Não votar é um direito de qualquer indivíduo que vive numa democracia desenvolvida. Em alguns casos, não votar pode inclusivamente ser uma forma de lançar um anátema sobre um político, uma política ou um determinado tema da agenda política. Em Portugal, país onde a democracia tende a ser uma espécie de paralisia disfarçada de movimento perpétuo, não votar tem vindo a ser uma forma de dizermos de nós a cada um de nós que somos uns medíocres. Não votamos ou porque não sabemos/não respondemos, ou porque aquilo sobre que pedem a nossa opinião não tem interesse nenhum – achamos nós. Mais de 50% de nós fica quase sempre em casa quando as eleições são para o Parlamento Europeu e mais de 50% de nós fica sempre em casa quando há um referendo. Como se o Parlamento Europeu fosse uma instituição longínqua que nada importa ou que em nada contribui para a nossa felicidade ou para a falta dela, e como se as perguntas de todos os três referendos fossem uma bizarria sem interesse. Ontem foi assim mais uma vez: decidimos mais uma vez maioritariamente ficar em casa e deixar que os outros decidam por nós, como se nós fossemos uma espécie de sub-produto social, como se fossemos personagens de uma segunda divisão da cidadania. E é isso que nós, os que não fomos votar – calma, isto é plural magestático: eu fui votar – somos: um sub produto da cidadania de uma democracia que, trinta e dois anos depois, ainda não conseguiu vencer parte substancial dos tiques corporativos do antigo regime. Uma tristeza: ontem, como várias vezes antes, não houve vencedores. Foram os vencidos que venceram.
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