quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Civilização

Já começamos a conhecer de cor os argumentos uns dos outros. Em consciência, não posso decidir senão pelo não, e recuso uma humanidade que só inclui a liberdade de um e esquece completamente o outro. Tenho receio de uma sociedade que nunca, mas nunca, fala de deveres, e que não se cansa de referir projectos de vida, decisões pessoais e de invocar liberdades. Tenho medo de uma sociedade que vira as costas aos outros, vota sim, e nunca mais pensa no problema, porque ele é resolvido longe da vista e do coração de todos nos hospitais do Estado. Tenho receio que, de fronteira em fronteira, se acabe a referendar outras vidas, quando forem economicamente pesadas ou socialmente incómodas. E claro que tenho medo que nestas palavras vá contida alguma profunda injustiça para quem sofre, mas tenho a certeza de que, com esta discussão, se reforçaram sentimentos de tolerância e de humanidade para com os outros que se irão reflectir para futuro na forma como o sistema de saúde e a justiça tratam a questão. Uma coisa é certa. É que, como diz D. José Policarpo “transformar o aborto em direito adquirido tem consequências de civilização”.

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