Tenho andado em profundas reflexões, para além de muito ocupado, sobre diversos assuntos que têm merecido alguma atenção aqui no blog. O que mais me interessa é o da regionalização/descentralização administrativa, que creio vital para o Portugal do futuro com que sonho. Lá voltarei, assim que amadureça as minhas reflexões.
O outro assunto que me traz preocupado é o do futuro do nosso CDS. Creio que a actual situação representa um desafio.
É um desafio desde logo porque o problema não faz nenhuma espécie de sentido para o eleitorado, quer para o do CDS mais em particular, quer para o eleitorado português mais em geral. Sabemos agora que há dois personagens com vontade de protagonizarem a liderança do nosso CDS. Sabemos igualmente que têm estilos profundamente diversos. Mas, tirando o que isso nos possa dizer sobre as personalidades de cada um, pouco mais sabemos sobre o assunto. Aliás, creio mesmo que nada sabemos sobre o que deveria ser essencial neste assunto: que projecto político representam para o País e que papel defendem para o CDS nesse projecto?
Como dizia um colega de jantar, num que organizei há pouco tempo sobre este tipo de questões, "o que faz falta é um ideal mobilizador". Pois eu tenho dificuldade em reconhecer o ideal que queiram representar quer Paulo Portas quer José Ribeiro e Castro. Vejo diferenças nas afirmações que fazem. Ouço diferenças na forma como o fazem. Mas não consigo compreender um ideal que representem. Não digo que não o tenham, mas afirmo que não o fazem perceber. Ora, se o ideal que eventualmente tenham não é conhecido, naturalmente não poderá ser mobilizador...
O desafio que assim se coloca ao CDS, isto é, a nós todos que somos do CDS e que o queremos ver desempenhar um papel de relevo na sociedade e na política portuguesa, é exactamente este; teremos, parece, que escolher um chefe sem sabermos qual o ideal para que nos quer mobilizar...
E não me respondam que o ideal é o que decorre dos estatutos e declaração de princípios do CDS. O que define uma política são antes demais os valores que visa prosseguir, é verdade. Mas uma política não se esgota aí. Uma política é acima de tudo uma forma de prosseguir a defesa desses valores. São os instrumentos priveligiados. São os mecanismos e procedimentos escolhidos para rentabilização desses instrumentos. São os interlocutores preferidos. São um sem número de detalhes que, agregados, constituem uma política. Não basta dizer que há tópicos novos, decorrentes de um novo estádio em que o País se encontra. Não basta defender que se pretende um partido de muitos protagonistas.
É preciso saber e dar a conhecer o que se pretende fazer. Se se for convincente, haverá adesões a esse projecto. Se houver adesões, haverá mobilização de vontades para concretizar esse programa.
O desafio que se coloca ao CDS é saber se se vai limitar a escolher o chefe, ou se pelo contrário vai exigir conhecer o ideal desse chefe, para depois o poder escolher.
Do que defendo decorre, com naturalidade, que o método da escolha do chefe não é o mais importante - tanto faz se é por directas ou por congresso (os encolhos jurídicos serão seguramente ultrapassáveis: "os homens não se fizeram para as leis, as leis é que são feitas para os homens"). Também decorre do que defendi, com naturalidade, que um congresso é um melhor instrumento para conhecer os ideais que nos queiram propor. Estes ou quaisquer outros candidatos a chefes. Disse.
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