O Rui Baptista tem um post delicioso no amor e ócio sobre as férias dos seus tempos de meninice.
Já aqui escrevi sobre isso, e como aquelas magníficas férias grandes marcaram tantas gerações.
Quer fosse do norte ou do sul, do interior ou litoral, rico ou pobre, não há rapaz ou rapariga que tenha mais de 30 anos que não sinta uma certa nostalgia ao lembrar-se desses tempos.
Já aqui falei muitas vezes da quinta onde sempre passei as férias grandes, e como isso marcou a minha vida. Mas a ida para essa quinta era antecedida de um mês a fazer praia no Homem do Leme, em Nevogilde, para quem não saiba, a Freguesia entre a Foz do Douro e Matosinhos.
A praia do Homem do Leme tem esse nome devido à estátua que existe nos jardins da Avenida de Montevideu, da autoria de Américo Gomes. Confesso que nunca tinha ouvido falar.
Sempre estive convencido, que o O Homem do Leme era da autoria de Barata Feyo, porque quem cresceu no Porto e se habituou a ver da sua autoria o D.João VI do Castelo do Queijo, a Rosália de Castro da Galiza, O Almeida Garrett da Praça, ou o Vímara Peres da Sé, acaba por achar que as estátuas mais bonitas da cidade são todas dele.
Há muitas coisas que damos como certas toda a vida e de repente damos por nós a aprender. Ainda bem.
Ora bem, fazer praia no Homem do Leme tinha as suas particularidades, pois na altura não havia praia igual no Porto.
Quando se chegava estava-se para aí um quarto de hora a cumprimentar a praia, senhoras impecáveis no seu papel de veraneantes urbanas, velhotes da alta burguesia dentro das barracas a fumar cigarrilhas, primos, amigos, e toda a gente que existia na Nevogilde dessa época, que ia desde as criadas (empregadas, para os mais susceptíveis) a tomar conta dos meninos, aos genuínos habitantes da Freguesia, filhos de antigos pescadores ou agricultores.
A praia em si nunca valeu grande coisa, ainda para mais com a quantidade indescritível de barracas que lá punham, mas era a nossa praia.
A areia, dependendo dos anos, era muitas vezes de calhaus pequenos, a água, só quem lá tomou banho pode dizer, era de tal maneira gelada que as "ervilhas" ainda estavam mirradas meia hora depois do banho.
Mas tinha uma coisa boa, as algas. Quando a maré estava vaza parecia uma sopa de couves até à rocha de que já não me lembro o nome. Nadar por esse emaranhado de puro verde não era para qualquer um, vi muitos rapazes do sul ficarem a olhar para a água por nunca terem visto tal coisa.
Ir agora à praia do Homem do Leme à procura dessas algas, é como ir a Monsanto à procura de javalis. É o que faz a merda de milhares de novos habitantes que invadiram a minha Freguesia.
Conversar…conversar…conversar…era isso que nós fazíamos, e também corridas a nadar até à tal rocha, e também micar as meninas, e também ler os primeiros livros a sério, e também lanchar pão com marmelada, e também… sei lá, muitas coisas.
Era o princípio das férias grandes…
Tal como o JM, também sinto uma grande nostalgia das férias de Verão, devendo às mesmas algumas das melhores recordações que tenho.
ResponderEliminarQuanto às algas, sempre existiram e continuam a existir nas praias da Ericeira.
Faça-nos uma visita e poderá matar as saudades.
Joaquim Gagliardini Graça
Grandes tempos! :)
ResponderEliminarQuando as "férias grandes", ainda eram "grandes"
Lembro-me de ter passado 3 "dessas bem aviadas" na Póvoa do Varzim, credo ... só mesmo de candeeia!! Aquilo era de breu até ao meio dia, não se via nada com o nevoeiro!
Depois era a água gelada, gelada não, geladíssima - ainda hoje me doem os ossos!! :))
Mas depois, havia aqueles pãezinhos doces acabados de fazer, mais a rapaziada habitual, e as algas e o cheirinho a maresia, a força da natureza.
Pode ser a pdi, mas os putos hoje em dia já não têm estas pequenas grandes alegrias.
Eram grandes tempos. Grandes tempos. Abraço.
ResponderEliminarRui B.
Caro Zé,
ResponderEliminarPosso lembrar-te que a rochas - chamavamos "as rochas" as do lado esquerdo o "Rochedo Preto" talera o número de deliciosos mexilhões que lá se podiam colher e comer em casa.
Uns mais ao fundo, apenas visíveis na maré vasa eram os Bispos.
Agora já te lembras.
Um abraço
GA
Caro GA,
ResponderEliminarTens toda a razão, os "Bispos" pois claro, quanto ao "Rochedo Preto" não me lembrava de todo.
Dos mexilhões tenho muitas saudades, assim como das percebas e caranguejos.
Obrigado pela lembrança.
(gostava de saber quem és)
Já agora, só lembrar que a estátua do Homem do Leme, de Américo Gomes, foi feita para a Exposição do Mundo Português, de 1940.
ResponderEliminarDiz-se que as feições são as do Salazar.
Abs
Caro Zé
ResponderEliminarGA = Barata - é suficiente