quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Aconselhamentos e reflexões

A divisão no seio do PS acerca da introdução do aconselhamento na nova lei do aborto mostra bem como era “por acaso” que a “despenalização” do aborto até às dez semanas estava totalmente dependente da opção ou pedido da mulher, e como também era “por acaso” que o projecto desta lei, que já estava aprovado na generalidade, não continha qualquer referência a aconselhamentos….
Apraz ver que não somos todos patologicamente desconfiados, nem sofremos de dificuldades semânticas e interpretativas graves. Mas o que será que vai acontecer ao aconselhamento perante a necessidade de consenso político para a aprovação final da lei? Parece que devemos estar preparados para tudo. Hoje já se falava de encurtamento do período de reflexão, mas não me surpreenderia muito se a exigência de aconselhamento fosse eliminada. É no mínimo curioso que não se ouça falar da abertura de centros de apoio psicológico e social nos hospitais, ou perto deles, capazes de esclarecer as mulheres em fase de aconselhamento das alternativas ao aborto, e capazes de as ajudar efectivamente, embora ao longo da campanha se tenha insistido na necessidade de promover a responsabilidade social e individual nesta matéria. A lei alemã, que valia como argumento para tudo, e que deixa associar um importante efeito dissuasor ao aconselhamento, obrigando o médico a chamar a atenção da mulher para o dever de ter a criança, passou a ser, de repente, pouco recomendável, porque convenhamos que falar de obrigações num país tão liberal como o nosso é excessivamente violento e reaccionário. Apesar de tudo, atrevia-me a perguntar se vai ser permitida a realização repetida e reincidente de abortos no SNS. Iria até mais longe neste meu atrevimento: será que se vai acautelar devidamente o cumprimento escrupuloso da lei e do dever de aconselhamento pelas clínicas privadas?

1 comentário:

  1. Eu por vezes tenho dificuldade em entender o mundo..,mas não estou a ver as mulheres a fazerem bicha para o centro de saúde.., para serem aconselhadas antes de poder fazer aborto.
    Até pode ser que assim aconteça..,mas de facto não estou a ver isso acontecer.

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