Já aqui postei a apoiar a decisão do PM Sócrates em acabar com o acordo tácito entre o PSD e o PS, na nomeação de dirigentes para o sector financeiro nacional. Apoio essa decisão porque prefiro uma alternância a uma partilha. A partilha origina compromissos promíscuos; a alternância pode originar confronto e debate, que são as condições para o progresso.
Porém, uma coisa são nomeações para entidades públicas, como o Banco de Portugal e a CGD, outra são interferências dirigistas, certamente pouco inocentes, junto de accionistas privados.
Já todos sabíamos que as autoridades de supervisão nacionais não exercem as suas competências, ou exercerm-nas deficientemente, sempre que estão em causa os pilares do poder económico em Portugal, em especial do poder financeiro. Compreende-se, atendendo à quantidade de lugares que esses "pilares" tem disponibilizado a políticos em fase de pré-reforma ou mesmo apenas na oposição.
O que não sabíamos, mas ficamos agora esclarecidos, é que esse não exercício, ou exercício benevolente, podia chegar ao ponto de procurar determinar as escolhas dos accionistas privados. Aliás, não só através da influência dos reguladores e supervisores, como igualmente pelo peso das participações do Estado em outras empresas, accionistas por sua vez das que estão em causa.
O que está mal nesta história do BCP, não é a nomeação de "políticos do PS"; o que está mal, são as escolhas políticas ou politicamente determinadas de equipas de gestão de bancos privados. E a menorização que isso acarreta de todos os accionistas dessas empresas, do sector privado em geral e do estádio de desenvolvimento económico do País...
Quanto a mim, a razão porque o presidente da CGD não serve para os interesses do BCP é exclusivamente o facto de ter sido proposto por entidades oficiais ou de nomeação do Estado (EDP). Já não sou, mas se ainda fosse accionista do BCP não aceitaria este tipo de nomeações. É a formalização da promiscuidade entre o poder político e o económico/financeiro. É de outro tempo, um tempo de que deveríamos estar todos a querer fugir...
É a credibilização dos piores aspectos do capitalismo, precisamente aqueles que tornam dependentes os poderes económicos e assim destróem a qualidade da democracia em que se vive. E não me venham com a história de que a EDP também é accionista do BCP! O que, aliás, é profundamente discutível numa perspectiva económica e seguramente tributário da tal subserviência do económico ao político que se deveria querer evitar. Não me chocaria a escolha do presidente de um Banco, especialmente se apoiada em bons resultados, para dirigir outro, nem muito menos que escolha a sua equipa; o que me choca é que esse dirigente tenha esse cargo por razões políticas e seja agora sugerido por razões políticas, já para não dizer que a CGD é um banco que pertence ao Estado precisamente porque se pretende que se governe por regras diferentes das de um banco exlcusivamente privado.
A ser verdade tudo quanto se lê nos jornais, fica clara a incompetência dos actuais accionistas do BCP para encontrarem soluções de criação de riqueza, para definirem um projecto para o seu banco que lhes permitisse encontrar a melhor equipa de gestão; infelizmente isso é em grande parte consequência da estratégia de Jardim Gonçalves, que apostou tudo em guardar o poder na administração e em impedir a afirmação de accionistas de referência.
Fica também clara a vontade do poder político em interferir na gestão económica do País, e ficam igualmente claras as razões porque o Governador do Banco de Portugal deveria indemnizar o País pelo salário obsceno que aufere (ou será que se pode considerar competente um supervisor que tem de ser pressionado por um accionista - Berardo -, por uma entidade externa - a SEC de NY - e por outras entidades estatais, como a PGR e o DIAP, para finalmente se decidir a fazer o trabalho que é principescamente pago para fazer???)
Começa mal, o ano de 2008. Resta-me uma consolação; como dizia a minha Avó, "cá se fazem, cá se pagam!" Ficamos a aguardar.
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