quarta-feira, março 21, 2007

Ainda a OTA

Assisti ontem ao debate "técnico" da SIC Notícias. Foi óptimo para o jornalista Ricardo Costa, que chegou ao final cheio de conclusões definitivas: a Ota é mesmo para fazer.

Mas houve alguns chavões que eu não vi explicados e gostaria de ver.

Alguém me explica porque é que teria sido possível, não fossem os outros problemas, construir uma segunda pista na Portela e não é possível compatibilizar a Portela com Alverca? Dizem que é do alinhamento das vias de aproximação; se calhar não é muito difícil explicar o que isso quer dizer...

A Portela está esgotada, aceitando que tem de desempenhar funções de plataforma (hub); mas se a plataforma for noutro sítio, a Portela perde 46% do actual número dos seus passageiros. É metade dos actuais 12 milhões. Se esses 5,5 milhões de passageiros forem fazer as suas ligações a outro local, a Portela ganha alguns anos de vida... ou não?

Um dos intervenientes sugeriu que Rio Frio, para além do que não foi estudado, ofereceria uma melhor localização do ponto de vista do ordenamento do território e do aproveitamento de outras valências. Também deu a entender que poderia ser deslocado para Nascente. Então isso não merece ser analisado?

Porque é que o aeroporto plataforma português, uma vez que se entende que um é necessário, se tem de localizar na zona de Lisboa? A Alemanha tem o seu em Franckfurt, que nem sequer é a segunda cidade... Muitos dos argumentos dos estudos publicados pela Naer e pelo Governo, parecem sugerir que o aeroporto faria tanto mais sentido quanto mais a norte fosse localizado, por causa da capacidade acrescida de captação de tráfego na Galiza (em Espanha). Porque é que isso não é ponderado?

Porque é que a localização do aeroporto não é equacionada em simultâneo com o TGV? Eu tenho dúvidas que o país precise de TGV, a mim bastava-me o pendular a funcionar bem e entre mais pontos do país e com o exterior (que é incomparávelmente mais barato), mas se se vai avançar nesse sentido, não faria sentido que a localização do novo aeroporto ficasse o mais próximo possível das futuras linhas de TGV, até para beneficiar de eventuais sinergias?

Não sei o que ainda se poderia fazer sem prejudicar definitivamente os calendários de execução da Ota. Mas julgo que a dimensão do investimento justificava que se aprofundasse o debate e se analizassem as alternativas até onde for possível.

Já todos percebemos que a execução da Ota vai acarretar atrasos significativos, não apenas porque isso é habitual em Portugal (e até me dizem que é nos atrasos que as construtoras ganham mais dinheiro), mas sobretudo porque a complexidade técnica é enorme. Seria uma pena que daqui a uns anos nos estivessemos todos a queixar da decisão ter sido tomada sem consideração de todas as alternativas possíveis. Por exemplo, gostaria de vere especialistas de aeronáutica a debaterem a alternativa de não se fazer a Ota e de se distribuirem as ligações intercontinentais da Portela por outros aeroportos do País - a opção de múltiplas ligações ponto a ponto é defendida por muitos peritos, tanto quanto percebo, como o futuro da aviação...

Finalmente queria deixar aqui um princípio que considero essencial. Este Governo tem legitimidade para tomar a decisão. Uma decisão deste tipo, pelas suas características, só muitos anos mais tarde é que pode ser objectivamente avaliada quer como sucesso, quer como erro. A mim o que me perturba não é que a decisão seja tomada. O que inquieta é a sensação de mal explicado, de opção por não considerar alternativas e de cegueira centralista, que existe e que possa estar a prejudicar a qualidade de uma decisão que vai empenhar grande parte da capacidade de investimento do País nos próximos tempos. Valia a pena um esforço final de transparência e de ponderação.

1 comentário:

  1. A pergunta a fazer é: porque se inviabilizou a expansão da Portela?

    As construções que o cercam, literalmente,foram levantadas nos últimos 30 anos!

    Ora, ficamos ontem a saber, que o novo aeroporto se estuda há 30 anos!

    Como se vê isto é uma Democracia! Suas excelências decidem e nós pagamos!

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