Maria Filomena Mónica publicou, nas duas últimas semanas, dois interessantes artigos sobre o sistema de ensino português, no Público. No primeiro descreve o falhanço desse sistema como a maior chaga do regime democrático; concordo com a análise, o diagnóstico e as consequências apontadas.
No segundo, neste final de semana, fala dos professores. Sem discordar do que afirma quanto à necessidade de apoiar os professores e de lhes dar melhores condições, há dois aspectos em que discordo profundamente.
Primeiro, quanto à responsabilidade dos professores. É verdade que o sistema evoluiu no sentido de retirar autoridade aos professores, na escola e na sala de aula. Eu próprio já dei por mim a discutir com pais de colegas dos meus filhos que pretendiam explicar às professoras quantos trabalhos de casa deveriam exigir - numa atitude de completo desrespeito pelas competências profissionais dessas professoras e sem mesmo terem consciência disso (como se nós, quando vamos ao médico, nos lembrássemos de dizer ao doutor quais os remédios de que
necessitamos sem nos lembrarmos que muitas vezes nem sequer sabemos descrever as maleitas de que padecemos...).
É verdade. Mas não invalida que a classe dos professores não é inocente do estado a que as coisas chegaram. Os professores e os seus representantes sindicais são co-autores do estado das nossas escolas. Enquanto conseguiram extorquir mordomias do sistema, não os vimos queixar-se; enquanto puderam trocar estatuto social por pouco trabalho, não os vimos reivindicar. Por isso digo que a classe é uma merda. O que não quer dizer que não haja excepções. Porventura até muitas. Essas excepções não eliminam as responsabilidades dos professores, pela negativa, pelo silêncio e pelo absentismo, no estado a que as coisas chegaram.
O segundo aspecto é o da bondade da escola pública. A escola pública é uma necessidade. É uma necessidade porque o Estado é o único que tem condições para suprir as carências dos pais na organização da escola. Mas não deixa de ser uma solução de segunda escolha. Dito de outro modo, num mundo ideal, cada casal de pai e mãe deveriam ser livres de escolher a escola que desejam e de a organizar como bem entendessem. Nesse mundo ideal, só haveriam escolas privadas.
Não sendo isso possível, há-de pelo menos ser possível melhorar a escola pública com recurso a mecanismos de mercado. Por isso apoio o cheque-escola (aliás uma expressão infeliz para traduzir uma excelente ideia): é óbvio que sem liberdade de escolha da escola, não há qualquer liberdade no sistema. Sou até a favor de que o cheque escola seja transportável para as escolas privadas.
Pelas mesmas razões sou a favor da descentralização da organização e gestão da escola; reconheço que o governo tem dado alguns passos nesse sentido, mas são ainda muito incipientes. Era necessário que o CDS atacasse este problema e começasse a sugerir soluções descentralizadas que pudessem permitir melhorar a escola e o País. Cá voltarei.
É possível um Portugal melhor. Basta querer.
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