A questão panteónica é mais relevante do que julgamos. É simbólica. Nela reside o tributo que, nós portugueses, pretendemos render às personalidades que vão moldando a História e, et pour cause, a Pátria.
Contudo, com Aquilino Ribeiro, além do legítimo escrutínio público da escolha, há outra questio que se impõe. Não se cuida, somente, aqui de saber se outros mereceriam primeiro o reconhecimento laudatório da República.
É importante saber do carácter do homenageado. Que a honra atribuída não é pequena.
Quanto à obra, polémicas à parte, o autor de "O Malhadinhas" é, na verdade, um autor incontornável do séc. XX português. Sobretudo pelo enriquecimento linguístico que a sua obra legou à lusofonia. O que não é pouco.
Só que, existe algo de prejudicial a tudo isto. E que se reconduz à clássica pergunta de saber se o homem e a sua obra são, ou não, dissociáveis.
A polémica ressurge a cada passo, seja, por exemplo, com Günter Grass ou, caso paradigmático, com Richard Wagner.
Confesso que, de início, o problema me pareceu académico. Mas quando ouvi as declarações da neta do escritor, Mariana Ribeiro Machado, fiquei perplexo. O Avô, o Escritor, a Obra, era algo que se dissocia e permanece para além da sua própria história, da sua biografia, da sua vida concreto. Nada mais errado. Um homem é não só a sua obra, mas também o testemunho dos seus passos. Um músico, um pintor ou um escritor não podem só valer pelo carácter excepcional do seu génio, mas, também, pelo rasto concreto da sua batuta, do seu pincel ou da sua pena. Pela inscrição das suas acções no dia a dia. Pelo seu actuar na sociedade temporal e histórica. Não podem só valer pelas suas personagens, ou então, teríamos autores e artistas virtuais.
Das palavras da sua neta, percebeu-se (e perdoem-me se estou errado) uma fuga à questão. Porquê? Acaso no segredo familiar residirá alguma sombra...?
Com Aquilino, se a sua vida pública oficial, retirando minudências mundividenciais, é inquestionável, todavia, constando da sua biografia oficiosa um acto nada abonatório, a participação no regicídio, tudo muda. Além do crime, um duplo homicídio, trata-se do assassinato do chefe de estado português, D. Carlos I e do seu herdeiro, D. Luís Filipe. 99 anos volvidos, a República esqueceu-se do barrete frígio e preferiu o chapéu da avestruz...! Que país é este que não se questiona e se dilui em unanimismos? Onde estará a ética republicana?
Pelos vistos, parece que no Panteão.
Contudo, com Aquilino Ribeiro, além do legítimo escrutínio público da escolha, há outra questio que se impõe. Não se cuida, somente, aqui de saber se outros mereceriam primeiro o reconhecimento laudatório da República.
É importante saber do carácter do homenageado. Que a honra atribuída não é pequena.
Quanto à obra, polémicas à parte, o autor de "O Malhadinhas" é, na verdade, um autor incontornável do séc. XX português. Sobretudo pelo enriquecimento linguístico que a sua obra legou à lusofonia. O que não é pouco.
Só que, existe algo de prejudicial a tudo isto. E que se reconduz à clássica pergunta de saber se o homem e a sua obra são, ou não, dissociáveis.
A polémica ressurge a cada passo, seja, por exemplo, com Günter Grass ou, caso paradigmático, com Richard Wagner.
Confesso que, de início, o problema me pareceu académico. Mas quando ouvi as declarações da neta do escritor, Mariana Ribeiro Machado, fiquei perplexo. O Avô, o Escritor, a Obra, era algo que se dissocia e permanece para além da sua própria história, da sua biografia, da sua vida concreto. Nada mais errado. Um homem é não só a sua obra, mas também o testemunho dos seus passos. Um músico, um pintor ou um escritor não podem só valer pelo carácter excepcional do seu génio, mas, também, pelo rasto concreto da sua batuta, do seu pincel ou da sua pena. Pela inscrição das suas acções no dia a dia. Pelo seu actuar na sociedade temporal e histórica. Não podem só valer pelas suas personagens, ou então, teríamos autores e artistas virtuais.
Das palavras da sua neta, percebeu-se (e perdoem-me se estou errado) uma fuga à questão. Porquê? Acaso no segredo familiar residirá alguma sombra...?
Com Aquilino, se a sua vida pública oficial, retirando minudências mundividenciais, é inquestionável, todavia, constando da sua biografia oficiosa um acto nada abonatório, a participação no regicídio, tudo muda. Além do crime, um duplo homicídio, trata-se do assassinato do chefe de estado português, D. Carlos I e do seu herdeiro, D. Luís Filipe. 99 anos volvidos, a República esqueceu-se do barrete frígio e preferiu o chapéu da avestruz...! Que país é este que não se questiona e se dilui em unanimismos? Onde estará a ética republicana?
Pelos vistos, parece que no Panteão.
Tens razão!
ResponderEliminarEstes republicanos são loucos
m abraço
JAC
O pior de tudo é que este gesto quase unanime entre os decisores é infelizmente exemplar de uma ética das elites nacionais que, de há muito, tem vindo a exaurir Portugal e que bem se pode resumir nesta atitude: "nós somos melhores que eles, os nossos merecem distinções especiais".
ResponderEliminarÉ verdade que esta ética tem vindo a ser marcada por um unanimismo de esquerda. Mas infelizmente não se esgota aí. Lembre-mo-nos sempre que é a mesma ética que nos permite dizer impunemente que "os salários dos políticos são baixos" do mesmo passo que afirmamos que "o salário mínimo não pode aumentar".
Que pais são estes que se arrogam o direito a regras especiais que aos filhos negam?
Que moralidade nos governa?
Com que moralidade nos governam?
Como é que aceitamos impávidos e serenos?
PS. Depois não se admirem que a pobreza material de Salazar seja apreciada...
Se os xuyxas tiverm do governo quando o Marinho bater as botas vao la por esta ave frar! Gostava de ter a fortuna dele!
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