Tenho de tirar o chapéu a Sócrates, sem querer tirar qualquer mérito à iniciativa da CIP.
Não tenho dúvidas que o maior obstáculo a qualquer decisão mais racional que possa retirar da Ota o novo aeroporto de Lisboa, virá de dentro dos grandes partidos do centrão - o PS e o PSD. Não apenas daí, mas também dos interesses que se habituaram a viver à sombra das pessoas que nesses partidos participam, condicionam e escolhem as principais decisões de obras públicas em Portugal. Não me surpreende, portanto, que seja particularmente difícil a qualquer primeiro-ministro, saído de um desses dois partidos, tomar decisões que contrariem essas pessoas e esses interesses.
Por conseguinte, para ser possível fazê-lo há-de ser necessário encontrar uma forma de apresentar como inevitável essa decisão contrária aos tais interesses.
É o que José Sócrates pode ter conseguido, através desde bem guardado negócio que (alguém) engendrou com a CIP. Os termos são claros: a última não põe em causa a inevitabilidade da construção de um novo aeroporto; o primeiro admite que afinal havia melhores soluções (caso se confirmem, como julgo inevitável) as vantagens de Alcochete comparativamente com todas as outras soluções até agora aventadas.
Acrescente-se que as coisas correram bem a Sócrates, porque a subida de tom da contestação à Ota permite-lhe aparecer agora como o líder sensato e atento que sabe ouvir a voz da Nação.
Oxalá esta decisão - suspender a Ota até se concluir o estudo sobre Alcochete - venha ainda a ser completada com outras que permitam rentabilizar o melhor possível a decisão de construir um novo aeroporto em Lisboa. Penso no destino a dar à Portela, na travessia TGV do Tejo e ligação a Alcochete, na adaptação do ordenamento do território da margem sul do Tejo a esta nova realidade, mas sobretudo na questão da privatização da Ana. A esta última, ainda hei-de voltar.
Caro Ventanias.
ResponderEliminarComo há tanta ingenuidade por estas bandas!
Imagine este cenário:
Perante a contestação excessiva ao projecto da Ota, Sócrates achou por bem fazer um recuo "táctico".
E porquê?
Porque o caso estava a retirar votos à candidatura de António Costa à Câmara de Lisboa. Vai daí, e aproveitando a "boleia" do PR, deliberou pôr o assunto em "banho maria" durante seis meses.
Encomendou um estudo que, não menosprezando o valor da aposta em Alcochete, irá reforçar ainda mais a opção Ota. Assim, matar-se-ão dois coelhos de u ma cajadada:
1- O PR verá coroado o seu trabalho pedagógico.
2- António Costa sairá ileso da pequena tormenta que era a sua "ligação umbilical" ao projecto-Ota.
Caro Rouxinol,
ResponderEliminarPode até ser ingenuidade, mas eu prefiro, deliberadamente, ser optimista!
Estou convicto que os resultados do estudo sobre Alcochete não deixarão margens para dúvidas. Assim como não tenho dúvidas, por intuição, do que aqui deixei postado.
Outra questão, a verdadeira questão, seria a de saber se o País precisa de um novo aeroporto, se esse teria de ser em Lisboa, e a que modelo de País corresponde esse desiderato. Essas, ficarão sem resposta, já percebi. Para mal do País que eu gostaria de construir.
Ainda assim, já fico satisfeito por as decisões, ainda que megalómanas, serem tomadas numa base de racionalidade económica, ao invés de o serem por critérios políticos invíos de consequências desastrosas para o ordenamento do País. E fico particularmente satisfeito por isso acontecer em resultado de uma pressão que, claramente neste caso, veio da sociedade civil.
Finalmente, não acredito que o maquiavelismo de Sócrates vá ao ponto de prever decisões do PSD que deitam câmaras a baixo, com 3 meses de antecedência, mesmo se acredito que é suficiente para combinar uma estratégia de apresentação de um estudo que deixa muito pouca margem de manobra aos defensores da Ota. A ver vamos...
Certo é que ainda haveremos de voltar a este assunto.
Abraços