem), também hoje como pequeno accionista não ficarei calado mais uma vez.
    É vergonhoso é imperdoável é um insulto aos pequenos accionistas do BCP, que os legais representantes da proposta 1 (arranjados por intromissão, direi mesmo por intrusão, do ‘público’ no ‘privado’) não tenham dado a cara para responder às 3 questões fulcrais postas na AGA e às quais o Digníssimo Eloquentíssimo Nobilíssimo e Racional Dr. Miguel Cadilhe respondeu de modo claro lógico e eficaz. Que grande lufada de ar fresco, que constituiu um dos momentos únicos e mais nobres das 7 horas de assembleia. Valeu a pena testemunhar os 10 minutos do momento histórico em que mais um David brilhou desmascarou e destruiu logicamente racionalmente e honestamente uma cambada de ‘golias’ mais ou menos gorilescos que, pobres coitados (mas ricos financeiramente), apenas ganharam pela razão da força mas não pela Força da Razão. O tempo dirá o que irão fazer com o espólio do BCP (que não é tão moribundo como o querem fazer crer, porque moribundos ninguém os quer e aqui até o pseudo-estado o quer!), mas não me pareceu boa política de começo de mandato que o novo presidente Santos Ferreira assista ao desenrolar da AGA do BCP a 500 m no Palácio da Bolsa.
    E ainda para mais com a desculpa ‘de mau ganhador’ de que não esteve presente porque não é accionista, e como tal não tinha votos nem mandato de votos! Caramba, isto é desculpa que se dê? Só se for para as câmaras e para a burricada de bastidores. Bastava que se soubesse que esta cobarde resposta seria a sua, que eu próprio lhe transmitiria por esmola e ‘incondicionalmente’ um dos meus direitos de voto, assim permitindo que fosse orador por 2, por 5 ou por 10 minutos. Só para ver a democracia de ideias em exercício pleno no fórum da razão e da honra, que sempre me nortearão. Assim a esmagadora pseudo-vitória da proposta 1 não passará disso, porque para os factos da história (e não as batalhas) fica um abjecto vil e disforme ‘Conjunto Vazio de Ideias Não-Apresentadas e Não-Publicamente Defendidas’.
    E veremos se as acções futuras desta nova administração servirão os accionistas ou os lobbies de lobos com pele de cordeiro; se servirão o Estado-Nação de todos os Portugueses ou o Estado-Mação (no pior sentido degenerativo deste conceito; porque também o tem positivo pelo menos para mim).
    Quanto ao anunciado ‘novo’ vice, mas já velho em ingerências deste género, esteve na assembleia para um acto duplo (como anterior administrativo na CGD e esperado ‘novo’ no BCP) de mais uma ratice (dos correligionários do Largo do Rato): assegurar ou representar a não-abstenção da CGD nesta AGA no ponto 2 da OT (e cujo desempenho leal honesto idóneo e maduro deveria ter unicamente sido – especialmente nesta AGA – o de uma abstenção deixando a sociedade operar sem a perversa intrusão estatal e governativa). E mais uma vez perdeu uma oportunidade histórica de lavar as mãos, porque sujou-as muito e emporcalhou o ‘estado’ e o ‘governo’ cuja imagem sai empobrecida para os Portugueses presentes na assembleia (que foram muitos mais do que os apátridas do vil metal; na proporção de 2/1).
    Se isto são tácticas sulistas para um capital e sucesso financeiro que foi do norte e que agora usurpam, se pretendem mais uma vez centralizar poderes órgãos decisões negociatas e manipulações económico-sociais, então divida-se o País por Rio Maior e fiquem com o aeroporto em Alcochete e com a ligação directa a Madrid para os ‘migueis de vasconcelos’ desse estado sulista (que têm sido muitos). E fiquem a olhar para os umbigos uns dos outros nesse Lisboal (porque Portugal – Porto+Calle – nunca nos tirarão).
    Embora me custe emocionalmente dividir o País (actualmente só acredito na Nação que já o foi, porque verdadeiro estado como pessoa de bem já não existe), tratar-se-ia de uma solução que satisfará a cúpula administrativa que passará a gerir toda a grande Lisboa até ao próximo sismo e os All-garves e todas as All-drabices (do Lisboal).
    E deixem em paz os restantes deste actual e único Portugal, que poderão em algumas coisas ser pequeninos de poder gorilesco mas serão sempre muitos grandes e poderosos em acções princípios e honestidades em que sobressai a Força da Razão.
    R. Barros (Porto)

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  2. Meu caro R. Barros,

    Concordo com o seu desencanto, mas não concordo com a sua solução. Sinto que devo aos meus antecessores o compromisso de me empenhar por deixar todo o Portugal aos meus sucessores.

    Estou, por isso mesmo, empenhado em combater o actual estado de coisas. Brevemente poderei passar a fazê-lo publicamente e tenciono dar a cara por essa urgência de melhorar Portugal.

    Lembro-lhe que a maioria dos lisboetas e demais sulistas para lá de Rio Maior também são vítimas do centralismo que aqui acusa. Também eles poderão contribuir para transformar Portugal num país melhor e tem o direito a que lhes seja dada essa oportunidade. Afinal, Portugal são os portugueses e os territórios que estes conquistaram. Nem mais, nem menos.

    Lanço-lhe o repto de concentrar a sua vontade de mudança em projectos que impliquem essa mudança, que combatam o centralismo que acusa e que libertem o país do jugo desta elite do Terreiro do Paço que, agora como noutros tempos, tanto mal tem feito ao País.

    Cumprimentos

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  3. R. Barros sobre a AGA do BCP e o Vazio de Ideias:

    Claro que não quero a separação e por isso apesar de falar nela (como tatica de enfatizar o centralisto actual) digo-o com todo o caracter jocoso (que nao é visivel no blogue infelizmente) porque me refiro propositadamente à cupula administrativa, ao Lisboal e todas as hiperboles recentes com que nos têm mimado.
    É um modo de ridicularizar o negativo, tipo demonstraçao por redução ao absurdo, que lamento não se tenha apercebido.
    De qq modo aqui ficam as explicaçoes devidas, de um Portugues que o procura ser por inteiro.
    R. Barros (Porto)

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  4. Obrigado, R. Barros, fica esclarecido. Peço desculpa de não ter valorizado o lado jocoso, mas a verdade é que me deixei vencer pelo lado de desencanto das suas observações - que, como saberá, são hoje em dia muito correntes entre os nossos compatriotas; a prova é que a emigração (para fora) voltou aos níveis da década de 60... e agora não há ditadura que sirva de desculpa!

    O Povo tem dado suficientes sinais de que é necessário mudar rapidamente o actual estado de coisas, desde o alheamento dos referendos, às eleições de arguidos, à votação em Salazar, à revolta em surdina contra a Ota, etc, etc.

    Está para breve a hora da mudança.

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