Ganhou o sim. Parece-me correcto, em face do que conheço da sociedade portuguesa. Hoje em dia o valor da liberdade é dominante. Claramente, em todo o País e em todos os domínios da nossa vida colectiva. Felizmente, a consciência da ilicitude, que é um elemento essencial da existência de qualquer crime, fica assim clarificada: não existe em relação ao aborto. Portanto, não devia ser criminalizado. É o que vai passar a acontecer, atá às 10 semanas. Porém, será também uma descriminalização apenas assente na liberdade daquela a quem se quiz atribuir o direito a decidir: a mulher grávida. Infelizmente, essa liberdade, como quase todas as outras no nosso País, é concebida como uma liberdade sem responsabilidade.
Obviamente, tanto a responsabilidade como o valor da vida, sobretudo quando incómoda, são valores mais difíceis de defender e de promover. Para mim esse é o grande, verdadeiro e até único decisivo combate que me interessa travar. Como aqui já deixei claro, há várias semanas, não é por causa deste resultado deste referendo que mudo de ideias. Não concebo verdadeira liberdade sem que exista a correspondente responsabilidade.
Mas creio ainda que o maior vencedor continua a ser a abstenção. O que me confirma várias coisas sobre o estado do meu País. As pessoas preferem não ter que decidir. Maioritariamente. É pena. Aí está um combate que motiva. É preciso, é urgente e é essencial, que nós, a tão afamada sociedade civil, assumamos este desafio. Um Portugal que vale a pena será um Portugal onde vale a pena participar e decidir. Chegar lá, creio, passa por divulgar e promover valores mais centrados numa profunda crença na plenitude do ser humano, livre mas responsável.
Esperemos que a lei que aí vem tenha presente a necessidade de se ponderar devidamente a responsabilidade de quem quer ter liberdade de decidir sobre a vida de outrém. Que permita criar mecanismos que estimulem a reflexão no sentido de valorizar devidamente a decisão de por termo a uma outra vida. Só assim poderá haver verdadeira liberdade de optar.
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