"O Estado e nós
Se os pescadores da Nazaré tivessem usado colete salva-vidas, muito provavelmente estariam todos vivos. Mesmo com os atrasos no auxílio. A responsabilidade de de boa parte daquilo que nos acontece, começa em nós próprios. Pescadores ou não, temos que começar por ser exigentes connosco, para que a exigência que devemos ter com o Estado seja eficaz e credível. Para que tenhamos autoridade para exigir ao Estado que cumpra, também ele, o seu papel - desde logo, e à cabeça, a segurança e o salvamento de pessoas em perigo.
Veja-se o caso típico das mortes na estrada. O Estado cumpre razoavelmente o seu papel, construindo auto-estradas e IPs, muitas delas sumptuárias, em todos os cantos do país. Mas nós, muitos de nós, persistimos em comportarmo-nos como selvagens, violando consciente e sistematicamente as regras. O mesmo se diga das churrascadas, do foguetório domingueiro, dos piqueniques, das beatas para o chão que acabam em incêndio. Ou da forma despropositada como usamos as urgências dos hospitais. Ou de como não separamos o lixo. São, naturalmente, comportamentos com consequências e grau de gravidade distintos, mas que assentam todos no mesma lógica: "eu já pago os meus impostos, eles já me levam quase tudo, agora que tratem do resto; que salvem, que limpem, que reciclem, que me sirvam e que acartem com as consequências dos meus actos."
É tão importante criticar severamente os responsáveis directos pelo atraso no auxílio, como salientar a irresponsabilidade dos pescadores que num dia de tempestade não se deram ao trabalho de pôr os coletes. Ao ficarmo-nos por um sonoro e histérico: "Vergonha! A culpa é do governo!", estamos a contribuir para que tudo fique na mesma. Uns mortos, outros impunes, cada um com o seu alibi."
Eduardo Nogueira Pinto no 31 da armada
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