Ganhe o sim ou o não parece-me que pouca coisa vai mudar. Ganhe o sim ou o não, muitos médicos vão continuar a recusar fazer abortos, as pessoas que têm posses vão continuar a fazê-los em estabelecimentos privados (se ganhar o sim também em Portugal) e os que não têm vão continuar a ter exactamente os mesmo problemas (mal tratados nos hospitais públicos e enganados por quem se aproveita da sua situação).
Por isso acho este referendo uma perda de tempo porque a questão se resolveria com bom senso. Bom senso na modificação da actual lei de modo a não criminalizar o aborto e bom senso na aplicação de medidas práticas de saúde pública que relamente protejam os mais desfavorecidos. Seria simples, daria trabalho e necessidade de maior organização no sistema de saúde, mas seria eficáz. Teriamos seguramente menos abortos, menos pessoas a recorrer a ele e, os que fossem feitos, com as necessárias condições de higiene e saúde.
Em vez disso a nossa classe política achou que este era um bom tema para referendar. Um excelente tema para que não se falem de outras questões porventura mais importantes mas onde a incompetência pública impera. qualquer que seja o resultado haverá uma excelente justificação para nada fazer de concreto ao nível do sistema de apoio social e de saúde.
É por isso que voto não. Voto não porque a mudança da lei não resolve o problema e coloca o aborto ao nível de um contraceptivo. Voto não mas penso que a actual lei deveria ser mudada de modo a garantir a descriminalização. Voto não na esperança que o Estado se sinta obrigado a tomar as necessárias medidas de saúde pública na protecção dos mais desfavorecidos.
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