É-me difícil escrever sobre o BCP, porque trabalhei lá, muitos amigos meus trabalham lá e fizeram no banco as suas carreiras, mas sobretudo porque o BCP foi, durante muito tempo, um exemplo de que também em Portugal era possível fazer bem. O problema é precisamente esse: foi. Depois, em resultado de uma convicção estratégica do seu líder e fundador, Jardim Gonçalves, que consistia em não acreditar na possibilidade dos bancos crescerem fora do seu mercado nacional, o BCP perdeu-se nos vícios do "sistema" à portuguesa.
Começaram a proliferar os ex-políticos administradores e a defesa dos centros de decisão nacionais. O banco precisava de crescer, mas na impossibilidade de crescer o suficiente nas suas parcerias internacionais - e depois do equívoco da Eureko (pré e pós-descalabro) - viu-se "condenado" a crescer demais em Portugal.
Naturalmente o seu financiamento internacionalizou-se. O banco não tem hoje qualquer accionista de referência.
O risco hoje é que o banco é altamento opável, como qualquer analista sabe há muito tempo e os administradores temem ainda há mais.
A única alternativa que resta ao conselho de administração é provar ser melhor do que a concorrência. Ora, isso não se tem revelado evidente desde há muito tempo. Falhou também a estratégia de disfarçar este drama com uma OPA ao BPI - felizmente para a concorrência no sistema financeiro português. Por conseguinte, só resta uma alternativa ao actual conselho de administração: melhorar os seus níveis de eficiência e de eficácia, traduzir essas melhorias em reais mais valias para os accionistas. Numa palavra, trabalhar.
É por isso que o que se passou na AG do BCP, provavelmente, não passará de uma vitória de Pirro. Felizmente, perdeu a tese da defesa dos lugares da administração, que é o único objectivo das "poison pills"; ganham os accionistas. Mas ganham sobretudo porque a provável OPA se torna cada vez mais inevitável... que ninguém se engane com os sinais de Joe Berardo; ou melhor, quem puder que faça como ele e compre algumas acções, porque a coisa deve estar para aquecer...
Mas perde também o conselho de administração, porque daqui para a frente não há mais disfarces: os accionistas querem valorizar os seus activos (e bem); ou o conselho de administração oferece a melhor estratégia ou aparecerão outros que o farão! O pior é que possivelmente serão espanhóis, mais uma vez.
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