Tenho por António Guterres alguma simpatia e parece-me uma pessoa empenhada e sincera nas suas causas. É por isso que às vezes me custa vê-lo a embarcar em teses completamente sem sentido e até perigosas. Acredito que é um homem com boas intenções, mas ocasionalmente as suas opiniões não só não contribuem para a solução dos problemas como são inexplicáveis sob qualquer ponto de vista.
Tudo isto a propósito das declarações hoje publicadas no Público onde, a dado passo, António Guterres refere que os actos suicidas não ocorrem por acaso, justificando-os, por exemplo, com a não resolução do problema palestiniano.
Dois clamorosos disparates. Não esperaria de António Guterres uma lucidez exemplar, mas confiava ao menos que fosse uma pessoa prudente e bem informada. Em primeiro lugar, é preciso ser claro e inequívoco: nada justifica actos terroristas contra inocentes. Por outro lado, os actos terroristas no Ocidente não têm nada a ver com o problema palestiniano, tendo as suas causas, em regra, outros motivos ou até motivos nenhuns. Finalmente, os culpados pela não resolução do problema palestiniano não são apenas Israel ou os EUA, como candidamente parece supor Guterres, mas deve-se também englobar aqui, para além dos próprios palestinianos, os países árabes vizinhos. A questão está por solucionar há sessenta anos. Para António Guterres existem os maus (Israel e os Eua) de um lado e os bons (palestinianos e paíse árabes) do outro. Ora, as coisas não são, de todo, assim tão simples.
O discurso complacente e justificador dos actos terroristas legitima-os e isto é pura e simplesmente inaceitável, para não dizer trágico.
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